King Kunta, um artista que vive para mostrar a Guiné-Bissau ao mundo

16 de Fevereiro de 2025
King Kunta entrevista

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King Kunta MG é um dos destaques do próximo evento que celebra os dez anos da BANTUMEN, em Lisboa. Na sexta-feira, 21 de fevereiro, às 21 horas, o artista sobe ao palco do Musicbox para celebrar as suas raízes guineenses, acompanhado pelos conterrâneos Lil Boy Bruce, Missy Bity, Alice e Natty Pro.



Conversámos com o rapper, cujo nome artístico se inspira em Kunta Kinte, figura central da série norte-americana Roots, que retrata a história de um príncipe mandinga sequestrado e vendido como escravo, mas que nunca renunciou às suas origens. A alcunha consolidou-se com o lançamento da primeira música da saga Punchline, intitulada King Kunta, que rapidamente levou o público a adotá-lo como nome artístico. Já o "MG" mantém-se como referência ao seu primeiro nome artístico.



Falando sobre as suas referências, artistas como NGAValeteKid MCSam The KidKalibradosDji Tafinha Rhyman foram algumas das suas principais influências. “O NGA, principalmente, foi o artista que mais influenciou o meu gosto pelo rap em português, por me identificar bastante pela estética musical, as letras e o estilo de vida. Antes de me descobrir como artista eu queria ser igual a ele em tudo”. 

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A mensagem é mostrar a nossa ‘gang’ que são os guineenses, defender a nossa bandeira e proteger o nosso território que é a Guiné-Bissau

King Kunta

O seu primeiro contato com um estúdio profissional aconteceu em 2006, quando tinha apenas 12 anos. Foi recrutado pela PLAN Guiné-Bissau, uma organização que desenvolvia projetos para identificar e apoiar crianças interessadas na música, proporcionando-lhes a oportunidade de gravar temas infantis. “As memórias são muitas sobre essa época. Ainda me lembro como ontem quando ganhei o meu primeiro concurso de playback na escola ao som da música de Beto Dias e Suzana Lubrano. E depois, quando tive a oportunidade de gravar num estúdio, a sensação foi de ter entrado no ‘paraíso’, a estrutura montada com produtores internacionais não era uma coisa comum em Bissau. Pude fazer parte daquilo com a liberdade de escrever e cantar o que eu queria, foi algo surreal. Tivemos semanas de convívio com outras crianças de escolas diferentes e aprendi a conviver em grupo e partilhar momentos únicos”, explicou-nos.


Com o passar dos anos, King Kunta continuou envolvido em atividades musicais, inicialmente através de playbacks das músicas mais populares na altura. No entanto, em 2011, influenciado pelo rap em português, começou a escrever as suas próprias rimas. 


Artistas como NGA, Valete, Kid MC, Sam The Kid, Kalibrados, Dji Tafinha e Rhyman foram algumas das suas principais referências. Rhyman, em particular, tornou-se numa grande influência ao misturar o português com o crioulo nas suas letras, um elemento que King Kunta incorporou no seu próprio estilo. Foi nesse período que fundou, juntamente com dois amigos, o grupo de rap Black Energy. Cada membro do grupo tinha um pequeno estúdio caseiro, o que lhes permitiu gravar as suas primeiras músicas de forma independente.


Com a mudança para Lisboa, a produção musical sofreu uma pausa, pois não dispunha de um local para gravar. No entanto, em 2018, enquanto estudava na Universidade do Minho, em Braga, decidiu montar um estúdio caseiro juntamente com um amigo, Alfredo. A oportunidade surgiu quando conheceram alguém em Guimarães que estava a vender equipamento de um estúdio anterior. Foi assim que King Kunta retomou a gravação das suas músicas.


“O NGA, principalmente, é o artista que mais influenciou o meu gosto pelo rap em português, por me identificar bastante pela estética musical, as letras e o estilo de vida. Antes de me descobrir como artista eu queria ser igual a ele em tudo”. Por sua vez, entre risos, Kunta acrescenta que “Valete é o Valete, basicamente ‘fui obrigado’ a gostar dele porque os meus amigos veneravam-no. O conhecimento, o aprendizado que ele mete nas músicas faz dele um rapper único. Esses dois artistas fizeram eu ser aquele artista que traz a verdade nas músicas e, de alguma maneira, motivar e transmitir conhecimento. O maior obstáculo não foi não poder gravar na hora que eu quisesse, como antes fazia em Bissau porque tinha um estúdio em casa. Os estudos desviaram-me um pouco o foco na música mas, assim que terminei, decidi entrar de cabeça e investir o meu tempo e todos os meus recursos”.


King Kunta entrevista

King Kunta | 📸 DR 

O primeiro projeto oficial do rapper guineense surgiu em 2019, com o lançamento da mixtape Livro Aberto, inteiramente gravada no seu quarto. Com o término da universidade, em 2021, decidiu investir mais na carreira musical e juntou-se ao grupo de rap Lakaran Family, ao lado de Vaias Lakaran, Arkin e Raptor MC. O quarteto gravou as faixas "Bua" e "Gos Gora", inicialmente pensadas para um projeto coletivo que acabou por não se concretizar, levando os membros a fortalecerem os seus percursos individuais.


Em 2022, iniciou a produção do seu primeiro álbum, que inicialmente estava planeado como um EP, mas que acabou por ganhar maior dimensão e ainda se encontra em fase final de desenvolvimento. Em 2023, uniu-se a Carel Batista e Missy Bity para criar o projeto Abeny, que teve um espetáculo de apresentação em Lisboa e conta já com uma data agendada para a Guiné-Bissau, em abril deste ano.


Agora, em 2025, King Kunta prepara-se para lançar o álbum +245 é a Gang, que será apresentado no dia 12 de julho, no Lisboa Ao Vivo. O projeto conta com participações de nomes já conhecidos da música guineense, como Karyna Gomes, Tino OG, Ruben Azziz, Pazza Prince, Sangara Jr, Charline Vaz, Djonivelli, além de convidados surpresa. “As participações foram escolhidas pelo talento que os meus colegas têm, por me identificar com o que eles fazem, porque tenho certeza que eles vão acrescentar algo na minha música e, claro, algumas participações foram conseguidas ou sugeridas como uma forma de realizar certos sonhos. Sou um grande apreciador de música e tenho certos artistas guineenses como referência e poder colaborar com eles é realizar um sonho. A mensagem é mostrar a nossa ‘gang’ que são os guineenses, defender a nossa bandeira e proteger o nosso território que é a Guiné-Bissau, isso tudo no ramo da arte, principalmente com a música, pois eu sinto que precisamos afirmar-nos mais e ter o devido reconhecimento”, concluiu.


Ainda antes do lançamento do álbum, King Kunta MG junta-se a Lil Boy Bruce, Missy Bity, Alice e Natty Pro para uma celebração especial em homenagem à Guiné-Bissau. Este encontro acontecerá no dia 21 de fevereiro, às 21h, no Musicbox, em Lisboa, e integra as celebrações dos dez anos da BANTUMEN.

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