"Rei da Caneta", Gasso Franco no MusicBox, em Lisboa

No próximo dia 29 de março, o palco do Musicbox em Lisboa, volta a receber o evento especial de celebração dos 10 anos da BANTUMEN, desta vez, com uma homenagem exclusiva a Moçambique. Entre os destaques desta noite está Gasso Franco, um dos artistas mais influentes da atualidade da música moçambicana.

Conhecido como o "rei da Caneta", Gasso tem dado que falar por ser um dos impulsionadores da transformação da identidade do Pandza, um dos estilos musicais mais populares de Moçambique. A BANTUMEN conversou com o artista sobre a sua trajetória, os maiores desafios, planos futuros e as expectativas para o concerto. “Preparamos uma coisa bonita e queremos ver as pessoas a se juntarem a nós nesta festa de ritmos de Moçambique”, disse Gasso Franco.

Atualmente a viver em Portugal, João José Felisberto Franco, o seu nome de registo, nasceu a 3 de abril de 1990, em Maputo. Desde tenra idade, foi influenciado pelo ambiente musical da sua casa, desenvolvendo uma paixão pelos sons que o rodeavam. Aos 15 anos, começou a carreira musical no grupo de hip-hop Camp Hustlers e, rapidamente, mergulhou em outros estilos e na produção musical. Em 2010, lançou-se numa carreira solo com o single "Ti Vi…Aonde", trazendo de forma diferenciada o estilo musical Ragasso (uma junção do seu nome, mais um estilo musical moçambicano).

Contudo, foi no Pandza que, por acidente, começou a marcar passos firmes como cantor. "Não era o género de música que realmente apreciava ou nutria uma paixão. "Foi a fazer, a experimentar", que o músico acabou por se encontrar no estilo pop moçambicano, conhecido como Pandza. Para quem não conhece, o Pandza é um género de pop que surgiu no início dos anos 2000 e a partir da fusão da Marrabenta - um género tradicional dos subúrbios moçambicanos - com influências de ritmos latinos como o Ragga e o Reggaeton. Com o tempo, o Pandza passou a incorporar passos de dança contemporâneos, marcada pela energia e pelos movimentos característicos do Dzukuta.

O "Rei da Caneta", como o próprio se intitula, revela-se nas redes sociais com uma personalidade forte, talvez, inspirada em C4 Pedro, o cantor angolano cujo ego é intocável e uma das influências musicais do moçambicano. Franco revela-nos a importância da identidade e da marca pessoal na carreira artística. “Na música ou nas nossas carreiras temos sempre que ter alguma coisa que marca as pessoas, não só pela sonoridade de áudios ou de fala, mas pela imagem também”, disse.

Franco reflete sobre ainda sobre a sua personalidade desde a infância e indica que, desde o início, destaca-se pela originalidade das suas apresentações. Ele compara essa necessidade de marcar a diferença com exemplos como Michael Jackson e Elvis Presley, que deixaram estilos e perfis inconfundíveis.

O detalhe dos óculos virados ao contrário, que se tornou a sua assinatura visual, surgiu de forma espontânea durante a gravação de um videoclipe. O acessório, inicialmente um acaso, foi adotado como um elemento da sua marca pessoal. "Estava a correr durante a gravação e, sem que parássemos o set, os óculos caíram. Quando os coloquei de novo, estavam ao contrário," conta Gasso. A reação inicial da sua equipa foi alertá-lo sobre os óculos, mas a sua resposta foi simples: "Ei, deixa assim". Para Gasso, essa peculiaridade não foi apenas um acaso, mas uma forma de se destacar: "Sempre foi importante para mim diferenciar-me". Para ele, a ideia de manter essa singularidade é semelhante à de artistas como Kanye West, que são irreverentes e criam tendências que transcendem o tempo.

Desde 2010, o artista tem consolidado a  sua carreira tanto a nível nacional quanto na Europa. Em 2014, foi reconhecido como “Artista Revelação”, no Kizomba Music Awards, e mais tarde no Mozambique Music Awards. Em 2024, lançou o EP "Esse Sou Eu", que inclui o single "Dalila", e colaborou com Afro Connexion e Pai Profeta em temas como "Bobo (Isso Tá Me a Doer)" e "Culpa Dela".

Sobre a sua mudança para a capital portuguesa, que aconteceu em 2014, Gasso não encontrou grandes dificuldades de adaptação, sobretudo, devido à associação com uma agência que já trabalhava com muitos artistas na época. "No início, todo o artista enfrenta desafios ao mudar-se para uma nova zona, que vai além da zona de conforto. Mas isso também serviu como uma escola que ajudou a manter-nos até hoje", expressou.

Sobre aquela que será a sua terceira apresentação em Lisboa, ao lado de Selma Uamusse, Gasso é um dos artistas convidados de Assa Matusse para subir ao palco do Musicbox, mítica casa de espetáculos da capital portuguesa. O concerto especial marca o décimo aniverário da BANTUMEN e celebra igualmente Moçambique, um dos países que fazem parte da sua linha editorial. Apesar de ser a sua primeira vez a apresentar-se no Musicbox, Gasso mostra-se confiante e promete uma atuação que reflete a sua trajetória musical e a diversidade da música moçambicana. "Vai ser a minha primeira vez no Musicbox e a minha terceira atuação em Lisboa. Estou ansioso para criar uma nova relação com este público”, partilha o artista.

Além da comunidade moçambicana, o “rei da caneta” estende o convite a. todos que quiserem partilhar de amor e cultura. “Família, convido-vos a fazerem parte deste grande concerto. Venham apaixonar-se ainda mais pela nossa cultura. Venham ver a atuação do Gasso, o rei da caneta mais pesada do mundo. E vocês vão sair de lá, com certeza, com boas relações”, terminou.

A sublinhar que, além de dedicar-se ao seu percurso solo, o Gasso Franco também está envolvido em vários projetos que t|êm como propósito alavançar o mercado artístico do seu país. Atua no ramo empresarial, liderando a MAPEMU Records, é diretor de marketing na Associação dos Músicos de Maputo (AMM) e membro da APTURMA, onde desempenha um papel ativo no apoio a novos talentos e na promoção do turismo cultural.