LilBoy Bruce, o som da nova geração guineense

9 de Fevereiro de 2025

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O artista guineense LilBoy Bruce é um dos cabeças de cartaz do próximo evento de celebração dos dez anos da BANTUMEN. Aproveitamos a deixa para conversar com o artista que está a consolidar o seu nome na cena musical, ao explorar sonoridades que atravessam o afrobeat, o afro-pop e outras influências da diáspora africana. Nesta entrevista, LilBoy Bruce fala sobre o seu percurso, as colaborações e os desafios da nova geração de músicos guineenses, sublinhando a importância da autenticidade e da identidade cultural que têm marcado e servido de base para o seu trabalho.

A sua mais recente faixa, "Macumba", reflete essa visão. O single, produzido por Vmbeatz, conta com a participação de Apollo G e surge como uma forma de desconstruir alguns dos estigmas associados à palavra. “A macumba é vista muitas vezes de forma negativa, mas na minha música tem um significado positivo, está ligada à ideia de acreditar no processo e seguir em frente”, esclarece o artista. A letra explora também temas como a valorização do corpo feminino africano, uma mensagem que LilBoy considera essencial para celebrar a identidade e beleza das suas raízes culturais.

LilBoy partilha que a música é um reflexo do seu percurso e das suas raízes. Nascido na Guiné-Bissau, cresceu entre o Senegal e a Nigéria antes de se estabelecer em Portugal. “Cheguei cá em 2019 e vi coisas que me desiludiram, mas transformei essas experiências em música”, contou, referindo-se ao EP Blade Man, onde abordou temas como a identidade africana e as desigualdades sociais. Para ele, a criatividade está profundamente ligada à experiência de vida e às dificuldades que enfrentou ao chegar num novo país. “Houve muita turbulência entre racismo e outras questões, mas essas experiências moldaram-me”, acrescenta.

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aniversário guiné
lilboy bruce entrevista

📷: BANTUMEN

“Posso fazer sons em crioulo, mas quero que eles sejam ouvidos em toda a África ”

LilBoy Bruce

O artista destacou também a evolução da música guineense e a sua crescente projeção internacional. “Sempre houve boa música na Guiné, mas agora os artistas descobriram como apresentá-la ao mundo”, disse, apontando para o impacto das redes sociais, especialmente do TikTok, na difusão das sonoridades produzidas por artistas guineenses. Segundo LilBoy, esta visibilidade é resultado de uma geração mais preparada e atenta às ferramentas tecnológicas. “A nova geração está a descobrir como fazer acontecer”, afirmou com entusiasmo.


Um exemplo dessa evolução são as colaborações internacionais, que LilBoy vê como uma porta aberta para a criação de projetos inovadores. Recentemente, o artista colaborou com o angolano Black Spygo, em Portugal, e participou num projeto no Brasil, onde teve a oportunidade de trabalhar com artistas locais influentes. “O Brasil tem uma cultura muito próxima da nossa e encaixou-se perfeitamente no meu projeto”, revelou. LilBoy destaca que, apesar de muitos desses artistas acumularem centenas de milhões de visualizações, mantêm-se humildes, o que ele considera inspirador.


Apesar do crescimento e do destaque que os artistas guineenses têm vindo a ganhar, LilBoy reconhece que há um longo caminho a percorrer. Parte desse processo passa por reconhecer e elevar os talentos nacionais. “Muitos guineenses davam mais valor à música de fora, mas isso está a mudar”, confessa. No entanto, o artista não acredita que se deva forçar o sucesso através de adaptações culturais que comprometem a essência da música africana. “Nunca podes mudar o que é música africana. Agora, cada artista é livre de escolher cantar em diferentes línguas. Depende sempre do que o artista quer transmitir”, defende.


LilBoy explica que o seu processo criativo não segue padrões rígidos. Ele prefere criar músicas baseadas em emoções e experiências autênticas, em vez de se prender a regras comerciais. “Eu gosto de cantar o que eu sinto. Não escrevo para agradar os outros. A música deve ser algo que te dê paz interior e te permita acordar feliz com o que criaste”, afirmou. Para ele, a integridade artística é essencial para garantir a longevidade na indústria.


lilboy bruce entrevista

📷: BANTUMEN

Com colaborações já feitas com artistas em Portugal e um novo EP a caminho, LilBoy reforça a sua visão de levar a música africana para além das fronteiras. “Posso fazer sons em crioulo, mas quero que eles sejam ouvidos em toda a África e não apenas na Guiné-Bissau”, explicou. A recente viagem ao Brasil consolidou essa missão, permitindo-lhe explorar novas sonoridades e estabelecer conexões com a cena musical local. O projeto foi elogiado por produtores brasileiros que o consideraram um “diamante” pela sua originalidade e potência sonora.


Sem pressa de lançar música, LilBoy mantém-se fiel ao seu processo criativo. Acredita que a mesma deve ser feita com propósito e respeito pela identidade cultural. “A música boa nunca envelhece. Antes de lançar algo, gosto de olhar para trás e ver o que já fiz, para garantir que o próximo passo seja sempre mais sólido”, afirmou. Para ele, o sucesso não se mede apenas por um hit momentâneo. “Eu tenho que fazer música que se identifique com a alma das pessoas, como se identifica com a minha”, concluiu.


Com uma carreira em ascensão, LilBoy Bruce segue firme na construção de um percurso onde a autenticidade e a representação da cultura guineense ocupam um lugar central. O artista acredita que, através do trabalho coletivo e da partilha de experiências, a música africana continuará a ganhar destaque em palcos internacionais.



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