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Ana Rosa é uma jovem guineense que está a dar novas cores e formas ao crochê, a transformar essa arte manual em peças de moda que estão a ganhar cada vez mais destaque no mercado da indústria fashion.
O seu percurso no mundo do crochê começou de forma curiosa, quando tinha apenas oito anos. Durante uma visita à casa da avó, em plena época de férias, Ana foi apresentada à técnica por uma das suas tias. Mas o método não era o que ela esperava.
“Pensámos que íamos aprender com agulhas de crochê normais, mas a minha tia decidiu fazer diferente: pegou numa vassoura e usou-a como agulha improvisada", recorda Ana Rosa, divertida. Foi assim que deu os primeiros pontos na arte que, anos mais tarde, se tornaria o pilar do seu próprio negócio.
Como muitas crianças, Ana deixou o crochê de lado à medida que foi crescendo e se concentrou nos estudos. A pausa durou anos, até que, durante a pandemia de COVID-19, ao organizar os seus pertences, encontrou uma agulha de crochê antiga e decidiu dar uma nova chance à prática.
"Senti que precisava fazer mais coisas porque antes só fazia pequenas peças de cozinha, por isso recorri ao YouTube para rever as técnicas e aprender novas coisas. No mesmo dia, consegui fazer uma blusa", conta. Essa redescoberta trouxe de volta a paixão pelo crochê, e foi então que Ana começou a considerar levar a arte mais a sério.
Encantada com as suas próprias criações, foi encorajada por amigas a começar a fazer mais peças e começou a vendê-las online. E assim começou o seu caminho no empreededorismo. Ana criou uma página nas redes sociais com a ajuda de uma amiga e passou a divulgar o seu trabalho, onde ela mesma servia de modelo para as suas criações. Inicialmente, Ana dedicava-se à produção de peças prontas, mantendo um pequeno estoque para atender os pedidos, mas rapidamente percebeu que essa abordagem trazia alguns riscos. “Às vezes, as pessoas não gostavam das cores, ou dos modelos e tamanhos que eu escolhia para o estoque. Por isso, decidi trabalhar com encomendas personalizadas, garantindo que cada peça fosse feita sob medida e ao gosto de cada cliente.”
O negócio foi crescendo, mas não sem desafios. Ana Rosa enfrentou dificuldades com clientes que faziam encomendas e depois não pagavam. “Fui muito burlada no início. Isso fez-me adotar uma nova política: agora, só começo a trabalhar depois de receber 50% do valor adiantado", revela, consciente dos riscos que um pequeno empreendedor corre ao começar um negócio próprio.
Outro obstáculo que Ana tinha de superar diariamente era o custo elevado dos materiais na Guiné-Bissau. A jovem explica que as lãs disponíveis localmente são caras e nem sempre de boa qualidade, o que afeta o preço final das peças. “As pessoas por vezes reclamam dos preços, mas o custo do material na Guiné é elevado e muitas vezes não conseguiamos encontrar boas opções no mercado local.”
📸 DR
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Ainda assim, Ana Rosa tem conseguido conquistar o seu espaço no mercado e na diáspora, sobretudo em Portugal, onde vive atualmente. Um dos pontos altos da sua carreira foi quando a cantora cabo-verdiana Soraia Ramos vestiu uma das suas criações. “Foi incrível receber o feedback positivo dela. Logo depois, começaram a chover pedidos de clientes a perguntar por peças semelhantes", relembra com orgulho.
Além de Soraia Ramos, outras figuras públicas como a cantora Yasmine e a influenciadora digital Olaj Arel também se renderam às criações de Ana Rosa.
Até ao momento, Ana Rosa já lançou três coleções, sendo a mais recente intitulada "Shine". Esta coleção destaca-se por misturar o crochê com tecidos tradicionais da Guiné-Bissau, como o pano de pente, resultando numa fusão entre o artesanal e o cultural. Além disso, esta nova coleção é unissex, algo que Ana introduziu para atender também à crescente demanda do público masculino. “Recebi muitas reclamações de que só fazia peças para mulheres. Então, nesta coleção, fiz questão de criar opções para todos”, explica.
Apesar do sucesso, a jovem ainda enfrenta alguns desafios na organização de workshops e palestras para ensinar o crochê. “Já tentei organizar alguns eventos, mas a adesão foi baixa. No entanto, continuo disponível para ajudar quem quiser aprender, especialmente as novas páginas que estão a surgir e que, como eu, precisam de algum apoio.”
Ana Rosa não esconde a sua ambição. Dividindo o tempo entre o crochê e os estudos universitários, a jovem empreendedora tem planos de continuar a expandir o seu negócio e contribuir para a valorização das artes manuais na Guiné-Bissau. “O crochê exige muita paciência e dedicação, mas quando feito com paixão, pode ser transformador. Espero que mais pessoas vejam o potencial desta arte e que, juntas, possamos elevar o artesanato guineense”, conclui.
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