Anna Joyce volta a fazer história no Coliseu de Lisboa

Em 2022 Anna Joyce esgotou o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, na sua primeira grande apresentação num palco e numa das casas mais emblemáticas de Portugal. Se nos dissessem que ela iria repetir o feito, tão pouco tempo depois, será que acreditaríamos? A resposta é sim e, atrevemo-nos a escrever que, se a primeira vez foi muito bom, a segunda foi melhor ainda.

A noite foi de história na biografia da artista. Nesta segunda grande apresentação a solo em Lisboa, esgotada, a artista teve de abrir mais duas datas no país, tal foi a corrida à bilheteira. Primeiro em Cascais, no Casino Estoril, também esgotado, depois no Arena Super Bock no Porto. O Coliseu, que foi o primeiro concerto anunciado, foi o último a acontecer, neste sábado 29. É uma casa que diz muito a Anna Joyce, onde, tal como confirmou, se sente realizada e tranquila.

A mana Anna, como muitos a apelidam pela proximidade que a artista tem com o público, voltou a terras lusas para celebrar dez anos de carreira, com lotação esgotada.

A BANTUMEN chegou cedo ao Coliseu, por volta das 20 horas, uma hora e meia antes do espectáculo começar. Na rua das Portas de Santo Antão, frente ao número 96, já se encontrava uma grande movimentação de pessoas que se apressavam para serem as primeiras a entrar no espaço e as passadas iam se fazendo ao som das músicas que compõem o repertório de Anna Joyce. "E se não for pedir demais, onde quer que vás, leva-me em sinal da nossa paixão", eram alguns dos versos que se ouviam. Vestidos coloridos, uns com padrões, outros monocromáticos, cabelos afro no ar, tranças longas, homens com calças largas e camisolas floridas. É verão em Portugal e os trajes do público anunciam as boas-vindas à estação quente.

Dentro do Coliseu, apressavam-se os últimos preparativos e os lugares sentados começavam a ser preenchidos. Entretanto, as luzes apagaram-se e um rompante de gritos encheu a sala. A banda entra e ouvem-se os primeiros acordes da guitarra, a percussão das congas, o teclado do piano e a voz da vocalista secundária. Ouvimos finalmente o principal anúncio da noite: Anna Joyce ia entrar em palco, enquanto no ecrã era transmitida uma retrospectiva da carreira da artista, nos últimos dez anos.

De vestido branco, que fazia um perfeito contraste com as luzes que iluminavam o palco, Anna Joyce deu o ar da sua graça e arrancou com "Off para ti”, seguindo-se "Não Vales Nada/ Se Olhasses" e "Anna”. Este último single faz parte do álbum homónimo, lançado em 2021.

Depois de agradecer e cumprimentar o público, com um sorriso na cara, cantou "Faz Calor", tema retirado de Peça, o seu último álbum, lançado este ano. Este trabalho especificamente, como a própria disse em exclusivo à BANTUMEN, é um álbum que foi pensado como uma peça de teatro, mas "não tem como comparar [com os projetos anteriores] porque foram feitos em momentos diferentes da minha vida, e os sentimentos também foram diferentes”. Questionada se a produção das suas músicas é condicionada pelo que acredita que fará sucesso, a artista explica que é movida pela autenticidade. “Não posso adivinhar o que vai tocar ou o que vai pegar. Posso apenas fazer o meu trabalho, com excelência ou o melhor possível, e tirar dentro de mim as emoções que sinto que são importantes passar para as pessoas. O resto depois é com o público”, afirmou.

Para além de apresentar temas de Peça, álbum de dez temas que equivalem a dez atos, tal como uma peça de teatro, a artista fez uma viagem bonita entre trabalhos discográficos mais antigos, como "Reflexos”.

Músicas como "Mandem mais boca", "Pintada de Ouro", "Protagonista" ou "Também Quero", deliciaram o público, que não poupou na voz, nem nas lágrimas. Mulheres e homens ali presentes cantaram com alma, como se fizessem parte da banda de Anna Joyce.

Terminada a primeira parte do espectáculo, seguiu-se uma pequena pausa, ambientada pela música da banda Mozangola.

Com "Safazeda" Anna Joyce volta a entrar em palco e pede que a levem na música "Leva-me" sem "Medo". No meios dos vários agradecimentos que fez a toda a sua equipa, família, amigos, à Chiado e à LS Republicano, a artista agradeceu a quem lhe deu as primeiras oportunidades na música, inclusive a Anselmo Ralph que, para surpresa de todos, subiu ao palco e cantou "Curtição" e "Fim do Mundo”. Nesta última, o artista ficou sozinho em cena e cantou em uníssono com o público.

No regresso a palco, Anna Joyce entra com uma nova indumentária. Vestida de preto, numa mistura entre o figurino de Viúva Negra, filme da Marvel, com Matrix, Anna Joyce dava ares de artista de cinema, empunhando a arma que melhor sabe manobrar, a sua voz. Cantou ainda “Te Amar", "Monólogo" e "Já não Cabe", e o concerto aproximava-se do fim mas os fãs ainda pediam sem cessar músicas que o line up não tinha anunciado.

Anna Joyce concedeu-lhe os desejos. A cantora fez questão de trocar olhares com algumas pessoas do público, em forma de agradecimento pela sua presença, e disse: “Acho que é melhor ficarem de pé porque, até ao final vai ser só porrada de boa música.” Como missão dada é missão cumprida, os soldados respeitaram a ordem da Comandante em Chefe do Coliseu e continuaram a festa de pé.

Enquanto uns “riscavam” o chão com passadas e outros protagonizavam beijos apaixonados, até um pedido de casamento aconteceu quando Joyce cantava "Puro".

Chegado o derradeiro minuto do espetáculo, em lágrimas, Anna Joyce cantou "Esperei”, contagiando a emotiva plateia. Enquanto a artista abandonava o palco, o público agradecia a artista cantarolando "e se não for pedir demais, onde quer que vás, leva-me em sinal da nossa paixão, ao teu lado meu amor, amor, meu amor”.