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Ana Sofia Martins, o manifesto expresso de identidade através do cabelo

Ana Sofia Martins
Ana Sofia Martins | Fotografia : Lucia Gonçalves

Sobeja trajetória artística marca o percurso da modelo, atriz e apresentadora, Ana Sofia Martins, mulher cuja imagem de marca é o afro com o qual apresenta-se pessoalmente e nas suas várias facetas profissionais. Se foi através do trabalho que Ana Sofia começou a reconhecer valor no seu próprio cabelo, hoje, a sua coroa capilar é quase a bandeira da sua identidade e origens.

Para a BANTUMEN Podcasts, Maria Barbosa esteve à conversa com a modelo e atriz sobre cabelos, onde Ana Sofia deu a conhecer as raízes por trás do seu afro e como tem sido o seu percurso de descoberta na pele de mulher negra de identidade miscigenada.

Um processo de aceitação pode ter várias fases mas a que diz respeito à nossa imagem é uma das mais importantes. No caso de Ana Sofia Martins, ter ingressado no mundo da moda acabou por elevar esse processo de construção de identidade, iniciado na fase da adolescência, onde passou por vários episódios que a levaram a aceitar-se como é. Ao contrário do que acontecia antes, “depois da Dulce fazer-me tranças, que eu tanto adorava, sentia que não chamava atenção negativa pelo meu cabelo”, recorda a artista dessa fase menos plena e desalinhada com a sua identidade cultural.

O que outrora fora um problema, por falta de conhecimento (visto que Ana tinha dificuldade em cuidar do cabelo, tanto por falta de produtos adequados, como por falta de referências), acabou por revelar-se numa das mais valiosas, importantes e fundamentais valias na vida de Ana Sofia que, com o tempo e conhecimento, foi aprendendo a cuidar do próprio cabelo.

É pelos olhos de profissionais do meio que a artista acaba por ganhar consciência do potencial do seu cabelo afro. No mundo da moda ou representação, hoje, usar um penteado afro deixou de ser um acto de bravura ou rebeldia para ser uma opção de apresentação estética tão válida quanto qualquer outra.

Há alguns anos, mulheres e homens negros eram “obrigados” a mudar o estilo e até textura dos seus cabelos para poderem estar alinhados com os standards eurocentrados da indústria. “A Nayma Mingas foi a primeira referência em contexto profissional que eu tive, em Portugal. Na agência, foi a primeira a olhar para o meu cabelo e a reconhecer nele identidade. Ainda hoje somos grandes amigas, também por isso”, revelou Ana no podcast.

Ana Sofia participou em inúmeras campanhas publicitárias, destacando-se a da Benetton, que a catapultou para a fama, seguida de outras como MAC e Victoria’s Secret. Na sua carreira de modelo salientam-se ainda editoriais de moda para as revistas Marie Claire, Glamour ou Cosmo Girls, além de ter desfilado para os criadores de moda Narciso Rodriguez, Perry Ellis e Baby Phat. 

Ana acabou por ver no cabelo afro, imponente e cheio de presença, um cartão de visita para os trabalhos para os quais era contratada. Antes, “usava cabelo afro mas não demasiado porque não queria chocar as pessoas”, afirmou-nos.

Para alguns, esta questão poderá ser considerada como fútil ou sem importância, porém, uma aceitação desta natureza acarreta muito mais do que vaidade. Um cabelo afro é uma declaração de afirmação, é ancestralidade e conta uma história de luta, de resistência e de resiliência. No episódio, Ana revela algumas peripécias que foi enfrentando ao longo do tempo. “Na minha adolescência, recordo-me de ter um episódio em que, uma vizinha que tinha o cabelo igual ao meu, a Ana Filipa, apareceu com ele lisinho e eu quis o mesmo. Então desfrisei-o com desfrisante de criança (deu-me uma sensação nova, incrível de ver o pente deslizar através do meu cabelo) mas, quando o molhei, ele encaracolou novamente e eu nunca mais o fiz.”

Em 2015, como VJ da MTV Portugal, vimo-la no papel de apresentadora, uma vez mais, orgulhosa do seu cabelo. “Eu gostava da sensação de controlo da situação que o cabelo me dava. A minha coroa, a sua imponência foi transformando-se no meu nível de confiança em proporções semelhantes”.

Mais tarde, em 2015, a convite do Diretor da TVI, José Eduardo Moniz, Ana abraça o papel de atriz e entra na aclamada novela “Única Mulher”, como protagonista. Ao aceitar o convite, a artista e modelo tornou-se na primeira mulher negra a desempenhar o papel principal de uma telenovela em Portugal.

Além de ter revelado este percurso de crescimento pessoal e empoderamento, Ana falou ainda sobre a necessidade de valorizar-se o trabalho de cabeleireiros que tratam do cabelo africano. “Quando, por exemplo, trato do meu cabelo fora de casa, vou ao Estúdio do Tom Eduardo que é um profissional a sério, que sabe o que está a fazer e ele, inclusivamente, chega a ter livros de empoderamento e de feminismo negro. Eu acho que os cabeleireiros afro cobram pouco. Eu sei que nem todos têm o mesmo poder de compra mas é um setor que precisa ser mais valorizado. Quando vais ao negócio de um branco, pagas o que for, quando se trata do negócio de um irmão teu ainda tentas regatear e isso chateia-me. É um pouco a nossa cultura mas que tem de mudar.”

Para ouvires esta conversa na íntegra, faz playno player abaixo ou em qualquer outra plataforma popular de podcasts.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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