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Perito em observar o ambiente que o rodeia e capaz de compreender as suas falhas, o empreender Délcio Machado pegou na simplicidade angolana e está a tentar transformá-la. Como? Através de um olhar cuidado sobre as matérias-primas nacionais. Nesta entrevista, poderás perceber como é que a D&WOOD se está a transformar, aos poucos, num marco do crescimento da indústria angolana.
Délcio Machado é uma referência no setor de mobiliário em Angola, reconhecido pela sua visão inovadora e espírito empreendedor. Após destacar-se no Serviço Nacional das Alfândegas, fundou a NEWBE – Indústria de Mobiliário, que foi premiada com o Leão de Ouro na 36ª edição da FILDA, afirmando-se como líder na indústria de mobiliário no país. Em 2021, lançou a D&WOOD, SA, uma empresa que rapidamente se destacou no mercado angolano pela qualidade superior dos seus produtos, graças ao investimento em máquinas de última geração. Embora atualmente opere exclusivamente em Angola, a D&WOOD já conta com parcerias internacionais que auxiliam na constante melhoria dos seus processos e produtos, preparando-se para uma futura internacionalização.
Além do sucesso empresarial, Délcio é Vice-Presidente do Conselho de Disciplina da Federação Angolana de Golfe, promovendo o desporto e iniciativas para torná-lo acessível às novas gerações.
Comprometido com a inovação, a formação técnica e o apoio a jovens criadores, Délcio lidera ainda projetos que unem funcionalidade, design e sustentabilidade, almejando posicionar Angola como um emergente player global no setor de mobiliário.
De que forma é que percebeste que a tua ideia se poderia tornar num negócio?
Criei este negócio porque acredito na força da criação, no valor da transformação e no potencial que temos, como africanos, de gerar impacto a partir dos nossos recursos, talentos e cultura. A D&WOOD nasceu de um sonho de materializar projetos em realidade, mas, acima de tudo, de celebrar a riqueza das nossas raízes e o engenho humano que existe em Angola. Quis criar algo que fosse mais do que um negócio — um legado, uma contribuição para o futuro do país e para a valorização do que é nosso.
Empreender não é fácil. Ao longo desta jornada, quais é que são os principais desafios?
Os desafios que enfrento estão profundamente enraizados na realidade do nosso ecossistema. Destaco a falta de infraestrutura adequada, as dificuldades no acesso a materiais de qualidade e a carência de capacitação técnica em várias áreas. Contudo, o mais desafiador é a falta de credibilidade que, por vezes, nós, angolanos, não reconhecemos uns nos outros. Além disso, há uma percepção generalizada de que o que vem de fora é sempre superior. Este é um obstáculo que transcende o mercado e toca na nossa mentalidade coletiva. Provar que o "Feito em Angola" é sinónimo de excelência e qualidade tem sido tanto um desafio quanto uma motivação. Acredito que, com resiliência e compromisso, podemos não só superar estas barreiras como também transformar a forma como o mundo enxerga a produção local.
O que é que te motivou a continuar independentemente do crescimento que a D&WOOD estava a ter?
O que me motiva é a visão de um futuro melhor — para mim, para a minha família e para o meu país. Quando penso na Angola que desejo construir e deixar para as minhas filhas, encontro forças para seguir em frente. Cada sorriso de um cliente satisfeito, cada colaborador que cresce e se transforma, e cada produto que carrega a nossa marca são lembretes de que vale a pena continuar. A resiliência do povo angolano, a sua força diante das adversidades, inspira-me profundamente. Saber que o meu trabalho contribui, ainda que de forma modesta, para elevar o orgulho do que é nosso dá-me a certeza de que estou no caminho certo. É essa fé no potencial da nossa terra e das nossas pessoas que me impulsionam todos os dias.
DR
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Acredito que tenhas tido várias questões ou mesmo hesitações neste processo. O que é que sentes que podia ter acelerado o teu crescimento?
Acredito que o acesso antecipado a uma rede sólida de mentores e parceiros estratégicos teria sido crucial para acelerar o meu crescimento. Ter alguém com experiência, que já percorreu o caminho e pode orientar-nos, faz uma diferença imensa, especialmente no início da jornada. Além disso, mais incentivos governamentais ao empreendedorismo local, como financiamentos acessíveis, políticas de apoio a pequenas empresas e iniciativas de formação técnica, teriam dado maior tração ao meu percurso. No entanto, reconheço que os desafios que enfrentei também foram mestres valiosos. Cada obstáculo superado trouxe lições únicas e moldou-me como empreendedor. Às vezes, é na dureza do caminho que encontramos a força e a criatividade para inovar e avançar. Portanto, embora tenha consciência de que alguns recursos poderiam ter acelerado a trajetória, valorizo profundamente tudo o que aprendi ao longo dela.
Que ferramentas é que foram mais úteis para criar o negócio?
As ferramentas mais úteis para construir o meu negócio foram uma combinação de tecnologia, conhecimento e relacionamentos humanos. Do lado tecnológico, as máquinas e os softwares de design desempenharam um papel fundamental ao transformar ideias em produtos concretos, enquanto as plataformas de gestão tornaram as operações mais organizadas, eficientes e fáceis de acompanhar. Contudo, o verdadeiro motor do crescimento foram as ferramentas humanas. O diálogo aberto, a troca de ideias construtiva e a capacidade de escutar profundamente as necessidades e sugestões dos outros criaram uma base sólida. Construir relações genuínas e de confiança com colaboradores, clientes e parceiros foi o pilar central. Sem essas conexões humanas, nenhuma tecnologia ou sistema, por mais avançado que fosse, teria sido suficiente para levar o negócio ao nível que alcançámos.
Que falha é que identificaste no ecossistema que te levou a empreender?
Identifiquei uma desconexão entre o enorme potencial que temos como país e a forma limitada como ele é aproveitado. Angola é rica em recursos naturais, mas há um vazio na transformação desses recursos em produtos de alto valor acrescentado. Isso, por si só, foi um chamado para agir. Mas há outra realidade que, diariamente, me desafia e, ao mesmo tempo, me entristece: o setor do mobiliário em Angola está amplamente dominado pelas comunidades Ismaelita, Portuguesa e Brasileira. Essa realidade fez-me refletir sobre as oportunidades que não chegam aos angolanos e sobre a necessidade de provar que, com as mesmas condições, somos tão bons ou até melhores do que qualquer um. Resolvi ser um outsider neste setor, mostrando à classe governamental e à sociedade em geral que os filhos desta terra, com visão, dedicação e acesso a ferramentas certas, podem liderar, inovar e competir a nível global. Este é o meu compromisso, uma luta não apenas por um negócio, mas pelo reconhecimento do talento e da capacidade local.
E qual é que foi o erro é que cometeste que te fez crescer?
Um dos maiores erros que cometi foi acreditar, no início, que poderia abraçar tudo sozinho, achando que o sucesso dependia exclusivamente do meu esforço individual. Esse erro levou-me a momentos de exaustão e atrasos no crescimento, mas também trouxe uma das lições mais valiosas da minha jornada: ninguém constrói nada significativo sozinho. Percebi que uma equipa forte é o alicerce de qualquer empreendimento de sucesso. Aprendi a confiar nos outros, a delegar responsabilidades e, mais importante, a valorizar o talento único que cada pessoa traz. Essa mudança não só me fez crescer como líder, mas também transformou o meu negócio, tornando-o mais eficiente, colaborativo e preparado para enfrentar os desafios. O erro ensinoume que o verdadeiro crescimento está na união e na força colectiva.
Como é que prevês o teu crescimento nos próximos cinco anos?
Prevejo um crescimento que seja não apenas quantitativo, mas profundamente significativo e alinhado aos valores que sempre nos guiaram. Quero que a D&Wood continue a expandir-se, tornando-se uma referência em Angola e além-fronteiras, enquanto mantemos o compromisso inabalável com a qualidade, a sustentabilidade e o impacto social. Nos próximos cinco anos, visualizo a consolidação de parcerias estratégicas que ampliem a nossa influência, bem como uma aposta contínua na inovação — desde processos de produção mais eficientes até a criação de produtos que reflitam o espírito angolano. Mais do que isso, desejo que esse crescimento sirva como inspiração para outros africanos acreditarem na força das suas ideias, mostrando que é possível construir algo grandioso a partir das nossas raízes. Este caminho não será apenas sobre expansão, mas sobre criar oportunidades, impactar vidas e contribuir para um futuro mais próspero e sustentável para Angola e para o continente.
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