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“A inovação pode ser gerada e depois gerida”, Diogo Moeda

Diogo Moeda | DR
Diogo Moeda | DR

Nos últimos anos, Cabo Verde tem vindo a registar um desenvolvimento sustentável no que diz respeito às Tecnologias da Informação e Comunicação. Num país maioritariamente conhecido pelo turismo, torna-se quase imperativo ter em vista outras áreas que possam contribuir para o desenvolvimento do território. A estratégia até agora utilizada pelo Governo tem vindo a dar frutos e a comitiva do país que esteve presente na Web Summit é a prova viva de um trabalho ainda não terminado, mas que se tem afirmado consistente e consciente do rumo que quer seguir.

Cabo Verde foi o único país africano que esteve representado naquela que é a maior cimeira tecnológica do mundo e, no seguimento dessa presença, a BANTUMEN entrevistou Diogo Moeda, Técnico Sénior de Inovação & Novos Negócios da UNITEL+, que explicou-nos um pouco do ecossistema digital cabo-verdiano, a forma como a presença na Web Summit pode ser uma porta aberta para novos mercados e o que podemos esperar da relação Cabo Verde – Tecnologia nos próximos anos.

Licenciado em Gestão pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG – Portugal) e Pós-graduado em Empreendedorismo e Gestão de Negócios pela Universidade Jean Piaget (Cabo Verde), Diogo Moeda tem com a tecnologia e com o meio digital uma relação que não é de hoje. Foi Gestor da Business Incubation Center (BIC) e Coordenador da Rede Nacional de Incubadoras de Inovação. Atualmente acumula o cargo que tem na operadora de telecomunicações com a responsabilidade de ser Mentor de Start Ups. A sua experiência em projectos de incubação fala por si: implementou cinco incubadoras no país (Santiago, São Vicente, Santo Antão, Boa Vista e Sal) e hoje em dia é um dos rostos da estratégia de inovação da UNITEL+.

“Uma operadora não se pode limitar apenas a vender saldo”

A empresa passou por uma reestruturação recente e, ao longo dos últimos seis meses, tem vindo a apostar na criação de uma unidade de inovação e novos negócios. O objetivo é simples: identificar start ups e iniciativas vencedoras cuja génese se possa conciliar com os objetivos principais da companhia. Para Diogo, esta é uma aposta que faz todo o sentido, até porque “uma operadora não se pode limitar apenas a vender saldo”, acrescentando que a mais recente aposta da UNITEL+ não deve ser vista como uma incubadora, mas sim como um Laboratório de Inovação onde os empreendedores podem encontrar o suporte que necessitam seja ele financeiro, tecnológico ou a nível de mentoria. “A inovação pode ser gerada e depois gerida”, diz-nos fazendo um paralelo entre a inovação e a necessidade de capacitar os empreendedores para todos os passos a serem seguidos na criação e implementação de um negócio.

A forma como a UNITEL+ tem alargado a sua área de intervenção apostando em novos negócios, sobretudo no digital, foi um dos motivos pelos quais a empresa marcou presença na Web Summit.”O que estamos a fazer enquanto país tem sido muito bom”, refere Diogo, mas ao mesmo tempo reforça a necessidade de aproveitar o destaque e posicionamento que podem advir da participação de Cabo Verde para gerar riqueza. Num país que, segundo Moeda, tem poucos recursos, a aposta tem que ser no digital e a cimeira acaba por ser a oportunidade ideal para capitalizar investimentos, ver as tendências e transformar contatos em possíveis negócios com outros países ou empresas. 

O segredo para dar certo? Após o evento, fazer o follow up de todo o networking e partir da premissa que é necessário diversificar a economia.

Cabo Verde é um país que vive acima de tudo do turismo. “Somos 500 mil habitantes e recebemos cerca de 600 mil turistas por ano”, explica-nos o Técnico que acrescenta que o turismo representa mais de 20% do PIB cabo-verdiano. Esse é também um dos fatores que faz com que um grande número das start ups a emergir no país sejam voltadas para o mercado turístico. E se isso pode ser um bom indicador, porque nos revela que os empreendedores cabo-verdianos estão cientes do ecossistema que os rodeia, para Diogo abre outra questão: a adaptação. O Mentor acredita que é necessário adaptar as estruturas e mecanismos nessa vertente e procurar uma abertura que permita “sair para outros mercados”.

Não esconde que o Governo “tem feito o seu papel” e que hoje em dia a capacitação para a tecnologia e empreendedorismo são muito maiores que há uns anos. As afirmações são feitas com provas dadas: todas as escolas têm WebLabs onde os alunos podem aprender robótica e programação e tem sido feito um trabalho de promoção da tecnologia e empreendedorismo. Bons indicadores? Sim, mas para Diogo continua a ser necessário mudar o mindset. “Não conseguimos ter um inovador que não seja empreendedor, mas conseguimos ter um empreendedor que não seja inovador”, afirma esclarecendo que é necessário que os jovens sejam desde cedo capacitados e desafiados a pensar fora da caixa, pois só assim poderão corresponder às necessidades de um mercado que não só tem registado altos níveis de crescimento, mas que também se torna cada vez mais exigente.

O Governo, afirma, tem desenvolvido um bom trabalho de promoção assente numa estratégias cujos frutos já começam a ser visíveis, mas é necessário passar para a parte estrutural. Segundo Diogo é necessário criar medidas estruturais – não esconde que exigem trabalho por serem cirúrgicas – que permitam criar um contexto legal e fiscal para empresas tecnológicas. A ideia passa, nas palavras do próprio, por criar uma agenda comum onde o setor público e o setor privado agem de forma concertada, cada um ciente do seu papel. Reunidas estas condições, Diogo é peremtório ao corroborar as afirmações de Jorge Cravo, Administrador da consultora empresarial LBC, que admite que “Cabo-Verde tem tudo para ser a Singapura de África”.

A verdade é que toda a transformação digital que Cabo Verde tem vindo a sofrer ao longo dos anos tem sido merecedora de atenção e elogio por parte de alguns parceiros internacionais. Portugal é disso exemplo. O Ministro Português da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, afirma que há oportunidades “muito grandes” de Portugal e Cabo Verde virem a cooperar no digital. Quando confrontado com as afirmações, Diogo assume ver com bons olhos o reforço de uma cooperação já existente. Admite que os países têm mantido uma boa relação ao longo dos anos e que “Portugal é um país que se abriu para o mundo [a propósito de o país ter acolhido mais uma edição da Web Summit]”.

Na verdade, e aos olhos do Mentor, a parceira com Portugal poderia ir além do digital. “É necessário atrair cérebros para Cabo Verde”, admite. E desengane-se quem pensa que a afirmação menospreza a capacidade dos jovens cabo-verdianos, a questão está apenas relacionada com uma “competitividade positiva”, que Diogo considera importante, e com a necessidade de troca de conhecimento, num regime capaz de promover uma relação win-win entre jovens estudantes e empreendedores de cada um dos países. “Não existe inovação sem conhecimento”, reitera. Para Moeda é importante que as Universidades se “abram para o mundo” e que sejam dinamizadas com atividades capazes de potenciar o espírito empreendedor de professores e alunos para que futuramente se possa estender a inovação tecnológica a todos os setores.

Em jeito de conclusão, e quando questionado sobre o que podemos esperar do ecossistema digital cabo-verdiano nos próximos cinco anos, Diogo deixa claros aqueles que são os seus desejos: Cabo Verde ser considerado um pólo de inovação em África [está a ser construído um parque tecnológico que pode marcar um ponto de viragem na transformação digital do país], fazer do país um destino privilegiado para os nómadas digitais e por último, ter três ou quatro start ups cabo-verdianas a operar ao nível do continente. “Temos condições para lá chegar”, remata.

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