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Abdel Camará, o coach para quem “fazer é sempre melhor que saber”

9 de Janeiro de 2023
Abdel Camará, o coach para quem “fazer é sempre melhor que saber”

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A forma como gerimos o tempo, o tipo de relações que construímos, como lidamos com o dinheiro e como cruzamos as nossas ambições pessoais com as profissionais, são preocupações cada vez mais no centro da mesa e potenciadas por profissionais como Abdel Camará.

Formado em Engenharia Mecânica, Abdel é atualmente coach de alta performance e consultor financeiro e em 2022 foi homenageado como uma das Personalidades Negras Mais Influentes da Lusofonia pela PowerList. Apaixonado pelo marketing, finanças pessoais e comportamento humano, são mais de 300 as pessoas que já passaram pelos seus programas de mentoria que visam trabalhar o foco, ousadia, disciplina e a acção. A finalidade é uma única: fazer com que cada mentorado e mentorada crie um legado para as suas famílias e no mundo. Como? Criando a melhor versão de si mesmos para materializarem os seus sonhos e conquistarem a liberdade financeira.

Trabalhas como Mindset Coach e Business Mentor. Em que altura da tua vida percebeste que era esse o teu propósito?

Na realidade, sempre fui uma pessoa muito interessada pela capacidade humana e desde muito cedo fiz isto só que não lhe tinha atribuído um nome. Mas foi em 2014, após o nascimento da minha primeira filha, que descobri o desenvolvimento pessoal e desde aí, a minha vida mudou por completo e fui tendo cada vez mais certezas de que quero trabalhar e impactar a vida de milhares de pessoas, para que toda a gente com que eu me cruze, possa tornar-se na sua melhor versão, sendo que eu não tive essa oportunidade antes.

A criação da tua empresa surgiu por essa vontade que afirmas ter de inspirar e transformar?

A criação das minhas empresas surgiu pela vontade de empreender e contribuir para uma sociedade melhor, mais coesa e mais consciente e, também, para ajudar mais pessoas e empresas atingirem os seus objetivos.

Quais foram os maiores desafios com que te debruçaste ao longo da tua carreira?

A minha vida e história são feitas de grandes desafios das quais tirei sempre grandes lições, mesmo quando as experiências eram negativas. Mas olhando para estes últimos 13 anos da minha carreira profissional, diria que ter emigrado para Inglaterra após ter sido despedido da Mercedes-Benz (Grupo Daimler) foi, provavelmente, o maior desafio, por tudo o que essa mudança implicou e trouxe na minha vida, em todos os níveis.

Abdel Camará
📷: Bruno Miguel

No vídeo onde falas um pouco sobre a tua história, afirmas que nunca mais foste o mesmo depois de ler o livro Think and Grow Rich”. Em que medida isso te mudou e qual a melhor elação a tirar da obra?

Think and Grow Rich, de Napoleon Hill, foi uma enorme luz para mim. Ler esse livro foi, sem dúvida, dos melhores atos que alguma vez fiz porque foi o descobrir de um mundo novo e com possibilidades que, até então, eram-me totalmente alheias ou que nem fazia ideia serem possíveis. Em suma, percebi que a capacidade de qualquer indivíduo é limitless  se este souber como criar e manter uma atitude mental positiva.

Na área em que trabalhas, o mindset é a chave para o sucesso por si só, ou anda a par e passo com a literacia financeira? Existe um mindset correto? Estabilidade e inteligência emocional também contam?

Eu acredito que tudo no universo se relaciona e não há apenas uma coisa que fará a grande diferença nas nossas vidas, mas sim um somatório de vários fatores. No entanto, o mindset certo ou de crescimento, é algo que é transversal e unilateral para o sucesso de qualquer pessoa ou organização. Portanto, esta não é apenas chave no que faço mas a chave para todo e qualquer ser humano que queira sucesso, seja em que área for. Porque tudo que fazemos e a forma como observamos o mundo à nossa volta é-nos apresentado através da nossa mentalidade. A minha perceção do mundo é determinada através da minha mentalidade (mentalidade fixa ou de crescimento) e, portanto, esta será a minha realidade.

É muito comum os jovens considerarem que ser empreendedor é “o futuro”. Quantas vezes trabalhaste com pessoas que queriam abrir um negócio próprio, mas que não tinham bases/noção do trabalho que isso exige? E como é que se pode contornar esse tipo de situação?

Empreender está na moda e é ótimo. Mas penso que é fundamental esclarecer o que é esta coisa do empreendedorismo porque não tem que necessariamente significar negócios. Empreender é nada mais que a capacidade que um indivíduo tem para identificar oportunidades e/ou problemas para os qual irá desenvolver soluções e investir recursos para a criação de algo positivo para a sociedade, quer seja em negócio, projectos ou até mesmo um movimento, desde que provoque ou gere mudanças reais com impacto no dia-a-dia das pessoas.

Acredito que empreender é tão importante no presente como no futuro, porque se não plantarmos as árvores hoje, não haverá floresta daqui a 100 anos. Sim, muitas vezes as pessoas têm ótimas intenções de fazerem a diferença mas faltam-lhes as bases para. E muitas dessas bases começam precisamente pelo mindset. Pois se uma pessoa tiver um mindset de empregado, muito dificilmente terá sucesso como empregador ou dono de um negócio. E se as pessoas não percebam que é fundamental investir nelas e capacitarem-se para os desafios que se avizinham, terão dificuldades enormes.

Muitas pessoas e empresas procuram-me precisamente porque não sabem como implementar a/as ideia/s que têm ou estão a encontrar dificuldades grandes para crescer o negócio existente e é precisamente a forma correta de se contornar. A questão é: porque é que vou tentar e falhar vezes sem conta e durante anos a fio quando posso juntar-me a pessoas que poderão dar-me todo o apoio necessário e com o conhecimento e experiências que preciso para alcançar os meus objetivos, que elas também já atingiram no passado?

Abdel Camará
📷: Bruno Miguel

Que erros não se devem cometer aquando da criação de um negócio?

O maior erro que vejo muita gente a cometer no início dos negócios é perderem tempo com atividades de pouca relevância para o início, como a de criação de websites, logótipo, nome da empresa e investigações infindáveis sobre o produto ou serviço que querem trazer ao mercado, quando nada disso vai trazer os resultados que pretendem.

Quais consideras serem os três fatores essenciais para um negócio de sucesso?

Após determinarmos o tipo de negócio que queremos ter, o primeiro passo é definir a persona ou o “quem”. Quem gostarias que fosse o teu cliente ideal e quais são as suas características, sejam elas demográficas, geográficas, socioeconómicas e etc. Em segundo lugar, marketing e marca pessoal, relações humanas, dar-se a conhecer. Porque o maior desafio de iniciarmos um negocio é o facto de ninguém saber quem somos. Isso é o que faz com que muitos negócios não cheguem a ver a luz fora do túnel, porque as pessoas compram a pessoas que conhecem e/ou confiam.

Em terceiro lugar, as pessoas devem preocupar-se em acrescentar muito valor antes das vendas acontecerem. Todos nós gostamos de comprar mas não gostamos quando alguém nos está a vender algo, certo?

Olhando agora para a comunidade africana, a iliteracia financeira é uma realidade ou um mito? O que tem que mudar a nível de mindset?

Infelizmente, não é um mito, é uma realidade. Não só para a comunidade africana, porque tenho muitos clientes a nível internacional, EUA, Reino Unido, Canadá e etc, que demonstram ter muita dificuldade com o mesmo. Aliás, o sistema educacional mundial parece reger-se muito pelo ocidente, o que faz com que muitos de nós caia nos mesmos erros. Mas voltando à nossa comunidade, este é um dos temas que falo muito para criar mais conhecimento e para que as pessoas se possam “libertar” dessa dor da infância, provocada pelos progenitores ou tutores, porque estes também não sabiam melhor.

O que precisa de mudar, urgentemente, em relação a este tema, é a bolha que se põe à volta do mesmo. Falar de dinheiro ainda é um tabu enorme para muitas famílias, principalmente quando estas são mais religiosas. Todos sabemos da conotação negativa e por vezes até repudiante que é dada ao dinheiro ou a quem o tem. Na minha opinião, a solução passa pelo awareness e falar-se mais e abertamente sobre o assunto mas simplificando ao máximo para que todos entendam. É isso que faço sempre que falo deste tema, porque se uma criança de oito anos perceber-me, um adulto irá igualmente compreender a mensagem.

A nossa percepção torna-se na nossa realidade e a nossa realidade irá produzir os resultados que vamos alcançar na vida

Abdel Camará

É legítimo afirmar que o consumismo é o maior inimigo da estabilidade financeira da comunidade? Em que sentido?

Bastante legítimo! É impossível encher um garrafão de 20 litros se este tem um furo superior à metade do diâmetro da sua base, independentemente do caudal da água em causa. Faço-me entender? Nós já somos muito iletrados nesta matéria e vivemos numa sociedade super consumista, em que as pessoas querem impressionar outras que muitas vezes nem conhecem ou nem gostam. Enquanto não mudarmos esse mindset, será muito difícil.

Muda o mindset, mudam os resultados. Verdade ou mito?

A nossa percepção torna-se na nossa realidade e a nossa realidade irá produzir os resultados que vamos alcançar na vida. Por isso, a forma com que alguém que está a ler esta entrevista interpreta e assimila todas estas palavras será determinada pela sua mentalidade, que é a sua realidade e, claro está, as ações que irá tomar em conformidade com tudo isto, terá uma ligação direta aos resultados que irá produzir na vida. Portanto, a resposta é sim, é verdade.

Abdel Camará

Que conselhos darias a alguém que quer deixar de viver de ordenado em ordenado?

Em primeiro lugar, a pessoa deve decidir que quer algo melhor e esse algo tem que ser muito claro. Porque as decisões vagas trazem resultados igualmente vagos. Em segundo lugar, deve começar a ler para se informar das possibilidades que existem dentro das finanças pessoais e falar com pessoas que já estiveram no seu lugar e que hoje estão a ter resultados que a mesma almeja ter (o sucesso deixa sempre rastos). E por último, deve arregaçar as mangas, assumir responsabilidade pela sua vida financeira e começar a pôr em prática o que aprendeu e com a crença que ela também consegue atingir o objetivo a que se propôs. Como costumo dizer, fazer é sempre melhor que saber. Todos sabemos o que devemos ou não fazer mas muito poucos fazem alguma coisa em relação a isso.

Foste um dos oradores e palestrantes da Kweli, a primeira conferência afrocentrista a acontecer em Portugal. Como é participar neste tipo de iniciativa? Sentes que, de alguma forma, acontecimentos como este podem marcar um ponto de viragem na forma como a comunidade olha para si própria? Em que sentido?

O Kweli é sem dúvidas um evento que veio para unir a comunidade e fazermos o exercício de nós para nós, num ambiente de verdadeira irmandade em que todos os envolvidos, quer os preletores como o público, reuniram-se para celebrar a nossa ancestralidade com muito orgulho e conexão energética entre todos. Diria que iniciativas como esta são fundamentais, quer no continente quer na diáspora, para que possamos partilhar mais do que nos une do que aquilo que alguma vez nos tentou separar. Ao fazermos uma viagem de várias paragens (temas diversos), criamos uma visão de diversidade convergida num só propósito: a de elevar a nossa comunidade e o nosso povo rumo à sabedoria e verdade, que está na base de sermos Africanos. Sou um privilegiado por ter participado da primeira edição de muitas que, com certeza, virão aí.

Terminaste o ano de 2022 a ser reconhecido como uma das 100 Personalidades Mais Influentes da Lusofonia. Isso é o culminar de tudo o que foi feito até aqui ou, por outro lado, a motivação para continuar? Há ou não o peso da responsabilidade e de que forma isso condiciona os teus planos futuros?

Esta nomeação foi recebida com muito apreço, gratidão e de um orgulho e felicidade imensas. Não apenas pelo reconhecimento de todos que votaram em mim mas muito pelo que o evento em si representou para mim, enquanto homem negro ou preto no ocidente.
Como proferi no dia, é importante realçar que este tipo de reconhecimentos servem para confirmar que o trabalho e o caminho que todos escolhemos fazer, que é de servir o outro e o mundo faz sentido. Então para mim, este feito representa várias coisas, nomeadamente a motivação para continuar, mesmo naqueles dias em que me sinto super cansado, com vontade de desistir da missão, pelas diversidades e nuances que há em fazer o trabalho que faço. Validação de que o meu trabalho é de facto necessário, importante e fundamental, e, por último e não menos importante, a vontade de fazer mais e a responsabilidade que acarreta daí para a frente. Não é que eu não tivesse noção da mesma. No entanto, quando o reconhecimento torna-se público e a este nível, creio que há passos que que não posso dar porque há pessoas atentas e a ver, principalmente as nossas crianças e gerações futuras. Mais uma vez, quero aproveitar a oportunidade para aplaudir a coragem, dedicação, audácia e o acreditar que a Vanessa e o Eddie, juntamente de toda a equipa da BANTUMEN tiveram na organização deste evento super lindo, fantástico, acolhedor e de grande elevação. Obrigado!

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