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Esta é a história da apropriação cultural da personagem Betty Boop

Vamos falar de, talvez, um dos casos mais exemplares de apropriação cultural da história moderna, a de Betty Boop e de Esther Lee Jones.

Helen Kane, cantora e atriz norte-americana, copiou o estilo infantilizado da cantora negra de jazz Esther Lee Jones, conhecido como Baby Esther, depois de a ver apresentar-se, em abril de 1928, no Everglades Club na Broadway, EUA. De acordo com o empresário Lou Walton, Baby Esther estreou-se com o seu estilo infantil, bastante peculiar, em 1928, e Kane adaptou os sons musicais que ouviu nessa apresentação e usou-os em “Poop Poop Padoop”, no musical Good Boy e em “I Wanna Be Loved By You”, uma música que a tornou famosa.

Para quem estes nomes não são tão familiares, estamos a falar da personagem cinematográfica Betty Boop.

Passamos a explicar, criada na década de 1930 por Max Fleischer, Betty Boop é um ícone que, apesar do declínio da popularidade, ainda hoje existe, sendo histórica e socialmente um dos personagens de desenhos animados mais interessantes do cinema animado. Betty Boop foi transformada em “humana” em 1932 e é amplamente reconhecida como o primeiro personagem norte-americano animado, com conotação de um símbolo sexual. 

Em maio de 1932, Helen Kane processou Max Fleischer e a Paramount Publix Corporation por criarem deliberadamente uma caricatura que explorava a sua personalidade e imagem mas as coisas não saíram como a atriz esperava. Diante de um juiz da Suprema Corte estadual de Manhattan, o ex-empresário de Baby Esther, Lou Walton, disse que ensinou Esther a mesclar as letras de scat “boo-boo-boo” e “doo-doo-doo” e usá-las nas suas apresentações na parte alta da cidade, e a verdade veio à tona. Walton acrescentou que viu as apresentações de Baby Esther com Kane antes que a cantora branca começasse a sua “booping”.

Esse estilo foi, então, inventado pela cantora de jazz negra do Harlem, Esther Lee Jones, também conhecida como Baby Esther, que na década de 1920 costumava apresentar-se em várias casas noturnas do Harlem, incluindo o famoso Cotton Club.

Assim, em 1928, a cantora de jazz branca Helen Kane adotou o estilo de canto de Jones que, além de ter plagiado, também mudou as palavras “boo-boo-boo” e “doo-doo-doo” para “boop-oop-a-doop” durante a gravação do seu single de sucesso “I Wanna Be Loved By You”, de acordo com o The New York Daily News.

Em 1932, Kane processou Max Fleischer e a empresa cinematográfica Paramount Publix Corp., alegando que estes haviam explorado a sua persona artística e afirmando que ela havia inventado a frase ‘Boop-oop-a-doop’.

Neste caso judicial, e considerando a época, a não surpresa é o facto de Esther Jones não ter processado Kane ou Max Fleischer, onde teria o ónus de provar o seu caso contra um homem ou uma mulher branca. Não esquecendo que cantores brancos têm uma longa história de apropriação da música negra ao longo do século XX, sem reconhecerem ou pagarem legalmente aos artistas afro-americanos pelos seus direitos autorais.

Apesar do julgamento, Esther Lee Jones não recebeu nenhum reconhecimento por ter iniciado um estilo que, artistas de jazz, de todo o mundo cultivam há mais de um século.

Contudo, hoje, Baby Ester, uma mulher negra, é conhecida como a “avó” de Betty Boop, uma das mulheres brancas mais conhecidas da história da animação.

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