Marcas por escrever
Contactos
BantuLoja
Pesquisa
Partilhar
X
Foi uma noite de encontros, memórias e música com raízes fundas. No sábado, 29 de março, Lisboa voltou a acolher as celebrações do 10.º aniversário da BANTUMEN com uma noite memorável no Musicbox. No centro da festa esteve Assa Matusse, a voz que atravessa oceanos e que tem feito do Mutchangana, o seu último álbum de originais, um lugar de pertença e reinvenção.
Num regresso especial a Portugal, Assa trouxe consigo Gasso Franco e Selma Uamusse. Três artistas, três gerações, três formas de traduzir Moçambique em palco. Quem guiou o público pela noite foi Magda Burity, com a energia e elegância que lhe são reconhecidas. E entre as pessoas que fizeram questão de marcar presença, destacaram-se a embaixadora de Moçambique em Portugal, Stella Novo Zeca, e Michel Grispos, presidente da Associação dos Estudantes Moçambicanos em Portugal, entre vários outros.
Antes de passar o microfone ao primeiro artista da noite, Magda deixou uma mensagem que ecoou na sala: “A BANTUMEN, mais do que um site de informação, é uma plataforma que nos une culturalmente, amorosamente, intelectualmente. Que estes três pilares sirvam para não nos afastarmos da nossa identidade.”
Com esta vibração no ar, Gasso Franco, ou, como é conhecido, o “rei da caneta”, subiu ao palco e abriu a noite com o seu êxito “O Jeito Dela”. A música que lhe valeu mais de 8 milhões de streams no Spotify e 5 milhões de visualizações no YouTube não deixou ninguém indiferente. Com presença e carisma, Franco entregou-se ao público e fechou o seu momento ao som do contagiante ngalanga de “Fala Papá”, lançado no início deste ano.
A seguir, as luzes baixaram ligeiramente. O palco foi ganhando tons amarelos, intensos, e no centro dele surgiu Assa Matusse. O público recebeu-a com palmas longas e sorrisos rasgados. Vestida com um macacão azul brilhante de lantejoulas, justo ao corpo, de mangas compridas e ombros levemente bufantes, a cantora exalava elegância e força. O cabelo, penteado em altura com o seu estilo habitual, reforçava a sua presença magnética. A iluminação, focada nela, criava um contraste dramático com o azul do fato, ampliando a sua aura em palco.
Ao som da guitarra de Djodje Almeida, Assa começou com “Mutchangana”, a faixa que dá nome ao seu álbum de 2023. A partir daí, o público foi guiado por um repertório emocional e diverso: “Menina do Bairro”, “Mata ni tayena”, “Sombeco”, “Little Girl”, “Meu Canto”, “Yingisa”, “Looking For” e “A que preço?”. Cada canção trazia consigo um pedaço de história, uma emoção, uma língua, um ritmo.
Entre batidas modernas e referências tradicionais, a artista foi costurando mundos. Cantou em português e em línguas moçambicanas, com arranjos que misturavam sons ancestrais com pulsos contemporâneos. A sua música é, acima de tudo, espelho da sua identidade múltipla, e Lisboa escutou com atenção.
A certa altura, Selma Uamusse juntou-se-lhe em palco. O reencontro trouxe uma energia cúmplice e íntima. “A primeira vez que vi a Assa foi em 2017, ainda em Moçambique. Tive a certeza de que ela iria brilhar e levar a nossa música aos grandes palcos do mundo”, partilhou Selma. O concerto ganhou nova dimensão. Juntas, Assa e Selma criaram pontes entre o afro-jazz, o pop e a música tradicional moçambicana. “Temos de voltar a juntar-nos, com uma banda grande. De preferência num anfiteatro”, prometeram.
Filha do bairro de Mavalane, em Maputo, Assa cresceu numa família musical, fortemente influenciada pelo pai. Vive em Paris desde 2020, e a capital francesa também já deixou marcas na sua estética sonora. Prova disso foi “Je suis malade déjà”, tema intimista e melancólico que abriu o caminho para o encerramento do concerto.
No final, todos os artistas regressaram ao palco para cantar “Aprendeste aonde”. O público, embora reduzido, respondeu como se a sala estivesse cheia. Vozes erguidas, mãos no ar, olhos brilhantes. Foi uma despedida em comunhão.
Mais do que um concerto, foi uma celebração de raízes, de futuro e de pertença. Assa Matusse ofereceu-nos uma noite onde a música foi linguagem, casa e abraço. E a BANTUMEN, uma vez mais, foi palco dessa travessia.
Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.
Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
Recomendações
Marcas por escrever
Contactos
BantuLoja
© BANTUMEN 2024