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Embora o verão em terras lusas esteja a chegar ao fim, o calor ainda se faz sentir. Enquanto caminhava pelas ruas de Lisboa, a caminho da Casa do Comum — um espaço conhecido por dar palco a talentos emergentes — o ritmo de “Bombaclatt”, o mais recente single de Djei Furtado, ressoava nos meus ouvidos. Este jovem artista, oriundo de Assomada, Achada da Galego, em Cabo Verde, imprime na sua música toda a essência das suas raízes crioulas.
Com 23 anos, Djei vive a música de forma muito própria, usando a tinta da caneta para conversar com o mundo e conectar-se com as suas raízes.
"A música começou para mim como uma fuga, um refúgio", disse Djei, minutos após o início da entrevista, com um sorriso no rosto que refletia as memórias dos dias solitários na Ilha do Sal, para onde se mudou ainda jovem. "Estava sozinho, sem amigos, numa terra estranha. E a música tornou-se a amiga que me ouvia, que me permitia falar."
O percurso de Djei Furtado é quase um diário autobiográfico que, com o passar do tempo, transforma-se em melodia. Canta sobre a solidão, mas também sobre a maturidade precoce que a vida em Cabo Verde impõe, muitas vezes, às suas crianças. "Desde cedo, és obrigado a amadurecer. Lá, os miúdos não são apenas miúdos, são pequenos adultos a crescer", sublinhou.
"Quero que as pessoas saibam que, quando ouvirem Djei Furtado, podem esperar qualquer coisa"
Djei Furtado
Aos 19 anos, em 2019, Djei Furtado começou a traçar o seu próprio caminho musical, transformando experiências e emoções em letras que ressoassem com quem as ouvisse. "A minha primeira música falava da solidão, de uma dor profunda que eu vivia. Mas também era sobre crescer, sobre encontrar a minha voz no meio do silêncio", explicou o artista. “Pior Dor”, o seu primeiro single, exemplifica bem esta mistura de sentimentos. A canção aborda o amor, mas um amor marcado pela falta de reciprocidade e desvalorização. "Essa música veio de algo muito pessoal, do que eu e outros à minha volta vivemos. O amor é bom, mas, às vezes, machuca", confessa Djei.
Sem se limitar a um único género musical, Djei navegou pelo Afro House e pelo Trap, sempre mantendo um toque que reflete as suas raízes cabo-verdianas. "Digo sempre aos meus amigos que, talvez um dia, faça um Funaná", revela o artista, apreciando a liberdade de explorar diferentes estilos. Para ele, a música é vasta demais para ser confinada a um só estilo.
Questionado sobre a dualidade entre fazer música para si próprio e para o público, Djei falou dos desafios da indústria musical. "É um equilíbrio delicado. Claro, se queres sucesso comercial, tens de agradar o público. Mas nunca deve ser à custa de perderes a tua identidade. A tua música tem de ter sempre a tua alma."
Como artista independente, Djei enfrenta desafios únicos, especialmente na manutenção da autenticidade da sua arte. "Ser independente dá-me mais controlo sobre a minha música, mas também traz mais responsabilidades. Tudo tem de ser mais calculado, porque os recursos são limitados."
Djei Furtado ©BANTUMEN
Apesar da pressão para se manter constantemente a criar, Djei valoriza a qualidade e o significado das suas canções. Não lança música por lançar, apenas quando sente que a obra tem algo relevante a transmitir ao público. A sua faixa mais recente, “Bombaclatt”, é um reflexo desta abordagem. "Nasceu de um freestyle, de um momento genuíno com amigos. Capturei uma energia que quis partilhar. É uma música que mostra um lado mais ousado e direto meu." Embora tenha várias músicas em desenvolvimento, prefere focar-se em singles, construindo progressivamente a sua base de fãs. "Ainda estou a construir o meu público e a minha voz. Lançar um EP agora? Seria prematuro. Prefiro continuar a lançar singles, a criar música que realmente ressoe."
O artista também sabe o que não quer. Djei garante que a surpresa sonora será uma constante na sua carreira. "Não quero ser rotulado. Quero que as pessoas saibam que, quando ouvirem Djei Furtado, podem esperar qualquer coisa. Zouk, Funaná, Trap — se eu sentir, eu faço."
Ao longo da nossa conversa, ficou claro que o amor de Furtado pela música é genuíno e palpável. É um artista em plena evolução, um talento jovem que vê na música não apenas um refúgio, mas também um meio de conectar mundos, pessoas e histórias. Em apenas três anos de carreira, o seu percurso já é marcado pela autenticidade e pela coragem de se manter fiel a si mesmo num meio que muitas vezes exige o contrário.
Num cenário musical em constante transformação, Djei Furtado é, sem dúvida, um nome a acompanhar. Para mais detalhes, podem conferir a entrevista completa acima.
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Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
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