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Há alguns anos, para muitos que mergulharam na indústria musical, assinar com uma editora major era o cume das expectativas e, até ao início de 2010, parecia ser o único caminho viável para o sucesso. Naquela época, a incapacidade de usar as redes sociais como ferramenta de promoção ou a falta de envolvimento do público tornava a carreira de um artista independente pouco viável ou sustentável. Contudo, com os recursos e informações disponíveis em plataformas como Reddit, YouTube, Instagram e Spotify, a situação mudou drasticamente. A indústria musical acabou por transformar-se às mãos de artistas determinados que valorizam profundamente o controlo criativo, a autonomia e a propriedade, embarcando numa caminhada única que muitos julgavam impossível.
Hoje, artistas como a rapper, atriz e cantora angolana Diana de Barros, também conhecida como IAMDDB, ou simplesmente Dee pelos mais chegados, são exemplos perfeitos deste fenómeno. A artista multidisciplinar manteve-se firme nos seus objetivos e embarcou na sua jornada independente, sem medos. Desde o lançamento do seu sucesso de estreia, “Leaned Out”, DDB tem-nos surpreendido com a sua dedicação e consistência em redefinir o conceito de artista, criando uma paisagem sonora e visual cuidadosamente curada.
Numa reflexão sobre o significado e o impacto da música na sua vida, a artista descreve-a como uma forma de terapia: “É o lugar onde me sinto segura, livre e conectada ao meu eu superior. É o meu refúgio e um espaço onde posso explorar, expressar, soltar, dar vida e até destruir.”
📷: MAIRA ( @casimaria )
DDB partilha que, apesar das aparências e da garra que demonstra pela arte, é uma pessoa devota à sua paz, bastante tranquila e que gosta de desfrutar de momentos simples. “A DDB que veem no palco é um ato performativo, cheio de energia e dou 110% de mim. Mas, como ser humano, sou bastante calma. Gosto de estar com a minha família, cantar, dançar, estar rodeada de instrumentos, música, natureza, ler e jogar xadrez, entregando-me à suavidade que faz parte de mim.”
Apesar de algumas interpretações erradas sobre a sua postura, catalogada como difícil, a artista mantém-se fiel à sua individualidade e à sua voz, reconhecendo que a expressão autêntica pode ser desafiadora numa sociedade ainda marcada por estereótipos. Contudo, sublinha que o verdadeiro problema está no facto de as pessoas não estarem habituadas a verem mulheres negras em posições de poder e a expressarem-se autenticamente, o que leva à percepção de indisciplina e incontrolabilidade.
Sobre as suas influências, IAMDDB confessa que o pai é a maior inspiração da sua carreira. “Ele era membro de uma banda chamada ‘Afra Sound Stars’ em Angola. Ele me incentivou a ultrapassar os meus limites e a cantar com a alma, garantindo que eu fizesse música autêntica, da qual me orgulharei daqui a dez anos. Ele também enriqueceu muito o meu gosto musical com géneros como Kila Banga, Kizomba, Semba, Afro-jazz e Soul.”
De Shade a Rasta Pasta, DDB tem apresentado aos seus fãs uma série de trabalhos que evidenciam a evolução da sua habilidade artística. Apesar de ter uma formação em jazz, como empresária, ela reconheceu que para prosperar nesta indústria é essencial ser multidimensional, o que a levou a sair da sua zona de conforto. Do trap e drum and bass ao jazz urbano, DDB tem explorado uma fusão de diferentes sons e criado novos géneros.
“Para mim, trata-se de explorar o meu talento artístico, algo que tenho feito nos últimos seis projetos. Porque o verdadeiro talento artístico é ser autêntico e, ao mesmo tempo, expandir géneros e a reinterpretar sons, mostrando ao público por que continuam a investir em mim. Não acredito que continuar a fazer apenas jazz urbano fosse benéfico a longo prazo. Então, estou aqui para oferecer-vos emoção, música para mover corpos e muito mais”, afirma com convicção.
📷: MAIRA ( @casimaria )
IAMDDB
O seu primeiro contrato de patrocínio foi com a PUMA e relembra com gratidão o apoio da equipa à sua carreira. A marca envolveu-se quando a artista estava no seu terceiro projeto, o maior até então, e “eles simplesmente adoraram a vibração e a energia”, expressa com um largo sorriso. “Eu não sabia nada sobre negócios ou patrocínios na época. Embora pensasse no dinheiro, fiquei muito feliz por estar lá. Eu era tão jovem e ingénua que estava lá apenas para me divertir e experienciar como é ser uma artista finalmente a ser vista e ouvida.”
Como artista independente, DDB considera essencial ter uma carapaça, resiliência e consistência. “Neste negócio, se fores muito emocional ou reativa, este não é o setor para ti porque tudo pode desencadear uma reação. Simultaneamente, a resiliência é crucial porque, independentemente dos fracassos ou do dinheiro perdido, há sempre um caminho. Onde há vontade, há um caminho. E se tiveres Deus no centro de tudo o que fazes, as tuas decisões e o teu temperamento serão equilibrados. Inerentemente, não tenhas medo do fracasso. O fracasso é útil porque é uma forma de entender como não fazer as coisas”, comenta.
Num mundo onde os artistas independentes lutam arduamente para alcançar o sucesso, muitas vezes investindo recursos pessoais em projetos e eventos sem retorno financeiro, DDB revela que desde o início da sua carreira, nunca teve a intenção de assinar um contrato. A sua procura pela independência baseia-se na profunda convicção de quem ela é e do que deseja alcançar. "Sinto que sei quem sou e sei tanto o que quero fazer que não posso comprometer-me a estar sob [os desígnios de] alguém que me diga como ser artista, como ser pessoa", declara com franqueza. "Tive acordos comerciais com empresas como a Sony, o que foi uma experiência interessante. No entanto, para mim, é fundamental ter o controlo do meu trabalho e dos meus direitos. Observando muitos dos meus colegas, percebo que algo neles não está certo internamente. Tenho um orgulho enorme de tudo o que construí com as minhas próprias mãos e de poder manter o controlo sobre meu trabalho."
Consequentemente, como tudo na vida, DDB reconhece que teve a sua quota-parte de alegrias e desafios como artista independente. Desde ver os frutos mais suculentos do trabalho árduo desabrochar até ter tours e shows esgotados como artista independente, a cantora garante-nos que não há nada mais doce do que esses momentos. Por outro lado, admite que os momentos mais desafiadores giram em torno do financiamento de projetos de forma independente, como ter de pagar todo um staff, exceto ela própria. “Para quem é que envio as minhas faturas?, questiona ironicamente. “Com o tempo, ser a patroa é ótimo porque estás no controlo, mas as pessoas subestimam o quanto isso é caro. Tu és a última a ser paga e responsável por tantas vidas. É uma faca de dois gumes mas, no geral, sou grata.”
Depois de ter sido convidada por um familiar a regressar a “casa” antes de lançar o seu último projeto, DDB comprou um bilhete só de ida para Angola. Assim que mergulhou na pátria que dita as suas origens tudo fez sentido. Agora, com um projeto totalmente novo e bem recebido, LOVE Is WAR, e muitos shows pela frente, a cantora descreve o seu último projeto como um retorno muito necessário às raízes. Essa viagem pode ser percebida através da mistura de cores ao longo da capa do álbum que nos conecta suavemente à bandeira angolana, ao lado de uma homenagem a WAEVEYBBY (2016). “A energia, o elemento, sentir o sol quente na pele, comer uma moamba autêntica e estar apenas na cultura, foi tão curativo para mim. Foi um processo que me lembrou de não me perder no barulho da cidade ou de perder a minha essência porque está tudo no meu ADN. E essa é a única razão pela qual luto e sobrevivo da maneira que posso.”
📷: MAIRA ( @casimaria )
Entre as suas várias facetas, questionada sobre um possível talento inútil, Diana ri e lança: “Aqui há truque porque todos os talentos que tenho são usados a meu favor”. E mesmo que discordemos, DDB afirma que a única coisa que lhe vem à mente e que pode ser classificada como inútil é a sua técnica de bater funge. “O meu funge é de ‘elite’, mas a técnica nem tanto. Ainda assim, quando acabas de comer [o meu funge], tu sabes what’s up.”
Sobre o seu senso de moda ousado e único, a artista explica que os seus trajes representam exatamente como ela se sente. “Se estou mal-humorada, é uma vibração gótica. Se me sinto sexy, terei as minhas pernas de fora. Amo cores. Adoro ser brilhante. Adoro ser extravagante e experimentar coisas novas que nem toda a gente tentaria”, diz. Depois de conhecer as suas melhores amigas, Jasmin e Jennifer, que considera as suas irmãs de ‘tribo’, a artista acabou por ser influenciada pela incomparável estética fashionista congolesa. “Elas ajudaram-me a expandir o meu ‘paladar’, fazendo-me entender que não é preciso usar coisas caras para parecer elegante. Desde então, exploramos marcas enquanto construímos relacionamentos com essas mesmas marcas.”
No seu mundo, em começa e termina com música, DDB recorda agora uma época da sua vida em que o Direito, a literatura inglesa e a culinária pareciam mais apelativos. “Quando eu estava no ensino médio, era boa em Direito. Cheguei a divagar entre ser advogada, chef ou cantora, mas o número de horas na biblioteca equivalia a demasiados álbuns. E a paixão pela música falou mais alto.”
Sobre o futuro, a artista sabe que, apesar de ter muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, quer levar tudo com calma. “Estou quase nos meus 30 e não desejo mais seguir um caminho cansativo ou numa lente capitalista. Sou uma jovem crescida, focada na minha tour e a cultivar um trabalho incrível que representa verdadeiramente quem sou como mulher angolana. Ao proporcionar ao público uma experiência totalmente imersiva que estimula todos os sentidos, quero incorporar a liberdade através do som, do movimento e da luz. Ademais, os meus principais objetivos este ano também incluem lançar um óleo perfumado para a pele, merchandise, que também está a caminho, e esgotar a tour juntamente com tudo o que Deus quer que eu faça”.
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