Iúri de Oliveira e o “Manifesto” de alma, sonoridades e identidade

10 de Janeiro de 2025

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Iúri de Oliveira, percussionista e compositor luso-angolano, tem uma carreira que atravessa fronteiras, com influências que vão da música afro-cubana à percussão tradicional africana e ibérica. Com uma carreira que soma mais de dez anos de experiência, Iúri é conhecido por ser um músico versátil, mas também pelo seu papel invisível nos bastidores de várias produções musicais. Contudo, 2025 marca um ponto de viragem na sua trajetória: o lançamento do seu primeiro álbum a solo, Manifesto, um trabalho profundamente íntimo e revelador, que reflete as diversas influências que moldaram a sua música.


Nascido em Caldas da Rainha, com ascendência angolana, Iúri sempre teve a música enraizada na sua vida. Desde a infância, foi influenciado pela percussão e pelos ritmos que fazem parte da sua herança cultural. Contudo, a sua formação musical começou de forma autodidata, até que se mudou para Londres, onde frequentou um conservatório para estudar percussão afro-cubana. Foi nesse ambiente que aprofundou os seus conhecimentos, mas sempre com um olhar atento às suas origens africanas, o que se refletiu nas escolhas musicais que veio a fazer ao longo da carreira.


Após uma passagem por Londres, Iúri continuou a sua busca por uma identidade sonora mais concreta, tendo estudado na Holanda e se instalado em Lisboa. Foi neste período que começou a trabalhar com alguns dos maiores nomes da música em português, como Sara Tavares, Lura, Karyna Gomes, Cuca Roseta, Dino d’Santiago, Branco, Agir, entre outros. Enquanto músico “de bastidores”, acompanhando grandes artistas, Iúri sentia que lhe faltava algo – a oportunidade de colocar a sua própria voz musical no centro do palco. Foi com este objetivo em mente que começou a preparar o álbum Manifesto.


Manifesto não é apenas um álbum, é uma celebração da sua própria jornada. Com este trabalho, Iúri mistura ritmos africanos tradicionais com influências de música latina e ibérica, criando uma sonoridade única. O álbum é profundamente pessoal, refletindo as suas experiências de vida, a sua ligação à ancestralidade africana e o seu amor pela percussão como linguagem universal. "Eu tento sempre usar a música como uma forma de expressão pessoalManifesto é isso: uma declaração de quem sou, de onde venho e de onde quero ir. Cada tema no álbum é uma parte de mim, da minha história e da minha música", explica Iúri.


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Agenda cultural
iuri de oliveira manifesto entrevista

©BANTUMEN


A criação do álbum envolveu um processo de fusão entre diversas sonoridades, onde Iúri teve a liberdade de explorar a percussão de forma expansiva, incorporando não só instrumentos tradicionais, mas também sons inesperados, criando uma atmosfera que transporta o ouvinte para diferentes paisagens sonoras. A utilização de timbres e texturas variadas é uma das características que definem este trabalho. "Eu sempre procurei explorar ao máximo as texturas sonoras que posso criar com os instrumentos. A percussão é a minha base, mas eu não queria que fosse apenas mais um álbum de percussão. Queria que fosse algo que transcende isso, que cria uma experiência completa para o público", diz o músico.


Uma das maiores influências de Iúri ao longo da sua carreira foi a sua ligação com o continente africano. A sua música está imbuída da energia e dos ritmos tradicionais de países como Angola, Moçambique e Cabo Verde. Apesar de ter crescido distante, o artista nunca deixou que isso o separasse daquilo que é a também a sua identidade. A música africana está presente em tudo o que faz. O álbum reflete exatamente isso, misturando a autenticidade das suas raízes com as influências mais contemporâneas da música mundial.


Apesar de ser um trabalho muito pessoal, Manifesto também carrega um peso coletivo, dado que a música de Iúri está profundamente ligada à celebração de diversas culturas. O álbum, que foi gravado nos estúdios da Musibéria em Serpa, é uma homenagem à sua herança, mas também à diversidade que encontrou ao longo da sua carreira. "Eu sou um explorador de timbres e gosto de explorar isso", explica o músico. Essa procura por novas linguagens sonoras é visível no disco, onde a fusão de diferentes estilos resulta em uma obra única, que está longe de ser limitada por qualquer fronteira de género.


O lançamento do projeto é um marco importante na carreira do artista. Durante anos, o músico foi a figura por trás de grandes produções, colaborando com artistas renomados, mas sempre à sombra do palco. Agora, com o seu primeiro álbum a solo, Iúri não só se coloca à frente, como também apresenta-se como um artista completo, pronto para desafiar as expectativas do público. A sua experiência em palco, com a sua energia única, também será um ponto forte da apresentação ao vivo de Manifesto. O álbum foi concebido para ser tocado de forma imersiva, com o público a ser convidado a participar ativamente da experiência musical. É uma performance a 360°, com uma experiência sensorial completa, onde a música, os ritmos e os timbres se entrelaçam com o espaço físico, proporcionando ao público uma imersão total.


Em relação à escolha do formato vinil para o lançamento, Iúri é claro sobre o seu valor simbólico. O vinil tem algo de especial, afirma. Não é apenas sobre a música, é sobre a cerimónia de ouvir. É um momento de conexão, um momento que exige uma presença física. E é isso que o artista quer proporcionar aos seus ouvintes. O formato físico, para ele, é uma forma de deixar uma marca que vai além do digital, algo que possa ser descoberto e apreciado por gerações.


Manifesto não é apenas um álbum, é uma celebração da jornada de Iúri de Oliveira, das suas raízes, da sua paixão pela música e da sua busca constante por novas formas de expressão. Este trabalho representa um novo começo, não apenas para Iúri, mas também para aqueles que o acompanham nesta sua evolução artística.

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