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DJ Danifox, nascido Daniel Veiga, na Amadora (arredores de Lisboa, Portugal), filho de pais angolanos, cresceu rodeado pela riqueza musical da sua herança. O semba, kizomba e zouk, presentes nas festas e encontros familiares, desempenharam um papel crucial na sua infância e ajudaram a moldar o caminho para a sua futura carreira como DJ e produtor musical. No entanto, a vida deu uma reviravolta significativa em 2014, quando, por razões financeiras, ele e a família mudaram-se para Leeds, no Reino Unido. Esse período marcou o início da sua jornada mais séria na música. Tudo começou com a utilização do FL Studio para criar batidas e explorar técnicas de DJing em controladores, inicialmente focado em sonoridades mais comerciais de Afro-house, antes de encontrar o seu estilo único.
Na entrevista concedida à BANTUMEN, DJ Danifox relembra essa trajetória com clareza. “Foi em Leeds que comecei a produzir, mas foi em Lisboa que o desejo pela música nasceu,” conta, referindo-se à influência dos amigos DJs e produtores de Monte Abraão - também na linha de Sintra -, como Maboco, Lil Kox e Sir Fox. Apesar da mudança para o Reino Unido, Portugal permaneceu uma referência importante para o DJ, com o início da sua carreira a ser influenciado por colegas que já estavam imersos na cena musical de Lisboa.
A música de Danifox não se encaixa em categorias simples. O artista é conhecido por fundir kuduro com batida [género criado nos subúrbios lisboetas que mistura a música house e sonoridades tradicionais africanas] e tarraxo, estilos que refletem tanto a cultura angolana como a afro-portuguesa. "Eu defino o meu som como música electrónica africana", explica. O que diferencia a batida, segundo ele, é a ausência de vocais e o foco na percussão. "Temos uma forte tradição percussiva em Angola, e isso está na base da batida, que muitos associam ao kuduro, mas sem vocal", descreve, acrescentando que também procura inspirações no semba e noutras tradições musicais africanas, baixando o BPM e criando camadas rítmicas para inovar continuamente.
"Estar numa label ajuda, mas não podes depender só disso"
DJ Danifox
Durante a entrevista, Danifox fala sobre a evolução do seu estilo musical ao longo de uma década. "Eu não comecei exactamente com o que faço hoje, foi uma adaptação ao longo do tempo", diz, recordando os primeiros projetos realizados virtualmente com músicos baseados em diferentes países. Esse período de colaboração remota foi fundamental para moldar a sua abordagem criativa.
Apesar de ser DJ, Danifox afirma que a sua verdadeira paixão está na produção musical. “Sou mais produtor do que DJ. Quando toco, toco as minhas próprias produções", sublinha. Ele também é um membro activo do colectivo Tia Maria Produções, e a sua relação com a Príncipe, uma das labels mais respeitadas no cenário da música eletrónica portuguesa, foi decisiva para o seu crescimento artístico. “Estar na Príncipe trouxe-me visibilidade e apoio. Como artista independente, tinha que gerir tudo sozinho, desde os emails até às formalidades. Com uma equipa, sinto-me valorizado”, reflete.
Danifox também faz uma análise sobre o estado da música electrónica feita por negros em Portugal. Ele vê progresso, mas ainda vê desafios no reconhecimento. "Há dez anos, não havia tantas oportunidades como hoje. A música electrónica feita por negros está a ganhar espaço, mas ainda há um longo caminho", observa. O DJ menciona o papel crucial da Príncipe neste desenvolvimento, mas admite que, por vezes, estar numa label pode limitar a exposição individual dos artistas. "Estar numa label ajuda, mas não podes depender só disso. É preciso criar conexões e expandir horizontes", aconselha, referindo-se à importância de pensar globalmente.
DJ Danifox| 📸 BANTUMEN
Com três EPs lançados — “A Long Walk” e “Quem é o Palhaço” pela Point Records, de Los Angeles, e “Ansiedade” pela Príncipe —, DJ Danifox construiu um catálogo respeitável. No entanto, não se vê apenas como um artista musical. Os seus sonhos incluem trabalhar com teatro e cinema, expandindo a sua criatividade para outras formas de arte. "Não quero só lançar músicas no Spotify. Quero colaborar em projetos teatrais e cinematográficos", revela, mostrando ambições que vão além do universo da música electrónica.
A entrevista também aborda a sua vida pessoal, revelando um lado mais íntimo do artista. DJ Danifox, aos 24 anos, é pai de um menino de seis anos. "Ter outro filho? Talvez quando chegar aos 30," diz com um sorriso, mostrando que, apesar da juventude, já enfrenta as responsabilidades da vida adulta.
Quando questionado sobre o impacto da fama na sua vida, Danifox minimiza o glamour associado à celebridade. "Eu sou muito caseiro. Prefiro ficar em casa a fazer música do que sair", confessa.
Com uma visão global e uma mente sempre aberta a novas possibilidades, DJ Danifox continua a explorar novas formas de expressão artística, mantendo-se fiel às suas raízes enquanto olha para o futuro. Ele acredita que há muito mais a conquistar e que a música é apenas o começo de uma jornada mais ampla. "Estou a realizar os sonhos que tinha há cinco anos, e agora o futuro está a trazer novas oportunidades," conclui.
A entrevista revela um artista que não só inovou na música electrónica afro-portuguesa, mas também está a desafiar os seus próprios limites e a abrir caminho para um legado que transcende a pista de dança. Vê esta conversa em vídeo no player acima.
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Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
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