O mercado milionário das extensões de cabelo e a história de Fatumata

12 de Março de 2025
Fatumata mercado cabelo
Fatumata | 📸 Wilds Gomes/BANTUMEN

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As extensões de cabelo humano têm uma longa história que se entrelaça com a evolução da indústria da beleza e ao mesmo tempo com estética e padrões culturais. No antigo Egipto, onde surgiram as primeiras perucas, homens e mulheres usavam-nas como símbolo de riqueza e status social. Apesar de os seus primórdios remontarem à antiguidade, foi nos Estados Unidos da América, e pelas mãos de Christina Jenkins que as extensões se popularizaram um pouco por todo o mundo.


Jenkins foi uma cabeleireira afro-americana que inventou a extensão de cabelo em 1949, tornando-se uma pioneira no mundo da beleza. A ideia, patenteada dois anos mais tarde, em 1951, consistia numa técnica que muitas cabeleireiras continuam a usar hoje em dia:  costurar o cabelo nas tranças da cliente. À data, Christina apelidou o método de “hairweeve” (entrelace), nome que se mantém até aos dias de hoje, registando apenas alterações na grafia.


As “Hair Weaves” ou “weaves” que marcaram o início de uma mudança na indústria da beleza americana, acabaram por se espalhar um pouco por toda a parte e são, atualmente um dos mercados mais rentáveis dentro do setor. De acordo com o mais recente estudo da Business Research Insights, o mercado de compra e venda de extensões está avaliado em mais de 7,5mil milhões de dólares e estima-se que até 2032 atinja a marca dos 28,65 mil milhões. Países como a Índia e a China, a par dos Estados Unidos, são os principais produtores e dominam a maior parte da quota de mercado. Mas o negócio vai além da venda de cabelo: se há quem compre extensões e perucas, também há quem precise dos utensílios e produtos certos para poder aplicá-las e são os utensílios/acessórios, que vão desde toucas a escovas, que fazem o negócio ser ainda mais lucrativo.


O perfil das consumidoras varia, mas nos maiores mercados – os EUA e a Europa – as mulheres negras destacam-se. Muitas vezes julgadas e oprimidas por usarem os seus cabelos naturais, algumas  mulheres negras viram no método uma forma de se encaixarem nos padrões sociais. O mito do cabelo liso enquanto indicador de elegância e profissionalismo prevaleceu tempo suficiente para que estas mulheres vissem os seus próprios cabelos como barreira. 

Fatumata | 📸 Wilds Gomes/BANTUMEN

A par das perucas e extensões, o desfriso era também um dos métodos utilizados para contornar o volume dos cabelos crespos e cacheados. A relação da mulher negra com o próprio cabelo é marcada por histórias de identidade e resistência, mas nos últimos anos tem-se estabelecido como forma de empoderamento. O cabelo natural, crespo/cacheado e volumoso passou a ser sinónimo de amor-próprio e aceitação. As perucas e extensões, que antes eram vistas como uma tentativa de cumprir os padrões, são hoje vistas como a opção mais viável para quem pretende diversificar  e experimentar outros penteados.


Apesar das diferenças sociais e culturais, a realidade dos EUA e da Europa não dista daquela que é a realidade do continente africano. Lá, sobretudo em países como a Nigéria, as extensões e perucas também têm um papel importante na estética e são, muitas vezes utilizadas como uma expressão de beleza. 


Nos PALOP, as extensões não são apenas uma questão de moda, mas também uma forma de equilibrar tradições locais com influências modernas, muitas vezes importadas dos Estados Unidos e da Europa. Entre as mulheres que trabalham nesse setor, encontrámos, durante a nossa passagem pela Guiné-Bissau, Fatumata, uma cabeleireira guineense que se dedica à conceção de perucas. 


Encontrámo-la sentada num banco, debruçada sobre um busto de treino, enquanto costura meticulosamente uma peruca. O espaço onde trabalha é modesto, mas funcional o suficiente para permitir o exercício da atividade.


Tímida, Fatumata conta-nos, em crioulo, que começou sozinha, apenas observando outras cabeleireiras. "Ficava a ver como faziam e depois fiz igual", diz, com um sorriso discreto. Sem formação, confiou apenas na sua própria capacidade de aprender e aperfeiçoar a técnica. Hoje, o pequeno salão que abriu há quatro meses tornou-se a sua principal fonte de sustento. “É uma forma de ganhar dinheiro", admite, acrescentando que se vê a fazer este tipo de trabalho o resto da vida. “É o que eu gosto”.

Quando lhe perguntamos o que a distingue das concorrentes, encolhe os ombros e responde sem hesitação: "Não sei. Só faço o meu trabalho." Para ela, mais do que destacar-se, o importante é continuar a aperfeiçoar-se e garantir que a satisfação das clientes. Mas Fatumata tem ambições maiores. Se tivesse oportunidade, gostaria de sair da Guiné-Bissau e aprofundar os seus conhecimentos na área. Fazer uma formação ou abrir um salão em Portugal são algumas das hipóteses. Acredita que, fora do seu país, as oportunidades de negócio são melhores e que seria mais fácil viver da sua arte. 


Fatumata é um exemplo de como, por trás da indústria milionária das extensões e perucas, existem mulheres que fazem deste mercado o seu sustento e um caminho para o futuro. Em muitos países, a falta de formação formal não impede a criatividade e a resiliência de empreendedoras como ela, que aprendem pela observação e aprimoram as suas técnicas com a prática. Para além de ser um negócio lucrativo, a confeção de perucas representa, para muitas mulheres, um meio de independência financeira e mobilidade social. No caso de Fatumata, é também um ponto de partida para um sonho maior: expandir as suas oportunidades e aperfeiçoar o seu talento além-fronteiras.

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