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Andreia Rodrigues | BANTUMEN
Andreia Rodrigues | BANTUMEN

Andreia Rodrigues leva violência de género ao epicentro da Web Summit

Este ano, a Web Summit, um dos eventos de cariz tecnológico mais proeminentes do mundo, a acontecer atualmente em Lisboa, tem como foco dar primazia à presença feminina, num meio que, maioritariamente, é dominado por elementos do sexo masculino. Num dos pavilhões da FIL há inclusivamente um espaço dedicado, Women in Tech, às empresas e produtos criados e desenvolvidos por mulheres.

E se ser mulher já é difícil dentro do mundo tecnológico, a conta tem de ser feita a multiplicar por dois (ou três) quando estamos a falar de mulheres negras. Por isso, a BANTUMEN foi à procura das empreendedoras dos PALOP a brilhar no evento internacional. Uma delas é Andreia Rodrigues, CEO africana nascida em Cabo Verde e a residir no Senegal.

Rodrigues mudou de país por questões de saúde e rapidamente apercebeu-se dos desafios e contingências próprias do novo ambiente. Com uma paixão pela inteligência artificial e comunicação, desde tenra idade, Andreia é formada em Robótica pela Universidade de Piaget e em Stanford fez a pós graduação.

Há precisamente três anos a empreendedora decidiu criar a própria empresa, a One Technology, que, além da inovação, tem como principal missão resolver um problema social não só em Cabo Verde, como a nível global: a violência de género.

Entre a correria que é a Web Summit, tirámos um tempo para passarmos pelo stand de Cabo Verde para nos sentarmos com Andreia, que explicou-nos a visão e missão da sua empresa.

Andreia, que bom termos-te connosco. Quando é que toda esta aventura no ramo empresarial começa?

Fui para o Senegal em 2014 para tratamentos médicos, acabei por me apaixonar pelo país e lá encontrei uma janela de oportunidades que não hesitei em explorar. Sou uma pessoa que detesta estar na sua zona de conforto, gosto de arriscar e de desafiar-me e estava a meio dos meus tratamentos médicos quando decidi participar no Fórum Dakar. Mesmo sem ter tido autorização médica. Fui, inclusivamente, uma das oradoras. Nesse evento, pela primeira vez deparei-me com a realidade de género na tecnologia. Eu era a única mulher presente nesse evento e cheguei a questionar isso mas não encontrei as respostas até criar a minha própria empresa.

O que sentiste ao entrar no mercado com a tua empresa sendo mulher?

Foi uma sensação muito boa ser eu a contratar, ser eu a empreender, pois, de forma geral, nós estamos habituadas a ser contratadas e não o contrário. Pelo meio, algo que foi muito claro para mim, é que este projeto deveria começar pela minha casa, África e só depois, se fizesse sentido, expandi-lo pelo mundo. Ao fim de dois, três anos, a One Technology começa a ter algum reconhecimento, depois de ter passado por vários desafios. Não podemos também deixar de analisar que o ecossistema tecnológico de ambos os países ainda está a ser construído, ainda é um caminho embrionário. 

Tens uma equipa a trabalhar contigo remotamente em cada um dos teus pontos de ação?

Tenho colaboradores no Senegal, em Cabo Verde e em Portugal e assim conseguimos atuar em três países diferentes.

Qual o teu principal contributo na tecnologia?

Eu acredito que sou uma mais valia, na vertente em que dou um lado humano à vertente business da tecnologia que é muito capitalista. É assim que nasce a Help Her. Uma App que cruza business, capitalismo e humanismo. Um dos meus maiores desejos é, um dia, constar da lista dos melhores da Forbes África e quem sabe do mundo. Não por uma questão monetária mas sim, por uma questão de impacto humanitário e revolucionário.

O que te levou a criar esta app?

Olha a ideia de criar esta app surgiu, ao fim de três anos de empresa (One Technology), pelo facto de ser muito presente em mim a necessidade de humanização da tecnologia, como referi anteriormente. Infelizmente a violência dirigida contra as mulheres ainda é uma realidade transversal a todas as sociedades e aquelas em que estou inserida, estão em primeiro lugar nas estatísticas. Pela negativa. África é o continente em que morrem mais mulheres, vítimas de todos os tipos de violência. 

Como é que achas que uma app poderá funcionar em meios, maioritariamente empobrecidos, em países que a nível de desenvolvimento humanitário, ainda têm um longo caminho a percorrer?

Fiz um estudo no Senegal, fiz várias ações sociais em zonas carenciadas e todos têm Internet, todos têm telemóvel. Em certos locais, tu compras um telemóvel por menos dinheiro do que pagas por um saco de arroz. Logo, desde o início, fiz a dissociação de que as populações mais desfavorecidas teriam menos chances acesso à tecnologia. O que se reflete também na questão das mulheres saberem usar a app.

No entanto, a Help Her é capaz de ser a aplicação mais acessível do mundo pois, até um telemóvel de 1GB tem a capacidade para a instalar.

A Help Her quer ir além do apoia à vítima de violência doméstica. Podes explicar-nos em que sentido?

Há um estudo que confirma que, a cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicidio. Vais comprar pão e tens uma grande probabilidade de ser assediada, de ser estuprada.

Um dos lemas da Help Her é que não é uma app mas um guia de segurança, um mecanismo que te protege em situações de vulnerabilidade, seja onde for (local de trabalho, no seio familiar, entre amigos) que funciona em rede, em consonância com instituições de apoio (bombeiros, polícia, instituições psicológicas, etc.). 

O problema não está em acabar com o feminicidio ou em mudar o agressor mas em antecipar todo esse processo. A Help Her, além de tudo, funciona na parte da prevenção. Tem foco no tipo de resposta rápida, eficaz, eficiente e verdadeira sem causar constrangimentos às vítimas sendo que estas podem denunciar sem terem de se deslocar fisicamente à esquadra policial. A app dá a segurança à vítima de que a sua situação será ouvida e terá uma intervenção.

Por exemplo, nos EUA, há a utilização da pulseira eletrónica que indica quando o agressor aproxima-se da vítima. É uma forma de monitorização com muito sucesso. Deste lado queremos também atuar no tempo de resposta entre o pedido de ajuda e a ajuda em si.

Há mulheres que morrem às mãos dos seus agressores cinco minutos antes da intervenção policial que poderia ter evitado estas mortes.

Que vantagens inovadoras é que a app tem?

Esta aplicação torna-se como um ficheiro individual, que contém toda a informação da vítima, desde o registo médico, grupo sanguíneo e de patologias associadas, ao local de residência ou à composição do agregado familiar. Isso é feito através de impressão digital ou de reconhecimento facial.

Uma outra ferramenta associada à app são os Angels que, são pessoas voluntárias e disponíveis em apoiar e ajudar as vítimas com uma conversa, escutando-as, fazendo companhia, ajudando a tomar decisões/a orientar, entre outras coisas.

O que te levou a participar na Web Summit?

Estou a participar nesta edição da Web Summit porque procuro investidores para o meu projeto. Procuro quem olhe para a app e veja a capacidade que ela tem de preencher a lacuna que existe nos softwares já existentes, cujos mecanismos não são incisivos. No meu Pitch, a única palavra que usei foi “funciona” porque, esta app funciona. É uma aplicação que te protege dentro de casa e dentro da comunidade. Muitas vezes, digo que tenho um projeto camaleão, que está em constante mudança – por exemplo, temos a intenção de criar um micro chip aditional care, para colocar em qualquer parte do corpo, de forma discreta, para ser accionado em caso de perigo.

Hoje em dia, nós usamos a tecnologia para nos conectarmos, de forma quase intuitiva e esta App segue a mesma faceta, pretende ser uma funcionalidade de segurança e de apoio, disponível 24h. Sabemos que a Internet, apesar de tudo é falível, portanto, disponibilizamos tmabém o apoio por sms.

É uma aplicação de fácil manuseamento que se torna adaptável nos seus diferentes países de atuação.

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