O jovem angolano Frederico Eurico, de 30 anos, residente no Brasil há dez anos, decidiu lançar-se no empreendedorismo com a “Vem Bumbar”, a primeira plataforma de empregabilidade para imigrantes africanos no Brasil.
Foi através de uma sequência de experiências “amargas”, relacionadas ao preconceito e descriminação, que Eurico decidiu agir e criar uma solução para que outros não precisassem passar pelo mesmo.
Existente desde 2022, a “Vem Bumbar” já tem cerca de mil inscritos e mais de 100 pessoas negras africanas em todo o Brasil conseguiram empregos em diversos setores através da plataforma.
Com origens no sul de Angola, pai do Huambo e mãe do Bié, Eurico nasceu e cresceu nas ruas de Viana, em Luanda. Emigrou para o Brasil, onde se formou em Redes de Computadores e possui pós-graduação em Engenharia de Redes e Telecomunicação, pela universidade Adventista de São Paulo, no Brasil.
Em entrevista à BANTUMEN, Eurico partilhou connosco a sua trajetória, os seus maiores desafios e dissabores, e apresentou-nos a fórmula que usou para superar os obstáculos que enfrentou (e ainda enfrenta) como jovem empreendedor no estrangeiro.
De acordo com Eurico, o grande o objetivo da plataforma “Vem Bumbar é reconhecer e valorizar a importância da diversidade, inclusão e desenvolvimento de profissionais imigrantes africanos negros, inserindo-os no mercado de trabalho por intermédio de treinamentos profissionais e de interculturação.
Sobre o nome da iniciativa, não poderia ter sido melhor escolhido. “Bumbar” na gíria angolana significa trabalhar.
A plataforma é resultado das dificuldades que Eurico enfrentou quando chegou ao Brasil. O idioma, a adaptação cultural, xenofobia e racismo estão no topo das adversidades que Eurico e os demais imigrantes enfrentam quando decidem ir à procura de emprego no mercado brasileiro. “Por mais que a gente fale português, ainda assim o mercado brasileiro tem preconceito com pessoas que vêm de África”, lamentou e acrescentou que é um problema que afeta qualquer imigrante africano, independentemente do seu grau de formação académica.
“Tem imigrantes aqui no Brasil que tem duas graduações, tem pós-graduação, falam duas ou mais línguas mas, pela questão de preconceito e racismo, muitos não conseguem empregos dignos ou empregos na sua área de formação. Eu passei por isso”, desabafou.
Entretanto, para quebrar esse paradigma, Eurico entende que era necessário que nascesse uma plataforma como a “Vem bumbar” para dar mais visibilidade aos imigrantes, apresentá-los e inseri-los no mercado de trabalho, embora com uma certa letargia já há algum resultado. “Graças a Deus, algumas empresas já estão a olhar para a igualdade racial e de gênero”, pontoou.
Questionado sobre qual é o seu grande propósito, sem pestanejar, Eurico respondeu: “que os imigrantes brancos de olhos azuis parem de ter mais oportunidades do que os pretos africanos”, sublinhou. “O nosso objetivo é colocar o máximo de profissionais negros no mercado de trabalho e continuar a chamar as empresas para equidade e diversidade racial e de gênero”, conclui.
