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A porta entreaberta no mundo literário de Patissa

Livro do escritor angolano Gociante Patissa | DR
Livro do escritor angolano Gociante Patissa | DR

Ao estudar escrita e ao ler críticas literárias em revistas e jornais, sempre me questionei quanto tempo é necessário para avaliar se um livro é bom ou não; e como é que essa avaliação é feita: Qual é a escala? Quem a criou? Varia de país para país? 

Noto que a crítica atual se mostra veloz, desconectada do lado artístico e com um objetivo único: debruçar-se sobre a nova obra literária da autora x ou do autor y. Ora, se refletirmos sobre o processo de escrita de um livro, tal como outra peça de arte, o livro exige um tempo de absorção e compreensão do seu conteúdo. Exige de quem lê, uma compreensão do contexto e quiçá dos objectivos de quem o escreveu. Isso significa que uma obra literária má se torna boa porque se dedicou mais tempo a contemplá-la? Não. 

Mas, novamente, surge a questão: o que é uma obra literária má? É um livro que tem falhas técnicas, como por exemplo, linguagem rasa e erros ortográficos? Ou é um livro sem uma narrativa coesa, com personagens estáticas? Afinal, num mundo dinâmico, de vozes diversas e realidades variadas, o que faz de um livro bom?  

Para mim, a resposta é simples: uma boa estória. Um enredo convidativo, com narrativa que me faça sentir raiva, medo, tristeza, alegria, ansiedade… Que me faça viver o que aquelas personagens experienciam. 

E é por essa razão que, quando o tempo começou a apertar e me vi diante da página em branco para escrever outro artigo, ponderei muito se deveria partilhar esta coletânea de sete contos. A Última Ouvinte, de Gociante Patissa, é um mesclado de interferências e referências da vida do autor, onde predomina o umbundo numa tradução do quotidiano da população do centro e sul de Angola. Onde as “eventuais coincidências” retratadas no livro mostram-se cruas quando enquadradas na ficção. 

O autor convida quem lê a conhecer um mundo de tradição rural, amores inesperados e medo do desconhecido, retratado pelo assassinato de uma moça albina (o meu conto favorito). No entanto, a sua escrita nunca deixa as leitoras entrarem totalmente, permitindo apenas um vislumbre do que poderia ser e não foi.

Mas mesmo espreitando pela porta entreaberta, o potencial é visível. Patissa apenas deslizou ao não conseguir conciliar a emoção, o ritmo e a tensão tão característicos da escrita do conto, que quando bem trabalhados, levam ao clímax do desfecho – sem contar demasiado, mas entregando o necessário. Pois cada vez que uma estória parecia estar a começar, terminava. O foco perdeu-se nas passagens mais estáticas e, em algumas ocasiões, nas explicações exaustivas. 

Qual é a razão, então, de escrever sobre este livro? O simples facto de reconhecer o potencial de uma obra rica culturalmente que, apesar de em termos técnicos não estar no caminho de um best-seller, ainda assim, transmite a emoção e identificação necessárias para se desfrutar da sua leitura. 

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