Cynthia Perez, dos livros para a música, uma rapper em construção

Cynthia Perez, um nome que já ressoava nos círculos literários e fotográficos angolanos, está agora a traçar um novo caminho no panorama musical. Com o lançamento do seu primeiro single "Um Corpo Só", uma obra que já está a captar a atenção do público, Cynthia concretiza um sonho antigo, mas também abre uma nova página na sua multifacetada carreira artística. Na conversa com a BANTUMEN, a artista fala sobre como foi parar à música, a concepção do single e as expectativas para o futuro.

Conhecida pelos seus livros "Música do Coração" e "Kambuta Grande", Cynthia Perez sempre manteve uma ligação íntima com a música. Apesar de ter iniciado a sua carreira como escritora e fotógrafa, a música era um sonho que acalentava desde a adolescência. Na entrevista, Cynthia revela que, aos 14 anos, já sabia que queria ser cantora. Inspirada por artistas como a norte-americana Britney Spears, começou a escrever as suas próprias músicas, acreditando ingenuamente que poderia, sozinha, criar o seu universo musical.

Contudo, o perfeccionismo e as exigências da vida desviaram-na desse caminho durante muitos anos. "Foram anos a tentar ganhar coragem para me desprender de muitas coisas", admite Cynthia. O medo de não corresponder às suas próprias expectativas e a pressão para alcançar a perfeição atrasaram o início da sua carreira musical. Mas, como ela própria afirma, "nunca é tarde demais". Foi preciso chegar a um ponto de saturação, onde sentiu que já não aguentava viver uma vida que não refletia a sua essência, para finalmente dar o salto para a música.

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O lançamento de "Um Corpo Só" foi apenas o culminar de um sonho, mas também o resultado de uma formação específica que Cynthia decidiu fazer em 2023. Ao inscrever-se no curso de Criação Musical na World Academy, em Lisboa, ela começou a explorar novas formas de expressão artística. "Fiz uma formação para entrar no mundo da música", explica. Através deste curso, Cynthia teve a oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos sobre produção musical, um passo crucial para concretizar o seu primeiro projeto.

A faixa "Um Corpo Só" é uma fusão de eras e géneros, refletindo a vasta experiência cultural de Cynthia, que viveu em sete países diferentes ao longo da sua vida. A música combina a batida Boom Bap - subgénero do RAP típico dos anos 90 - com um sample da icónica "Balumukeno" de Bonga. "A primeira coisa que me ocorreu e que eu tinha certeza de que ia fazer era usar um sample de Bonga", revela Cynthia, destacando a importância de honrar as suas raízes africanas enquanto explora novos horizontes.

A escolha do tema também foi cuidadosamente ponderada. Cynthia passou semanas a refletir sobre o que escrever, até que encontrou um texto antigo, intitulado "Um Corpo Só", que tinha começado a escrever em 2021. "Achei que fazia sentido, que se enquadrava", diz. A letra da música aborda a importância de honrar as nossas origens enquanto buscamos o nosso próprio caminho, uma mensagem profunda que ressoa com as experiências de vida da artista.

Outro elemento-chave do single foi a colaboração com o cantor angolano Gary Sinedima. Cynthia revela que inicialmente tentou gravar o refrão sozinha, mas sentiu que "faltava ali alguma alma". Foi então que pensou em Gary, um amigo próximo com quem já tinha uma boa relação. A colaboração fluiu naturalmente, e em estúdio tudo correu de forma suave e eficiente. "Foi super fácil", recorda Cynthia. Gary gravou a sua parte em apenas duas horas, o que demonstra a sintonia entre os dois artistas e a solidez do projeto.

Wilds Gomes, Cynthia Perez e Eddie Pipocas | 📸 @Celestino Bastos/BANTUMEN