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Jovens e formados, ambiciosos. O retrato dos afroempreendedores em Portugal

25 de Março de 2023
afroempreendedores Portugal

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Os fundadores afrodescendentes estão a ganhar terreno no ecossistema de startups e inovação em Portugal dominado, em larga escala, por empreendedores da demografia nacional. Apesar da falta de dados étnicos e raciais sobre este tipo de fundadores fazer com que seja difícil acompanhar esta evolução e compara-la com os empreendedores com origens portuguesas, a Djassi Africa, em parceria com o ISCTE, divulgou esta segunda-feira o primeiro retrato que nos permite compreender melhor esta realidade – o Afropeneurs. Em poucas palavras, existe talento e competências entre os fundadores negros em Portugal, tendo estes capacidades para terem sucesso na sua jornada empresarial.


Além de serem, na sua grande maioria, jovens (48% dos inquiridos tem entre os 25 e os 34 anos), três quartos (76%) do total destes empreendedores têm uma formação no ensino superior e é proficiente em duas ou mais línguas (67%).
Em termos de género, são as mulheres que dominam este setor, embora não seja por muito. Segundo os dados da Djassi Africa, 54% dos afroempreendedores em Portugal são mulheres e 46% são homens, sendo a larga maioria (84%) residente na área metropolitana de Lisboa.


Quanto à sua nacionalidade, a maior fatia (80%) é proveniente de um dos cinco países africanos PALOP. Cerca de 50% tem nacionalidade portuguesa e 19% é proveniente de outro país, como o Brasil, Gana, Nigéria ou os Estados Unidos.
A maior motivação para estes empreendedores arrancarem com os seus projetos, além da independência financeira e do desejo de concretizar um sonho, é de solucionar um problema identificado na sociedade portuguesa.


 As áreas mais exploradas por estes empreendedores, tendem a ser no setor dos media, indústria criativa, tecnologias de informação e consultoria. E, isto prende-se com o facto de serem também as áreas de formação do ensino superior mais procuradas. Esta realidade traz uma vantagem clara, reconhece a Djassi África: estão numa posição para diversificarem o setor e trazer respostas a áreas de negócio e necessidades do mercado que passariam despercebidas aos restantes empreendedores em Portugal.


À semelhança de muitos empreendedores principiantes no mundo, apenas uma pequena percentagem dos fundadores afrodescendentes (39%) dedica-se ao seu projeto full time e conta com uma equipa que, em alguns casos, chega aos cinco elementos. Os restantes não só trabalham sozinhos, como têm de optar por uma dedicação parcial ao negócio, uma vez que têm outros empregos para assegurar a sua sustentabilidade financeira. Quanto à estrutura do negócio, a maioria (65%) são startups ou negócios digitais.


Mas existem desafios que impedem o desenvolvimento deste segmento no ecossistema de startups e inovação em Portugal. Desde logo no acesso ao investimento, na angariação de clientes e na afirmação do negócio. O principal problema? A falta de representatividade.


Em Portugal, apenas 30% dos empreendedores asseguraram acesso ao financiamento, ao passo que 54% admite que alcançar o mesmo objetivo nos próximos 12 meses será uma tarefa difícil.


Perante a realidade, a confiança dos fundadores negros na capacidade de Portugal se tornar um ecossistema de inovação mais diversificado e equitativo mantém-se moderada, com 35% dos inquiridos a admitir estar confiante, e 31% a optar por se manter neutro.


Fundada em 2020, em Londres, a Djassi África é uma consultora que procura capacitar e empoderar inovadores e empreendedores africanos e afrodescendentes, procurando potenciar o desenvolvimento de ecossistemas de inovação.


Afroempreendedores em Portugal têm pouco acesso ao financiamento


Em Portugal, só 30% dos empreendimentos negros tiveram acesso a uma fonte de financiamento. Destes, uma pequena parte recebeu verbas provenientes de apoios públicos (13%), investidores privados (8%) e/ou através de capitais de risco (8%), o que significa que apenas 9% dos empreendimentos liderados por estes jovens negros recorreram aos mecanismos tradicionais de financiamento para startups, como programas ou iniciativas publicas ou privadas.


Cerca de 70% dos fundadores negros almeja angariar fundos em 2023 para avançar com a sua empresa, contudo, 54% acredita que ser financiado nos próximos 9 a 12 meses será uma tarefa difícil, segundo um inquérito divulgado esta segunda-feira pela Djassi África e pelo ISCTE – o Afropreneurs.


Naquele que é o primeiro inquérito que nos permite perceber a presença dos empreendedores negros em Portugal no ecossistema de startups ou inovação em Portugal, a consultora considera que a falta de literacia de investimento e da existência de facilitadores que façam a ponte entre os os empreendedores e os investidores, são as principais entraves no acesso às redes de investimento mais relevantes. Mas do lado do investimento, existe a percepção de que estas redes “não são suficientemente procuradas” pelos afroempreendedores. Porquê? Bem, a falta de representatividade ou interesse por este grupo de fundadores são o principal motivo.


“[Os empreendedores negros] acreditam que os grupos de investidores devem fazer muito mais para aderir aos protocolos de diversidade, expandir o seu alcance e encontrar proactivamente estes grupos subrepresentados de fundadores, alterando assim as práticas que perpetuam uma abordagem tendenciosa na distribuição do financiamento”, lê-se no inquérito da Djassi África.


Uma realidade muito pouco diferente da europeia. Segundo o State of European Tech ’22, estudo no qual é dado conta da realidade dos investidores negros e o acesso a financiamento, a nível europeu, os fundadores negros (na sua grande maioria mulheres) têm muito mais dificuldade em garantir acesso ao financiamento do que os seus pares europeus.


Na verdade, 59% dos fundadores negros inquiridos responderam que "garantir acesso ao capital" tem sido o maior desafio dos últimos 12 meses, em comparação com 41% dos fundadores brancos na Europa.


“Os números não são uma surpresa uma vez que as minorias são sempre as mais prejudicadas”, considera à BANTUMEN Clara Armand-Delille, fundadora da ThirdEyeMedia, uma agência de relações públicas estratégica que trabalha com empresas de startups e de capital de risco.

“Os números são maus, e a única forma de abordar a questão é pela raiz. Não há desculpa: em 2023, podemos e precisamos de fazer melhor", aponta a responsável.

Além disso, o inquérito revela que 40% dos negros neste setor na Europa dizem ter sido vítimas de discriminação nos últimos 12 meses. Valor que se compara com 16% para os inquiridos brancos, 9% para os inquiridos brancos do sexo masculino.

Therèse M'Boungoubaya's, fundadora da linha de cosmética KOBA, sediada em Londres, considera ao BANTUMEN que o principal motivo desta realidade passa pela “falta de representação dos negros no conjunto de ideias que chegam às carteiras dos investidores”. A CEO da KOBA, revela que nos últimos 10 anos menos de 1% do investimento de capitais de risco no Reino Unido foi destinada a empreendedores negros.


“Devemos criar mais fundos de investimento focados em empreendedores negros. Ajudaria a equilibrar a balança”, defende a responsável. Uma ideia que devia ser igualmente implementada em Portugal, defende a Djassi África.
Por cá, a avaliação revela ainda uma tendência consistente entre os fundadores negros: a baixa participação em programas de aceleração de empreendimentos. Na verdade, são poucos os empreendedores negros que se candidataram e são selecionados, o que não só poderá explicar a falta de literacia para arrancar com o projeto, mas também as baixas hipóteses destes serem bem projetos sucedidos.


Apenas 15% dos empreendimentos negros participaram nestes programas, o que contrasta com a taxa global de 40% de participação em Portugal e a nível internacional.


A importância destes programas está associada ao facto de facilitarem o acesso ao financiamento: a taxa de investimento dos empreendimentos liderados por negros que foram apoiados por programas de aceleração é superior (50%) em comparação com o total de todos os empreendimentos (30%).


A falta de disponibilidade de apoio monetário a fundadores negros é um fator crucial que deve ser abordado dentro do ecossistema das startups em Portugal, uma vez que a ausência dela impede que este segmento se desenvolva, recomenda a Djassi África.


Além disso, é um dos fatores que pesa na avaliação negativa que estes trabalhadores fazem da experiência de ser um empreendedor. Os empreendedores negros em Portugal estão menos satisfeitos com a sua experiência global. O inquérito revela que só 29% está agradado com o seu percurso até agora, valor muito abaixo em comparação com a média do país (44%).


Já os fundadores não-PALOP dizem ter uma experiência mais positiva dado terem acesso a programas de incentivos que servem para atrair fundadores e investidores internacionais, e nómadas digitais para Portugal.
O retrato desenhado pela Djassi, em parceria com o ISCTE, apesar de não ser o mais animador, deixa margem para que se possa fazer melhor nos próximos meses. Na verdade, a organização fundada por Fernando e Rudolphe Cabral, em 2020, deixa 10 recomendações a serem adotadas a médio prazo não só pelos empreendedores, mas também pelos investidores.


Além de defenderem uma maior aposta na representatividade e diversidade, o que proporcionará maiores oportunidades de crescimento para estes empreendedores, deixa sugestões ao governo e entidades públicas defendendo a necessidade de serem criados programas que potenciem este segmento no ecossistema de inovação português.


Fundada em 2020, em Londres, a Djassi África é uma consultora que procura capacitar e empoderar inovadores e empreendedores africanos e afrodescendentes, procurando potenciar o desenvolvimento de ecossistemas de inovação.

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