Arquivo Mestre, nova exposição do artista plástico angolano Januário Jano, está patente na galeria JeanClaudeMaier, na cidade alemã de Frankfurt, até ao dia 14 de agosto. O certame acontece com o apoio da Fundação Stiftung Kunstfonds através do programa NeuStart Kultur.
Arquivo Mestre é a primeira exposição individual de Jano na cidade alemã e trata a construção e desconstrução de um arquivo, memória e identidade, comunicando com o público através de trabalhos em têxtil, som, vídeo, escultura e fotografia.
As obras em têxtil, como “Mponda Invertido”, são compostas por bolsos, tecidos, estampados, costuras, fios coloridos e outros, que oferece uma espécie de expansão do próprio espaço e que, sem o auxílio de uma narrativa linear mas com uma memória à medida, vai mudando de visual com uma sobreposição de outras narrativas e instalações.
Sobre os registros fotográficos, revelam os rastos de violência colonial simbolicamente através de cruzes cristãs, tendo a religião sido utilizada como o porta estandarte de um “trabalho missionário” para a colonização africana e desumanização dos povos nativos.
Na instalação, poderemos ainda observar a “Not Stolen Goods”, uma reunião de seis partes compostas por caixas de transporte e fotografias, com o intuito de mostrar objetos de Angola que foram delapidados e roubados durante a época colonial e que encontram-se atualmente expostos em museus europeus.
Estima-se que mais de 80% do património cultural de África esteja conservado em museus e coleções privadas fora do continente, o que tem levantado uma série de questões, sobretudo por parte de jovens europeus de ascendência africana, e, atualmente, uma geração de jovens europeus, descendentes de origens africanas, têm levantado questões sobre identidade cultural partilhada para lá da alienação e da cultura do domínio ocidental.
Januário Jano nasceu em Luanda no ano de 1979. Formou-se em 2020 com um Mestrado em Belas Artes na Universidade de Goldsmith em Londres. A sua prática artística multimédia vai desde a pintura, arte têxtil e performance ao som, arte vídeo e fotografia. No seu trabalho, as influências culturais pop fundem-se com as práticas tradicionais. O próprio corpo do artista é sempre central e percebido como uma ligação entre o presente e o passado. Jano vive e trabalha em Luanda, Londres e Lisboa.
Januário Jano é também um pesquisador com interesse especial pela estética e cultura dentro de um contexto social, o que faz com que actualmente o seu trabalho se concentre em estudos sobre estes campos. Januário, trabalha sobretudo em pintura, instalação, vídeo e fotografia com parâmetros que vão desde a arte tradicional à arte de rua, usando uma mistura de deferentes meios.
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Bruno Dinis
Carrego a cultura kimbundu nas minhas veias. Angolanidade está presente a cada palavra proferida por mim. Sou apologista de que a conversa pode mudar o mundo pois a guerra surgiu também de uma. O conhecimento gera libertação e libertação gera paz mental, por tanto, não seja recluso da ignorância.