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A Parentalidade Positiva e a comunidade africana

Parentalidade | Ilustração de Jassira Andrade
Parentalidade | Ilustração de Jassira Andrade

Numa conversa com uma amiga, ela disse-me que, no que diz respeito à parentalidade, a minha era muito pouco africana. Falávamos de parentalidade positiva, baseada no afeto e tendo como pilar, a dignidade da criança. Concordei rapidamente, mas este pensamento ficou a marinar-me no cérebro, levando-me a questionar:  A educação africana é, efetivamente, menos respeitosa e digna para com a criança?  

A educação que defendo e tento dar é uma educação consciente, sem palmadas, gritos e castigos. Uma educação através do exemplo, ou seja, ao invés de tentar instruir o meu filho, educo-me a mim, para que ele possa imitar o meu exemplo. Fiquei triste com a ideia de que estaria a dar uma educação divergente da minha cultura ancestral ou familiar, quando percebi que não era o caso. Sim, é verdade que a cultura africana promove uma maior rigidez nas interações entre gerações e hierarquia familiar, tendo em conta a idade, o famoso respeito pelos mais velhos, do qual, aparentemente, afastei-me. Mas já lá vamos.

Esta educação pretende dar à criança a mesma dignidade e respeito que damos a um adulto, ou seja, se eu não bato ou grito com um amigo que parta um copo, ou faça um qualquer disparate também não o farei com o meu filho, sendo certo que uma criança deveria ter direito a uma maior cota de disparates devido à sua falta de maturidade. No entanto, estas novas vertentes defendem também, e é aqui, que a comunidade africana entra e brilha, conferir autonomia às crianças, confiar nelas quando estas se sentem capazes, na sua capacidade de tomada de decisões. Acreditar na sua capacidade de se entreter, entediar, crescer e usar a sua criatividade. 

Lembram-se de quando os adultos conversavam e nós interrompíamos e rapidamente levávamos com um: “Conversa de adulto não é conversa de criança!”  E nós, sem nada para fazer, e de repente levávamos com aquele olhar que dizia: “podes acabar de repente a ir limpar a casa de banho que o tédio te abandona o corpo bem rápido” e, como por magia, surgia-nos uma qualquer brincadeira super divertida? Isso. Este é um exemplo da confiança que a nossa comunidade sempre teve de que as crianças são capazes! Capazes de fazer tarefas domésticas que a sua idade permita. Capazes de se entreter e capazes de perceber que os adultos existem para além da parentalidade. Assim como os nossos filhos não existem para se portarem bem e deixarem-nos orgulhosos. Eles vivem além de nós e do nosso ego! Eles vivem a sua própria vida e nem tudo o que fazem de errado é para nos irritar e/ou provocar. Eles existem para além de serem nossos filhos, e estão a experimentar o mundo, na tentativa erro e, se tivermos coragem, irão errar imenso. 

Voltemos ao respeito pelos mais velhos. Não vou mentir, não é fácil e a pressão é grande! Até me arrepio com as ousadias da nova geração para com os mais velhos.  “Tipo não têm medo de morrer”, costumo brincar. Mas a ideia é mesmo essa. Eu quero que o meu filho tenha respeito por mim e pelos outros, mas não pretendo alcançá-lo a todo o custo, nem que ele o faça no futuro. Quando a coisa fica mesmo tensa, repito o meu mantra: “Não quero uma criança bem-educada, quero um adulto bem formado!” E um adulto bem formado, não pode achar que a violência é a saída. 

Concluindo, estas novas correntes de pensamento, no que diz respeito à educação, são relativamente novas em Portugal e até há pouco tempo ninguém discutia se uma palmada dada a um filho poderia ser considerada violência doméstica. O que eu acho é que, se pegarmos na nossa sociedade intercultural e nas diversas formas de educar, o nosso potencial para sermos melhores educadores é enorme. Acredito acima de tudo, que pais felizes criam filhos felizes. E no que diz respeito à felicidade, bom, pelo menos nisso temos boa fama. 

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