Porque a maioria de nós desconhece a cinematografia africana, seguem dez sugestões de filmes realizados ou protagonizados por africanos ou cujo roteiro está de alguma forma ligado a África.
Touki Bouki, 1973, realizado por Djibril Diop Mambéty
“Paris, Paris”, sussurra Joséphine Baker na banda sonora. Através de um belo atalho, a canção introduz o assunto do filme, a estranha dupla atracção/repulsa que exerce a “cidade das luzes” sobre a geração africana pós-independências: atracção pela capital (as palavras), recusa da assimilação. Os dois protagonistas vivem à margem em Dakar. Ao sabor da corrente tentam reunir por todos os meios (roubos, prostituição…) o dinheiro que lhes permitirá chegar a Paris.
Moolaadé, 2014, realizado por Ousmane Sembene
Numa aldeia africana, o costume da mutilação genital feminina, uma operação dolorosa, é temida por todas garotas. Seis delas devem passar pelo ritual num determinado dia. O pavor é tanto que duas afogam-se num poço. As outras quatro buscam a proteção de Collé, uma mulher que não permitiu que a filha fosse mutilada, invocando o “moolaadé” (protecção sagrada). Mas vários homens pressionam o marido de Collé para que retire a proteção, nem que para isso ele tenha de chicoteá-la.
Cairo 678, 2010, produzido por Mohamed Diab
O filme é baseado em três tramas paralelas de três histórias reais de três mulheres egípcias. Aborda uma questão muito sensível no Egito e expõe as implicações e as circunstâncias de assédio sexual na vida dos personagens principais. O filme pinta um retrato sem concepções da sociedade egípcia a partir dos pontos de vista de três mulheres de diferentes classes sociais, vítimas de assédio sexual, unidas pela decisão de não mais permanecer em silêncio.
Drum, 2015, produzido por Zola Maseko
Drum é um filme sobre a vida de Henry Nxumalo, jornalista de investigação famoso nos anos 50 em Sophiatown, bairro símbolo da resistência cultural em Joanesburgo. Ele trabalha numa revista negra da moda, Drum, verdadeira arma de media na época. Toda uma geração de autores, críticos, músicos e jornalistas exigentes sul-africanos surgiu e se expressou nessa resistência. Henry Nxumalo arriscou a vida denunciando as condições de tratamento dos negros que viveram e trabalharam durante os anos de segregação, apesar do assédio constante por parte das autoridades. Foi o primeiro longa metragem do diretor. Originalmente, foi concebido para ser uma série de 6 episódios chamada Sophiatown Short Stories, mas por falta de orçamento, foi convertido em um filme. Com excepção dos dois protagonistas, interpretados pelos atores norte-americanos Taye Diggs e Gabriel Mann, a maior parte do elenco é formada por atores sul-africanos. O actor Lindane Nkosi faz o papel de Nelson Mandela.
Munyurangabo, 2007, produzido Lee Isaac Chung
Depois de roubar um facão num mercado em Kigali, Munyurangabo e o seu amigo Sagwa deixam a cidade numa jornada ligada ao passado. Munyurangabo quer justiça para os pais que foram mortos no genocídio e Sangwa quer visitar a casa que abandonou há anos. De duas tribos distintas, a amizade entre os dois é posta à prova quando os preocupados pais de Sangwa desaprovam Munyurangabo, alegando que “Hutis e Tutsis foram feitos para serem inimigos”. Este é o primeiro filme rodado no dialecto kinyarwanda, do Ruanda, e tem o elenco formado por actores não-profissionais.
La nuit de la vérité, 2004, produzido por Fanta Régina Nacro
Após dez anos da guerra civil entre o exército governamental dos Nayaks, liderados por “O presidente”, e o rebeldes Bonandés, liderados pelo coronel Théo, há alguns sinais de negociações de paz. Mas nem todos são a favor disso.
Omaret Yakobean, 2006, produzido por Marwan Hamed
O Yacoubian é um dos edifícios mais antigos e charmosos do centro do Cairo. Nele vive Zaki El Dessouki (Adel Imam), um playboy decadente que tenta manter a pose. Bothayna (Hend Sabri), a vizinha, é uma jovem pobre que tenta resistir às investidas do seu patrão para que possa sustentar a família. Já o jornalista Hatem (Khaled Saleh) usa o dinheiro que possui para tentar seduzir um segurança.
Tsotsi, 2006, produzido por Gavin Hood
Uma noite, após vencer uma sangrenta briga de bar, Tsotsi (Presley Chweneyagae) rouba um carro. Enquanto acelera pela noite ele ouve um barulho no banco de trás e acaba por sofrer um acidente. Na traseira do carro descobre um bebé. Sem saber o que fazer, leva-o para o gueto de Johanesburgo onde vive. Lá, convence a jovem mãe Miriam (Terry Pheto) a cuidar do “seu filho”, numa relação que logo provocará mais confrontos.
Indigènes, 2006, produzido por Rachid Bouchareb
Em 1943, 130 mil soldados originários das colónias francesas em África foram para a Europa lutar na Segunda Guerra Mundial e ajudar a libertar uma pátria-mãe na qual nunca antes haviam estado. ”Dias de Glória” conta a história de quatro desses homens, desde a sua convocação nos seus países de origem até o fim da Guerra. Vencedor do prémio de melhor actor no Festival de Cannes de 2006, numa premiação colectiva dada a cinco actores principais do filme (que interpretam os quatro soldados, além do comandante do batalhão).
Xala, 1975, Ousmane Sembene
Do cineasta senegalês Ousmane Sembene, Xala conta a história de um corrupto funcionário público, El Hadji, que casa-se com a sua terceira esposa usando fundos roubados. Quando El Hadji realiza o seu casamento, descobre que foi almaldiçoado com a impotência, maldição essa conhecida como “xala”. O contexto histórico acontece depois da conquista da independência do Senegal e há óbvios significados metafóricos para a impotência de El Hadji.