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Aproxima-se o grande dia: 9 de maio. O Coliseu dos Recreios vai receber, pela primeira vez, um concerto em nome próprio de Landrick, o Rei do Kuyuyu. Um momento que representa mais do que um simples espetáculo, é símbolo de superação, maturidade artística e fé. Antes da grande noite, sentámo-nos com o cantor, no próprio Coliseu, para falar sobre a carreira, os altos e baixos, o amor à música, a paternidade e o propósito maior que guia a sua caminhada.
“Estar aqui, neste palco, representa vitória”, disse-nos logo no início. “É a elevação da cultura africana, angolana em especial. Não é só um concerto, é um marco.”
Lando Ndombele, mais conhecido como Landrick, está focado e preparado para entregar e promete uma noite inesquecível, daquelas que ficam cravadas na memória e no peito. Com arranjos especiais preparados ao detalhe, garante que o concerto no Coliseu será uma experiência sensorial: “uma verdadeira massagem nos ouvidos”, disse. O artista quer emocionar, tocar corações e entregar-se por completo ao público que o tem acompanhado ao longo dos anos. Será, como ele descreve, “uma noite de alma”.
📸: Nuno Silva/BANTUMEN
Rei do Kuyuyu, o álbum, lançado em março de 2024, não foi fácil de parir. E Landrick não esconde: “Foi um processo muito difícil. Houve momentos em que quase desisti. Videoclipes que não saíam, músicas que quase ficaram na gaveta, coisas negativas a acontecer à volta... Mas eu e a equipa decidimos seguir firmes. E hoje estamos a colher os frutos dessa persistência.”
Um dos frutos desse percurso é “Babete”, uma das faixas com maior repercussão dos últimos tempos. A música tem batido recordes de visualizações inéditas no universo dos PALOP e foi recentemente integrada na banda sonora da nova novela portuguesa da TVI, “A Fazenda”. Um marco que, para o cantor, vai muito além dos números. “Mostra que valeu a pena não desistir”, afirma, com a serenidade de quem reconhece que os caminhos mais difíceis são, muitas vezes, os que trazem as maiores recompensas.
Mesmo assim, nem sempre foi fácil acreditar. “Nos primeiros meses após o lançamento, fiquei um pouco triste. Eu estava tão confiante, esperei resultados rápidos mas eles demoraram. E aí aprendi mais uma grande lição: confiar no processo, confiar no trabalho bem feito. Os frutos chegam. E chegam maduros.”
Um dos convidados especiais da noite de 9 de maio conhece este caminho traçado por Landrick. O artista deu os seus primeiros passos rumo ao sucesso na Bom Som, casa de Anselmo Ralph, e isso ninguém apaga. “Foi das melhores escolas que tive. Sou muito grato por tudo o que aprendi com o Anselmo. Aliás, ele vai estar comigo neste concerto, aqui no Coliseu.”
“Orgulho-me da pessoa em que me estou a tornar”
Landrick
📸: Nuno Silva/BANTUMEN
A saída de Landrick da Bom Som não teve tom de ruptura, mas de crescimento, uma transição natural de quem sentiu que era hora de voar com as próprias asas. “Foi o fim de um contrato, como quando os pais dizem: ‘o filho já cresceu, vai e mostra quem és’”, contou-nos com um sorriso na cara. E foi nessa necessidade de afirmar identidade e autonomia que nasceu a sua própria editora.
Hoje, mais do que intérprete, Landrick quer ser sementeira. Está comprometido em criar uma plataforma que acolha e impulsione novos talentos da música angolana. “Ainda estamos a crescer, é verdade, mas o objetivo é esse: abrir portas, criar estrutura e dar espaço a quem tem voz e vontade, mas ainda não teve palco.”
Se há algo que não faz estremecer Landrick, é a fé. “Eu sou evangélico. Fiz aulas de canto na Igreja Batista. A igreja teve um papel fundamental na minha formação.” Contou-nos, acrescentando uma memória de infância. “Estudava no Sambizanga e os meus pais vendiam no antigo Roque Santeiro. Às vezes matava aulas para apanhar boleia e poupar o dinheiro do táxi. Era miúdo. Mas um dia fui apanhado, suspenderam-me da escola. A minha mãe ofereceu-me uma bíblia e disse: ‘não gosto do rumo que estás a seguir’. Aquilo mudou tudo.” Desde então, a música e a fé andam de mãos dadas. “Sempre que entro em palco, peço a Deus que me capacite. Ele é a minha luz. E aconselho todos os jovens a pedirem a Deus direção para a vida.”
Quando o microfone se desliga e as luzes se apagam, Landrick é pai. Pai de gémeos. Entre viagens, ensaios e palcos, Landrick carrega uma missão maior do que a música: ser pai presente, mesmo na ausência. “Quero ser o melhor pai possível”, diz, com um misto de ternura e consciência do desafio. Não esconde que dói ouvir os filhos gémeos dizerem: “papá, ficas pouco tempo connosco”. No dia da entrevista, estava de malas feitas, - seguiria para Moçambique - e os pequenos já sabem o que isso significa.
Ainda assim, o cantor procura compensar cada minuto. “Explico-lhes que o papá está a trabalhar, que é para garantir a escola, os presentes, tudo o que precisam. E quando estou com eles, aproveito ao máximo.” Na véspera, acompanhou-os a uma aula experimental de jiu-jitsu. “Ficaram todos felizes. São esses momentos que me dão força.”
Para Landrick, ser pai é missão de vida. A paternidade, diz, é compromisso com o futuro. “Quero ensinar os meus filhos a pescar. Eles não vão passar pelas dificuldades que eu passei, mas têm de perceber o valor do esforço. Quero dar-lhes o que não tive, mas acima de tudo, quero ser exemplo.”
Esse amor incondicional transbordou para a música "Filhos", uma colaboração com o cantor brasileiro Péricles. “É uma música muito especial”, confessa. “Fiz para expressar o meu amor por eles e pedir a Deus que os oriente no caminho. O abraço deles renova-me. É neles que encontro força para continuar.”
À pergunta “se pudesses falar com o Landrick de 16 anos, o que lhe dirias?”, ele responde sem hesitar: “Diria que estou orgulhoso de ti. Do que conquistaste. Da inspiração que te tornaste. Mas também te dou um ralhete: ainda tens muito que melhorar. E eu tenho muito para trabalhar em mim. Mas quando olho para trás, vejo o quanto cresci. Orgulho-me da pessoa em que me estou a tornar. E quero mais. Muito mais.”
No dia 9 de maio, o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, vai sentir o peso de uma caminhada feita de resiliência, fé e amor. Vai ser uma celebração da luta de quem, vindo de baixo, construiu o seu caminho com dignidade, talento e verdade. Os bilhetes estão disponíveis nos locais habituais.
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