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A Selva Mágica das Sarnadas de Ródão: nova obra literária de Amadú Dafé

O escritor guineense Amadú Dafé lançou a sua sexta obra literária, A Selva Mágica das Sarnadas de Ródão, um conto que se desenrola num mundo mágico. Editado pela Novembro, o livro é dedicado ao público infantil e juvenil, inspirado na história de duas raparigas do município de Vila Velha de Ródão (Portugal), Leonor e Joana.

Antes do A Selva Mágica das Sarnadas de Ródão, o jurista e escritor editou cinco obras nomeadamente: A Cidade que Tudo Devorou (2022), Ussu de Bissau (2019), Jasmim (2020), Magarias (2017), e uma coletânea de contos, Fora de Jogo, em edição comemorativa dos 25 anos da Editora KuSiMon (2019). 

A BANTUMEN teve a oportunidade de conversar com Dafé sobre O seu mais novo livro e os desafios de escrever para o universo  juvenil. Amadú Dafé, nasceu em Ingoré, Guiné-Bissau, e reside em Portugal há mais de dez anos. É licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e formado em Contabilidade pela Escola Nacional de Administração, membro da Associação dos Escritores da Guiné-Bissau (AEGUI) e do PEN-CLUB Guiné-Bissau. Dafé já venceu prémios literários prestigiados, como o Prémio Literário José Carlos Schwarz em 2017 e 2015 e o Prémio Literário Internacional Conto Infantil – Matilde Rosa Araújo em 2012.

A história por trás do novo livro traz a importância do cuidado com a biodiversidade, florestas e proteção do meio ambiente. 

Amadú, do que trata este livro? O que é que está por trás da sua criação? 

É importante caracterizar a obra, o livro tem caráter mágico e trata-se de uma literatura voltada ao público juvenil. O próprio título sugere que o palco de atuação das personagens acontece numa selva, numa floresta mágica, é completamente ficcional. Aquela selva é uma espécie de alegoria relativamente à necessidade de olharmos mais para a nossa biodiversidade, preservar o meio ambiente  e cuidar do nosso ecossistema. Por isso, os temas que se discute no livro e as mensagens que se passam na obra estão voltadas à ecologia. O recado nuclear do livro é a proteção do meio ambiente. Ele foi inspirado por duas raparigas, essencialmente por uma que conheço, Leonor Gonçalves, a outra não cheguei a conhecer, mas já ouvi falar dela. Fui a um encontro a convite de uma amiga no município de Vila Velha de Ródão, na freguesia de Sarnadas de Ródão, foi ali que tive o privilégio de conhecer a rapariga que inspirou-me. Conversamos imenso e ela foi-me falando duma espécie de série que estava a pensar construir com a sua melhor amiga da Escola, Joana. E aí, fomos conversando e ela começou a contar estórias de que tinham entrado num portal mágico e foram para uma selva e no meio da selva ficaram perdidas e depois encontram diferentes tipos de animais. Então, peguei essa ideia dela e construí a narrativa mágica e misteriosa à volta duma floresta e introduzi problemas com que o mundo se debate atualmente, como os problemas ambientais, necessidade de proteger a nossa biodiversidade e essencialmente despertar o público mais novo sobre esses problemas, fazer chegar-lhes a mensagem sobre a importância de cuidar e preservar o meio ambiente. Portanto, o livro serve para este propósito. 

Qual foi o maior desafio ao escrever este livro?  

O meu maior desafio foi o desdobramento para escrever e passar a mensagem para um público mais novo, porque até a data escrevia mais coisas para adultos. Aqui, a minha primeira intenção quando comecei a escrever foi fazer uma aventura para crianças, quis efetivamente escrever uma obra infantil, mas à medida que ia escrevendo percebi que era uma oportunidade para passar mensagem sobre a biodiversidade e proteção ao meio ambiente. Porque é uma mensagem que parece-me nem sempre destinada ao público infantil, às vezes é mais para jovens. Certo que uma criança ainda não é capaz de entender as implicações deste tema, por isso à medida que fui introduzindo a mensagem no livro percebi que estava a fugir um pouquinho do público que tinha em mente no início, que eram as crianças. Então, tornei o livro mais para adolescentes. O desafio maior foi conseguir moldar a linguagem para não ser complexa ou não ser demasiadamente elaborada mas ao nível de compreensão de um jovem adolescente que ainda está a lidar com certas coisas novas. Transformar e adaptar a minha ideia de adulto para adolescentes não foi nada fácil.

Qual é o sentimento que pretende despertar nos leitores com esta obra, sobretudo a camada juvenil?

Quero que eles entendam e vivam a emoção relacionada com problemas do meio ambiente, porque tomar partido e ouvir as notícias através de órgãos de comunicação social é diferente. Tenciono que levem a sério este problema e que sirva de causa para eles. A Selva Mágica, de alguma forma, mistura uma certa inocência porque são adolescentes que ainda não entendem muita coisa, mas chegam ali vivem e recebem carinho, bons tratamentos e eles tentam ajudar animais na sobrevivência, contribuem para proteger aquela floresta. E ficam ressentidas porque, supostamente, aquela floresta, outrora abundantemente povoada, agora está desaparecida por culpa dos homens. Se um jovem ao ler aquilo e conseguir sentir empatia por uma raposa que ali esteve a passar mal, consegue transformar isso numa causa de luta com um certo comprometimento. O objetivo principal é que leiam e observem a mensagem que o livro traz para que possam transformar essas mensagens na sua luta diária ou modo de ser, porque só se consegue mudar o mundo quando conseguirmos convergir nossos atos e nossas crenças. 

Como jurista e escritor que já lançou obras relacionadas ao quotidiano guineense, queríamos saber qual é seu ponto de vista quanto à mudança no cenário político da Guiné-Bissau? 

É possível uma mudança, mas o que não parece fácil de conseguir é a uniformização do cenário político consistente, criação duma política segura ou estável, isto parece-me que não é possível. Precisamente por causa de todas as complexidades, é necessário primeiro compreendermos e tirarmos ilações delas para construir um cenário político seguro. Se não há segurança o inverso tem de acontecer sempre que são as mudanças constantes, isto tem a ver com falta de compreensão das causas ou dos problemas. Agora, se as coisas vão mudar para o positivo, duvido, tenho as minhas reservas, mas o ser humano surpreende-se. Na Guiné-Bissau a governança nunca é sozinha. Sempre quem governa vem com base nos interesses instalados à sua volta, como também a uma pressão externa. Vendo que atualmente todo o mundo está com foco no conflito da Rússia e Ucrânia que se vê tipo uma espécie da guerra fria a construir-se de novo, então, tudo pode mudar. Num ponto onde as coisas mudam para outros países que têm estratégias já definidas e vão ajustando para encaixarem bem nas suas realidades, países como a Guiné-Bissau completamente desestruturados ficam à deriva. Podemos calhar com uma maré mansa que nos arraste para um bom porto ou como apanharmos uma turbulência e ficamos ainda piores daquilo que estavamos. Não auguro um bom cenário político para a Guiné nos próximos tempos, sou pessimista quanto ao sistema político guineense, mas veremos talvez haverá surpresa. 

AMADÚ DAFÉ

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