Sexo, corpo e prazer pronunciados em voz alta, Énia Lipanga apresenta “Com quantos paus se faz uma carreira”  

29 de Abril de 2025
enia Lipanga 16neto

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O espaço 16 Neto, em Maputo, prepara-se para acolher “Com quantos paus se faz uma carreira”, uma peça para maiores de 18 anos da escritora e ativista social moçambicana Énia Lipanga.


Entusiasmada, a artista explica que a indicação da faixa etária deriva da linguagem e da abordagem, que, culturalmente, ainda geram constrangimento em ambientes onde se misturam públicos de diferentes idades. “Embora eu combata o tabu, decidi preservar esse limite. O sexo, o corpo, o prazer ainda assustam quando pronunciados em voz alta.”


Contundente, Énia argumenta que o tema exige tal postura, pois trata-se de assédio sexual, “um mal que nos persegue a todas”. A criação é uma junção de textos em repúdio ao assédio sexual, que, maioritariamente, afeta as mulheres, em resposta à romantização e à normalização desse fenómeno no país, segundo a artista.


Em produção há um ano, “Com quantos paus se faz uma carreira” surge a partir de um poema concebido pela artista em 2021 e questiona “todo o tipo de carreiras” que as mulheres ocupam ou pretendem ocupar, seja em áreas artísticas, corporativas ou informais. 


No ano em que se comemoram 50 anos da independência de Moçambique e de outros países lusófonos, a artista considera que as vozes femininas nas artes tem espaço mas insiste na necessidade de fortalecer a sororidade entre as mulheres. “A construção social da rivalidade entre mulheres precisa ser combatida com união. E essa união passa por nos acolhermos e nos protegermos. Não somos intimidadas apenas por sermos mulheres. Mas temos, sim, ocupado mais espaços. Cresce o número de mulheres que ousam tirar da gaveta suas lamúrias. Estamos nos palcos, nas telas, e fazemos arte de qualidade. Lotamos salas”, defendeu a artista.


Numa época atípica, depois das manifestações que eclodiram em Moçambique deste outubro passado, a artista mostra-se entusiasmada. “Nos últimos dois meses, voltamos a ocupar as casas com apresentações daquilo que nos move, a arte e ela é inquieta. E por mais difícil que seja, ela precisa ocupar o espaço que lhe pertence”.


Nomeada como uma das figuras Negras mais influentes da Lusofonia em 2024, pela PowerList BANTUMEN 100, Énia Lipanga listou algumas figuras que a inspiram, que a abraçam e têm sido sua companhia através do som, da leitura e de outras expressões artísticas  e seu activismo social são muitas. Entre elas, destacou mulheres como Sara Tavares, Conceição Evaristo, Noémia de SousaCarmen Mateia e Reinata Sadimba, todas pela bravura com que enfrentam e enfrentaram o mundo, cada uma à sua maneira, em tempos distintos, mas sempre com coragem. Para não deixar apenas nas mulheres, fez questão de citar também alguns nomes masculinos negros cuja arte admira profundamente, como Ungulani Ba Ka Khossa, Trykz, Bento Baloi e Milton Nascimento. 


Ciente da internacionalização da sua carreia, Énia Lipanga não hesita em afirmar que: “Quem procura por Moçambique, sei que também tem me encontrado. E cada vez mais pessoas se importam com Moçambique, com a arte e com as novas vozes que vêm daqui. A internet facilitou que o mundo nos encontrasse. E sim, há universidades que estudam os meus poemas, teses sendo escritas, participações de estrangeiros nos meus cursos de escrita criativa. Tenho colaborado com artistas de fora e até me reconhecido em muitos. Isso é impacto. E é positivo”, concluiu.

 

 

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