A Noite dos Reis é uma obra cinematográfica multidimensional de Philippe Lacôte que, a partir de uma prisão governada pelos próprios reclusos, questiona a noção de poder numa sociedade minada pela violência. O filme vai estar em antestreia nos cinemas UCI do El Corte Inglés, em Lisboa, esta terça-feira, 13, às 20h30.
O filme, uma produção conjunta entre Senegal, Canadá e França, foi apresentado em vários festivais internacionais como Sundance, Chicago, Göteborg, Roterdão, fez parte do Top 5 dos Melhores Filmes de Língua Estrangeira do National Board of Review e foi selecionado pela Academia [Óscares], no ano passado para concorrer à lista de nomeados, na categoria de Melhor Filme Internacional.
O enredo conta-nos a experiência de um jovem, detido na MACA, a maior prisão da Costa do Marfim, localizada no meio de uma floresta. Governada pelos reclusos, ali reina uma tradição aquando do nascer de uma lua vermelha. O chefe [Barbe Noire] designa um novo Roman – um contador de histórias. O jovem, que não tem outra escolha além de aceitar a nomeação, não tem o dom de contar histórias, mas há uma em particular que o assombra, a do lendário bandido Zama King, um mito urbano. O objetivo é contar a história até ao amanhecer ou perder a vida.
Além do ensaio sobre o modo de funcionamento, organização e hierarquização da prisão, que de certa forma surge em analogia a qualquer outro sistema social e político, A Noite dos Reis releva a importância central dos griots nas sociedades africanas, enquanto peça chave na transmissão de cultura, conhecimento e perpetuação da História.
A BANTUMEN esteve à conversa com o realizador Philippe Lacôte, que colocou neste filme – cujo título é inspirado numa das obras de Shakespeare – as suas impressões pessoais da MACA – onde a mãe esteve detida por razões políticas -; a luta pelo poder ancorada em qualquer sistema social e tradições africanas, a nível visual e oral.
No vídeo, Lacôte explicou-nos a importância dos griots, cujos primeiros traços na História remontam ao século XII, como fez o cruzamento entre a ficção e a realidade no ambiente e vida quotidiana na MACA e o seu ponto de vista sobre a importância do streaming na indústria cinematográfica.