Foi há mais de um ano que a longa-metragem sobre o assassinato de Alcindo Monteiro, ocorrido há 26 anos, começou a ser rodada. A película estreia-se finalmente no próximo domingo, 24, às 19h, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge. O filme faz parte da programação do DocLisboa.
O projeto contou com o apoio da associação SOS Racismo e de uma campanha de crowdfunding para levar a cabo o projeto, que é fruto sobretudo de voluntariado.
Alcindo Monteiro era Português de ascendência cabo-verdiana, foi espancado até à morte por um grupo de skinheads na Rua Garrett, no Chiado (Lisboa). O crime perpetrado na noite de 10 de Junho de 1995, Dia de Portugal.
Miguel Dores é formado em Antropologia Visual e decidiu fazer desse homicídio o tema da sua dissertação de mestrado, que depois tornou-se no projecto de documentário, com a realização e argumento do mesmo e produção de João Afonso Vaz. “O objetivo é discutir o passado, uma memória, mas como é que essa memória se reconstrói no presente e como o presente nos obriga a falar sobre este passado”, afirmou o investigador e autor do documentário à agência Lusa.
De acordo com Miguel, a ideia era fazer um estudo audiovisual, mas foi agregando outras pessoas à produção do projeto, que depois formaram uma equipa e começaram a filmar um documentário, que não só é uma abordagem a esta noite [da morte do jovem], como tem uma análise dinâmica das disputadas racializadas em Portugal, e também das disputas políticas sobre o racismo em Portugal.
No filme, o antropólogo e a equipa tentam não se concentrar nos agressores, nem isolar o caso de Alcindo. “Fazemos uma abordagem de como é que estes gestos racistas são consubstanciados ou promovidos a partir de uma agenda institucional e estrutural”. Miguel Dores pretende mostrar, através do documentário, como vários elementos sociais se articulam entre si e como não são “gestos de normalidade social, mas de algum modo são consubstanciados por um discurso de nação”. O filme tenta direccionar para aí as atenções”.
“O documentário Alcindo não possui qualquer intenção de ser um relato persecutório centrado na violência neo-nazi. Pelo contrário, o filme procura antes de tudo ser uma homenagem àqueles que resistem e àqueles que caem, e que nessa homenagem ilustra a estruturalidade de um conflito”, conclui.
Clica aqui para comprares o teu bilhete e garantires o teu lugar no domingo, na estreia do documentário Alcindo.
Equipa BANTUMEN
A BANTUMEN é uma plataforma online em português, com conteúdos próprios, que procura refletir a atualidade da cultura negra da Lusofonia, com enfoque nos PALOP e na sua diáspora. O projecto editorial espelha a diversidade de visões e sensibilidades das populações afrodescendentes falantes do português, dando voz, criando visibilidade e representatividade.