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Nascido e criado em Algueirão-Mem Martins, Tristany é um artista multidisciplinar que usa a música, as artes visuais e a performance para traduzir a realidade que o rodeia. O seu trabalho distingue-se pela capacidade de cruzar linguagens artísticas para contar histórias que desafiam perceções sobre identidade e território urbano. Mais do que uma expressão artística, a sua obra propõe uma reflexão sobre o papel da arte, enquanto agente de transformação social e desconstrução de conceitos preestabelecidos.
Foi essa mesma visão da arte como uma disciplina transversal que esteve na origem do Unidigrazz. Fundado em 2018 por Tristany, Onun Trigueiros, Diogo “Gazela” Carvalho, Sepher AWK e Rappepa BeDju Tempu, o coletivo nasceu com o intuito de dar voz e visibilidade a talentos emergentes do concelho de Sintra. No site oficial do Unidigrazz, lê-se: “Unidigrazz é uma consequência, uma continuação de algo [que já existe]; do trabalho dos rappers street, writers, poetas, de todas as mães”. Mais do que um grupo, trata-se de um movimento que reivindica a periferia como espaço de criação e identidade própria.
Ao longo dos anos o coletivo tem marcado presença em festivais e espaços culturais, reivindicando mudanças sociais, quer ao nível da formação cultural e social, quer ao nível da promoção de eventos. “Meia riba kalxa, na boka mundu” e "Portugal é racista", que estiveram em exibição no Festival Iminente e no MAAT, respetivamente, são disso exemplo.
Agora, com "Cidade à Volta da Cidade", Tristany reafirma o posicionamento do grupo. O projeto, que consiste numa videoinstalação que funde a tripla projeção e um conjunto de peças têxteis a que chama “bandeiras”, propõe um novo olhar sobre o território urbano. Mais do que isso, é a primeira exposição a título individual do artista. Entre os dias 22 de fevereiro e 5 de maio, a Sala de Desenho do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian foi escolhida para ser a casa de um projeto que não se limita a apresentar uma visão alternativa da cidade, mas desafia a forma como a experienciamos.
"Percorrer, ver e rever o mesmo espaço fez-me perceber que nunca o tinha conhecido como pensava que conhecia", reflete. Para ele, a cidade não é um mero cenário estático, mas uma paisagem emocional, em constante mutação, que se molda ao olhar e à vivência de quem a habita.
https://www.instagram.com/p/Cuy-h4nsELF/?img_index=1
Se "Cidade à Volta da Cidade" tivesse uma banda sonora, seria um mosaico de influências e atmosferas. Tristany tece essa paisagem sonora com referências que vão de Sons of Kemet a Phoenix RDC, num híbrido que traduz a multiplicidade de experiências e memórias urbanas.
O artista recusa a ideia de que a periferia existe à margem. "Neste trabalho, quis não associar este tipo de narrativa. Quis falar somente de algo, neste caso, um espaço, um território que, na sua ideia de existência, não necessita dos outros espaços para existir", afirma. A sua cidade não é uma extensão de um centro—é um centro em si mesma, com voz própria e identidade vincada.
Este pensamento leva-o ao conceito de "turismo na própria zona". Tristany sugere que os habitantes parem para observar e redescobrir o que sempre esteve à sua volta. "Ao vivermos o presente e o quotidiano dos sítios onde vivemos, com esta instalação, pude fazer algo que chamo de 'turismo na própria zona', onde paramos para contemplar a vida a acontecer no nosso espaço", partilha.
E se as ruas falassem? Para Tristany, elas já comunicam. "Acho que pediram para falar delas, mas elas também poderiam falar, andar e mover-se. Então, acho que elas poderiam falar por si próprias, mas acabam por falar depois, porque eu também estou ao serviço delas."
"Cidade à Volta da Cidade" vai além de ser apenas uma instalação artística. É um convite para olhar com novos olhos os territórios que habitamos. Porque, no final, a cidade não é apenas aquilo que vemos. É também tudo aquilo que imaginamos.
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