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JotaPê nasceu em Osasco, na Grande São Paulo, e é um nome que, em pouco tempo, tem vindo a consolidar-se no cenário musical brasileiro e internacional. Aos 27 anos, o cantor e compositor desponta como uma voz significativa na música contemporânea, com uma trajetória que combina talento, trabalho e um olhar atento para questões sociais e culturais. A sua música, que mistura MPB, pop e influências do samba e do soul, reflete não só as suas vivências, mas também as complexidades do Brasil atual.
“A música sempre foi uma forma de traduzir o que eu sentia e vivia”, explica em entrevista à BANTUMEN, ao recordar os primeiros passos da sua carreira. O artista começou cedo, em pequenas apresentações nos bares de São Paulo, onde foi moldando a sua presença no palco e a relação com o público. “Era um desafio. Muitas vezes as pessoas não estavam lá para me ouvir, mas eu continuava, porque sabia que aquele era o caminho para algo maior.” O ponto de viragem chegou em 2018, quando participou no The Voice Brasil. Embora não tenha vencido a competição, o programa abriu-lhe portas importantes e, mais do que isso, foi o ponto de partida para aprendizagens que considera cruciais. “Fui para o The Voice com a mentalidade de aprender. Não era sobre ganhar, mas sobre descobrir como viver de música e como ser um artista profissional”, diz. A experiência permitiu-lhe perceber as dinâmicas do mercado musical e o impacto de uma atuação ao vivo numa plataforma com um número significativo de público - no Brasil, o programa era exibido para uma média de 80 milhões de espectadores. Apesar da pressão, ele destaca a importância de ter usado essa oportunidade para crescer artisticamente.
📸:Wilds Gomes/BANTUMEN
O ponto de viragem na carreira chegou em 2021, num ano que se revelou decisivo para o artista. Após ganhar visibilidade no Brasil, o cantor realizou a sua primeira digressão internacional, com quatro concertos em Portugal: Porto, Lisboa, Coimbra e Ovar. A receção foi melhor do que esperava. Em terras lusas encontrou um público diversificado, que já conhecia as suas músicas e com presença suficiente para esgotar todos os bilhetes.
“Lembro-me de subir ao palco no Porto e ver a sala completamente cheia. O público não era só brasileiro, mas também português, angolano e cabo-verdiano. Foi emocionante perceber que a minha música já tinha atravessado fronteiras”, recorda. Portugal, para JotaPê, não foi apenas um destino de estreia internacional, mas também um lugar de aprendizagem sobre o público europeu. “O público português ouve com muita atenção. É diferente do Brasil, onde o público é mais enérgico. Aqui, senti que as pessoas queriam realmente compreender o que eu estava a dizer.”
A consagração internacional veio em 2024. Além de ser reconhecido pela BANTUMEN como uma das 100 Personalidades Mais Influentes da Lusofonia, JotaPê tornou-se o primeiro artista brasileiro em duas décadas a vencer três categorias nos Grammys Latinos numa só noite. O álbum premiado, que contou com colaborações de destaque, refletiu a maturidade artística do cantor, explorando temas como racismo, identidade e capacidade de lutar pelos sonhos. Entre as faixas, Ouro Marrom destacou-se como um hino poderoso. “Foi a primeira música em que me permiti falar diretamente sobre racismo. É um tema que precisa ser abordado e que, para mim, faz parte da minha realidade enquanto artista e enquanto cidadão negro brasileiro”, explica. Durante a premiação, reforçou o compromisso com a luta antirracional, num discurso onde frisou que “ser negro não é sobre dor, é sobre tudo o que a gente conquista”. A conquista dos Grammys, além de trazer visibilidade à sua música, abriu portas para novas oportunidades, incluindo convites para festivais e colaborações internacionais.
Embora já tenha alcançado reconhecimento global, JotaPê mantém um desejo profundo de explorar as suas raízes africanas. Cabo Verde é um dos destinos que o cantor espera visitar em breve, não só para atuar, mas também para se conectar com a cultura local. “Eu quero conhecer Cabo Verde e outros países africanos que falam português. No Brasil, por causa da nossa história, perdemos essa ligação direta com as nossas origens. Quero recuperar isso, tanto pessoalmente quanto artisticamente.” Essa busca reflete-se na sua música, que é influenciada por artistas africanos como Cesária Évora, Mayra Andrade e Lokua Kanza. “Sem o álbum Manga, da Mayra Andrade, o meu disco não seria o que é hoje. A forma como ela se conecta com a música e com as suas origens inspirou-me profundamente”, revela.
Para JotaPê, a música não é apenas entretenimento; é um meio de gerar reflexão e de abordar questões urgentes. Inspirado por artistas como Nina Simone, que defendia que a arte deve refletir o seu tempo, o cantor vê na música um canal para discutir temas que muitas vezes são ignorados. “A arte tem esse poder de chegar onde as palavras muitas vezes não conseguem. Eu acredito que a música pode abrir conversas sobre questões difíceis, como racismo e desigualdade, mas de uma forma que toca as pessoas emocionalmente.” Essa visão fica evidente não só nas letras das suas músicas, mas também na forma como ele se posiciona enquanto artista.
Apesar do sucesso alcançado, o artista mantém os pés no chão. “O meu objetivo sempre foi simples: viver da música, ajudar a minha família e inspirar outras pessoas a acreditarem nos seus sonhos. Tudo o que vier além disso é consequência.” Com uma trajetória marcada por superação e autenticidade, JotaPê representa uma nova geração de artistas brasileiros que combinam talento com consciência social. A sua música, enraizada nas vivências pessoais, mas universal nos temas que aborda, continua a conquistar novos públicos e a reforçar a relevância da música brasileira no cenário internacional.
O menino de Osasco que frequentemente se apresenta de chapéu, tons terrosos e um violão transformou as dores da sua cor marrom em ouro. Viu no compromisso com a luta e com a ancestralidade tudo aquilo que serve de base para a criação da sua música. Não esconde que veio para ficar, ainda que essa certeza venha acompanhada da serenidade e calma que o caracterizam.
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