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O concerto do MCK no Musicbox não me sai da cabeça

8 de Junho de 2024
O concerto do MCK no Musicbox não me sai da cabeça
Cláudio Fernandes @al_neri__

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Há uma entrevista e uma atuação de MCK gravadas em fevereiro de 2012, na Fnac do Colombo (Portugal), aquando da apresentação do álbum "Proibido Ouvir Isto", que foi lançado em dezembro de 2011 em Angola. Estas gravações estão disponíveis no meu canal do YouTube. Nesta apresentação na Fnac, também se pode ver o Mistah Isaac a tocar violão e a fazer os coros das músicas do álbum.


Naquela altura, a minha presença aconteceu por mera curiosidade de um jornalista curioso que estava a produzir conteúdo. Não me recordo se estava a trabalhar para a Platina ou a fazer a cobertura para o Cenas Que Curto. Para os desatentos, ambos são projetos angolanos e o primeiro é a plataforma de informação mais acedida e o segundo é o blog mais popular de hip hop.


No último fim de semana, 12 anos depois e também em Lisboa, encontrava-me a produzir o concerto de apresentação de "Sementes”, o novo álbum do MCK, no Musicbox. Nunca me passou pela cabeça ou sequer pensei que um dia estaria nesta posição. Se falasse inglês, provavelmente, utilizaria uma daquelas expressões tipo "life's coincidences”. Que bela coincidência.


A discografia do MCK teve início com o álbum "Trincheira de Ideias" em 2002, seguindo-se ”Nutrição Espiritual" que foi lançado em outubro de 2006. Em 2012, estive na apresentação do "Proibido Ouvir Isto”, em Lisboa, depois saiu “Valores" em agosto de 2018 e, agora, em Lisboa, estou envolvido no lançamento do álbum "Sementes" e fiz a produção do concerto.


Desculpem-me a repetição mas é com grande prazer que informo aos leitores da BANTUMEN e aos quatro cantos do mundo que eu, Eddie Pipocas, estou diretamente envolvido no lançamento e na promoção do novo álbum "Sementes" do MCK.


Embora já conheça o MCK há algum tempo, a recomendação para trabalhar no lançamento deste álbum veio por parte do nosso amigo comum Kalaf Epalanga. Com o álbum pronto, Katro precisava passar a mensagem deste álbum para o público-alvo angolano e todos aqueles que desfrutam da cultura angolana.


Feliz ou infelizmente, como tudo de bom e de mau que acontece em Angola, é difícil chamar a atenção ou passar uma mensagem a partir de Angola.


Pela primeira vez na sua carreira de mais de 20 anos, Portugal foi o palco escolhido para o lançamento do novo álbum do rapper, que traz no seu discurso uma mensagem crítica à má governação e à corrupção.


Com os primeiros três álbuns lançados durante a governação do ex-presidente José Eduardo dos Santos e os dois últimos durante a governação do atual presidente João Lourenço, são 20 anos a usar a sua música para combater a desigualdade social e a pobreza.


O álbum "Sementes" chegou às plataformas no dia 31 de maio com 11 faixas e conta com participações de Eliene Menezes, Sidjay, Lurhany, Loromance, Tio Hossi, Dino Ferraz, Ronin, Rezo Luto e Olinda Simeão.


Em Portugal, Katro foi recebido pelos principais meios de comunicação e propício à disseminação da mensagem do rapper. No jornal Público, o jornalista Pedro Rios, editor do Ípsilon, descreveu o álbum como "um brinde à competência". Ricardo Farinha, autor do livro "Hip Hop Tuga: 40 anos de RAP em Portugal", descreveu no site Rimas e Batidas que o "álbum Sementes mostra como pequenos gestos podem alterar toda uma realidade".


MCK continua a trabalhar para o povo angolano, levando as reivindicações e dando voz aos que votam e esperam há mais de 49 anos por uma Angola independente e melhor.


Sete dias depois de lançado nas plataformas de streaming, Diarabi regressou a uma das casas mais emblemáticas da capital portuguesa, onde já tinha atuado, em setembro de 2015. Na altura, apresentou o álbum "Proibido Ouvir Isto”, com a participação de Bonga e, um ano depois, lá voltou na companhia de Luaty Beirão para as comemorações dos 10 anos do MusicBox.


Para a apresentação desta sexta-feira, 7 de junho, K contou com Gilmário Vemba, Bia Ferreira, KD One Seven e Valete, num concerto que começou às 22h de Lisboa, com as portas abertas desde as 21h30 ao som de DJ Camboja Selecta.


Às 22h, o rapper de 27 anos KD One Seven, que já entrevistámos aqui na BANTUMEN, subiu ao palcos para cantar "Tocar", "Pergaminho" e um Freestyle que deixou o rapper claramente nervoso. Afinal, foram muitas experiências ao mesmo tempo, como partilhar o mesmo palco que grandes nomes do hip-hop em português e o facto de ser a sua estreia no Musicbox.


Seguiu-se a brasileira Bia Ferreira, que como rapper não deve nada a ninguém. Aproveitamos um intervalo da digressão que está a fazer pela Europa para que pudesse fazer parte deste concerto especial. Bia Ferreira começou a sua apresentação com a faixa "Mapa da Fome", "Necropolítica" e terminou com "A Conta Vai Chegar", todas as faixas extraídas do álbum “Faminta”.

Com o MusicBox já bem composto, maioritariamente por um público angolano e que já conhece bem a discografia de MC Katrogi, o rapper subiu ao palco por volta das 22h30 com o single "Associação de Malfeitores”, do álbum "Valores".



Acompanhado de Mistah Isaac, nos coros e a comandar as guitarras para as faixas mais acústicas, K desfilou com "Angola Sorri de Novo", "Mercados Aéreos", "Vida no Avesso", "País do Pai Banana" e "Eu Sou Angola".


Já com o público conquistado, entre os que viviam a nostalgia e a contestação, palavra de ordem para uma Angola melhor, o rapper chamou Gilmário Vemba para cantar "Um Brinde à Incompetência".


Créditos: Cláudio Fernandes @al_neri__

Durante a promoção do concerto, o humorista prometeu que traria o seu persona MC Esquecido mas acabou por brindar-nos com a excelência do seu stand-up. Fez várias conexões, lembrou a famosa "Roleta Russa”, de Valete, lançada em 2006, e questionou “em Angola, quem seria resistente a uma Vanessa?”. Deixou no palco várias comparações entre Angola e Portugal e terminou explicando ao público presente por que a consciência do ativismo chegou primeiro a MCK e só depois a ele próprio. Afinal, Gilmário cresceu no Sambizanga, uma zona onde a pobreza era a única tónica de vida e MCK cresceu no Prenda, onde de um lado havia carros de luxo a estacionar na entrada dos casarões e do outro havia pobreza. Ora, todos sabemos que só nos damos conta da desigualdade quando temos métricas de comparação.


K prosseguiu com o concerto, prestando homenagem ao falecido Azagaia com a música "País do Medo", que interpreta juntamente com Valete. Apesar de o rapper estar presente, este ainda não estava preparado para subir ao palco e rimar com MCK. Na primeira fila da plateia, estava a jornalista Magda Burity, emocionada com a homenagem ao seu amigo e conterrâneo moçambicano.

Finalmente, Valete subiu ao palco com a faixa "Canal 115" do álbum "Serviço Público" lançado em 2016. O MC conquistou o espaço em segundos...


115 cospe fogo, MCs não têm estofo

P'ra sentar neste trono,

Esse teu rap bro' ainda é muito pouco,

115 cospe fogo, MCs não têm estofo

P'ra sentar neste trono,

Esse teu rap bro' ainda é muito pouco,

Sente é o 115 vá 115 flow,

A gente faz isto é só por amor,

Valete Bónus e Adamastor,

é o 115 vá 115 show,

Sente é o 115 vá 115 flow,

A gente faz isto é só por amor,

Valete Bónus e Adamastor,

é o 115 vá 115 show


A prestação de Valete durou cerca de 10 minutos e terminou com "Rap Consciente". Ao sair do palco, convidou os presentes para a 2ª edição do Tributo a Azagaia - Povo no Poder, que vai acontecer no dia 28 de junho na Casa Independente, em Lisboa. O concerto presta homenagem à vida e obra do músico e pensador moçambicano Azagaia, pautada pela luta pelos direitos universais da dignidade humana, pela resistência e solidariedade, acrescidas por uma construção lírica que reúne consenso no panorama musical internacional.


O concerto prosseguiu com "Atrás do Prejuízo", "Por Detrás do Pano", Bia Ferreira voltou a subir ao palco para cantar juntamente com MCK "Rap Crespo”, com o célebre sample de Rui Mingas "Negra (Carapinha Dura)", deixando a casa rendida ao ver a capacidade da artista e rapper brasileira tanto no coro como nas barras. Para “terminar, seguiram-se ainda “Meu Nome é África", "Pobreza Reproduzida" e "A Corrupção Venceu”. Estes dois últimos, foram os singles de estreia de Sementes”.


Apenas quem ali esteve no MusicBox vai saber descrever oq ue aconteceu. Há sentimentos e sensações que não se explicam. É com muita emoção que posso adicionar ao meu currículo que trabalhei no lançamento da quinta obra discográfica de um dos rappers mais consistentes do universo hip hop em português, que não se curva às demandas dos likes. Ele escolhe ser um mensageiro contra o sistema que não trabalha a favor do povo, resistindo nessa missão de contar o que o povo sente e as histórias de quem luta contra a promiscuidade entre a riqueza e a pobreza em Angola.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

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