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Falámos com os criadores de "Iwajú", a nova série da Disney

20 de Junho de 2024
Falámos com os criadores de "Iwajú", a nova série da Disney
Corey Nickols/Getty Images

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Desenvolvida em colaboração com a Kugali, “Iwájú” é uma das mais recentes séries animadas da Disney e é um brilharete no que toca a Afrofuturismo. Ambientada numa Lagos futurista, na Nigéria, a série desdobra um conto de amadurecimento que prospera no otimismo e na consciência das disparidades sociais. No coração desta aventura, "Iwájú" narra as vidas da menina Tola, oriunda de uma família rica, e do melhor amigo Kole, que é um pequeno génio tecnológico autodidata. Juntos, eles estão prestes a descobrir os segredos e os perigos dos seus respectivos mundos.


Num misto entre estética futurista, avanços tecnológicos e tradições, o Afrofuturismo surgiu na indústria das artes por volta dos anos 1970 e 1980. O Afrofuturismo, sobretudo a da diáspora, é a representação artística de potencialidades fantasiadas ou interpretadas de África e/ou dos seus descendentes e é exatamente nessa senda que nasce a "Iwájú".


A Kugali Media, uma empresa de entretenimento pan-africana, sediada no Reino Unido, assina a produção e a BANTUMEN teve a oportunidade de falar com a equipa que o idealizou: o designer de produção Hamid Ibrahim, o consultor cultural Toluwalakin Olowofoyeku e o realizador Olufikayo Ziki Adeola.

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Agenda cultural

Toluwalakin Olowofoyeku, ou apenas Tolu, descreve a série animada como audaciosa devido à sua semelhança com o próprio espírito de Lagos. “O Hamid é do Uganda, enquanto eu e Olufikayo somos de Lagos. Curiosamente, quando começámos a trabalhar neste programa e o Hamid perguntou como é que eu descreveria Lagos, disse a mesma coisa: audácia. Há coisas absurdas, hilariantes e selvagens a acontecer nos bastidores de Lagos e, como qualquer outra pessoa dali sabe, tens plena consciência de que isso não aconteceria em mais nenhum outro lugar. A cidade tem uma dose doentia de ousadia, positiva e negativa, e “Iwájú” é o reflexo disso”, explica.


Quando questionado sobre o que levou a equipa a uma visão tão única da cidade de Lagos e a um enredo afro-futurista, Olufikayo, diretor, também conhecido como Ziki, explica: “No final de 2019, assinamos um acordo de desenvolvimento com a Disney e fomos solicitados a apresentar várias ideias. E, a partir desse momento, soube que tinha de contar uma história que se passa em Lagos porque é de lá que venho. Pareceu-me uma boa oportunidade para lançar algo inspirado na minha cidade natal porque, como imigrante que vive em Inglaterra, podes contar histórias às pessoas e tentar descrevê-las para elas, mas ainda assim, certas coisas só podem ser vivenciadas visualmente ou pessoalmente.” 

Temos todas estas histórias incríveis no continente e tantas mais por explorar, mas se pedires a alguém para citar duas, serão A Pantera Negra e o Shaka Zulu

Hamid Ibrahim

Trabalhar em animação é ter a possibilidade de imaginar e criar um sem fim de mundos e realidades, é isso que atraiu Olufikayo para esse universo. “A razão pela qual sempre quis trabalhar com animação é que só estamos realmente limitados pela nossa imaginação e, por isso, embora este não seja um documentário ou um vídeo promocional patrocinado pelo Turismo de Lagos, tem que haver uma componente imaginativa para este projeto e fazer algo no futuro pareceu uma forma de adicionar essa dinâmica e componente imaginativa”, explica.


Por sua vez, o realizador Olufikayo Ziki Adeola aka Ziki reforça que, apesar de estarem no negócio do entretenimento, e por mais que afirmem a necessidade de imprimir autenticidade num projeto, também é preciso “criar uma história para a qual as pessoas possam ‘escapar’ e divertir-se”. E o trunfo dos criadores foi a possibilidade de criar um projeto de ficção científica e ocidental com perspetiva africana, “uma vez que esses géneros são criados normalmente sob as lentes ocidentais”, disse. “E nós sabemos que certos estereótipos acompanham essas narrativas, especialmente na ficção científica. A oportunidade com “Iwájú” surgiu com a criação de um novo mundo e estilo de ficção científica, autenticamente africano, o que foi muito emocionante para mim como criativo e para todos nós. Só fazia sentido transmiti-lo no futuro porque o título da série, “Iwájú”, traduz-se como “o futuro” na língua iorubá (literalmente “virado para a frente”), que é a minha língua materna e a de Tolu”.


Apesar da Kugali ser uma agência emergente do cenário criativo no Reino Unido, as perspectivas de um dia trabalharem com a Disney não estavam ainda no radar. Pelo contrário, Hamid, o designer de produção, diz-nos a rir que a agência estava pronta para “dar cabo da Disney em África” antes da grande colaboração. “Tínhamos acabado de lançar um [crowdfunding] Kickstarter com o objetivo de criar a primeira antologia de capa de livro e, talvez, devido à tração, a BBC entrou em contato. Durante aquela entrevista, mencionei que íamos “dar cabo da Disney em África”. E só para contextualizar, disse isso porque temos todas estas histórias incríveis no continente e tantas mais por explorar, mas se pedires a alguém para citar duas, serão A Pantera Negra e o Shaka Zulu. Infelizmente, as nossas histórias não viajaram para fora, para o público mundial em geral e para além das nossas fronteiras. E isso sempre me assombrou e fez-me sentir um pouco abalado também”, afirma com franqueza.


Falámos com os criadores de "Iwajú", a nova série da Disney

Estreia da série em Lagos

Falámos com os criadores de "Iwajú", a nova série da Disney

Estreia da série em Lagos

Com foco na qualidade e narrativa, a possibilidade de fazer o que as grandes plataformas ainda não fizeram, ou que fizeram mal, é uma garantia de sucesso para qualquer produtora como a Kugali. Depois da entrevista à BBC, Hamid explica que ao contrário do que esperavam, a Walt Disney reagiu, e bem, ao que disseram. “Reconheceu a nossa paixão e encomendou algumas das antologias e histórias em que trabalhamos. Um ano depois, vimos que as nossas visões estavam alinhadas, porque a Kugali tem tudo a ver com contar grandes histórias africanas e, através dessa parceria genuína, ‘Iwájú’ ganhou vida”, afirmou. 


Tolu destaca que a equipa de animação da gigante norte-americana foi definitivamente a sua maior alegria e até a compara a ‘bolsos cheios de alegria’. “São pessoas genuinamente boas. Quando trabalhas num projeto por cinco anos, passas a interagir muito tempo com o mesmo conjunto de pessoas. Então, se não fossem boas pessoas e se as amizades não surgissem a partir de toda essa interação, poderíamos ter enfrentado uns longos cinco anos”, afirma soltando em seguida uma gargalhada. “Felizmente, fizemos grandes amigos ao longo do caminho. Todo o amor e magia que vemos nos filmes da Disney não são falsos. Vem dos funcionários e das equipas nos bastidores”.


Porém, como tudo na vida, a equipa também teve os seus desafios durante a produção de “Iwajú”. “Houve muitos desafios diferentes em pontos diferentes porque passamos das dificuldades no desenvolvimento para as dificuldades no storyboard e depois no marketing”, confirma Tolu. “Diferentes partes do programa tiveram diferentes tipos de desafios e, para mim, talvez o mais desafiador tenha sido a fase de marketing. Ainda assim, na Kugali prosperamos em cima de qualquer desafio, especialmente o Hamid, que gosta de qualquer coisa que o desafie. Em última análise, os desafios nem sempre significam coisas más”, explica.

Falámos com os criadores de "Iwajú", a nova série da Disney

“Iwájú” estreou em abril deste ano e, além das excelentes críticas, deixa uma série de questionamentos sobre o que seria da nossa geração atual se em crianças tivéssemos tido a oportunidade de nos revermos em desenhos animados semelhantes. Hamid relembra o que o fez apaixonar-se pela animação e confessa que “O Rei Leão” foi o motivo de tudo. “Quando era criança, adormeci no sofá e acordei com ‘O Rei Leão’ a tocar. E como tinha acabado de acordar, na minha cabeça pensei que estava a sonhar porque os ouvi a falar suaíli. Esse fator criou um momento de identificação enorme porque eu nunca tinha testemunhado nenhum desenho animado falar as línguas locais. Aquela música mudou tudo para mim. Então, imaginem agora uma série completa e o seu impacto ao captar a nossa cultura com tanta profundidade como fizemos. Eu pergunto-me o que isso fará pelo mundo”, indaga Hamid.


Na mesma linha, Ziki confessa ser difícil imaginar como teria reagido à série se a assistisse quando tinha oito anos. “Lembro-me de assistir Kirikou and the Sorceress, que foi interessante pelas suas profundas raízes na cultura africana e de pensar o quão diferente foi para mim. Embora “Iwájú” seja um projeto completamente diferente e haja semelhanças na sua afrocentricidade, não acredito que o mundo dos anos 90, que foi quando nasci, estaria realmente pronto ou mesmo apreciaria algo como este projeto. Acho que o momento é importante, então, se chegasse muito cedo, não seria a mesma coisa”, reflete o diretor.


Enquanto esperamos a sequência desta série animada, ou outras que nela se inspirem, Ziki confirma que ainda há muito por vir. No mesmo dia em que a série foi lançada, um jogo de telemóvel com o mesmo título foi disponibilizado e vem aí um novelização júnior que se foca em outros caminhos possíveis onde podemos explorar o mundo de “Iwájú” e os seus personagens.

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