“A escrita é um ato de amor e nós somos uma comunidade de amor, diz Lilián Pallares

28 de Fevereiro de 2025

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Pela segunda vez, a BANTUMEN marcou presença no evento literário Poéticas Afro-Atlânticas, realizado em Lisboa, na livraria SNOB, na última quarta-feira, 26 de fevereiro. O encontro reuniu poetas e escritores africanos e afro-latinos numa celebração conjunta da palavra, através da poesia, da ancestralidade e da identidade. 


Com o propósito de dar voz à poesia e conectar gerações, o evento serviu como palco para uma troca de ideias com uma das convidadas protagonistas: a escritora, guionista e produtora audiovisual Lilián Pallares. 


A artista, conhecida pela sua abordagem visceral, disruptiva e profundamente sensorial da poesia, protagonizou leituras importantes, incluindo “A Mulher Semente”, um poema que rompe as barreiras do patriarcado e incentiva a luta pelo empoderamento e a liberdade feminina. 


Lilián Pallares é uma poeta, escritora e artista audiovisual colombiana, nascida em Barranquilla em 1976. É formada em Comunicação Audiovisual e Jornalismo, com estudos adicionais em Criação Literária, Roteiro, Escrita Criativa e Filosofia. O seu trabalho literário abrange poesia, contos, crônicas, roteiros e monólogos humorísticos. Em 1999, Pallares venceu o concurso de Poesia Inédita da Universidade do Norte, em Barranquilla. Continuou a ganhar reconhecimento com os seus contos, conquistando o primeiro lugar no concurso "Reflexiones del vaivén" de 2007, organizado pela Revista Toumai, e no concurso "Servicio Anónimo", promovido pela Associação Cultural Fusionarte. 


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Pallares também é conhecida pelas suas performances inovadoras de "Afro-lyric", que misturam poesia com ritmos africanos e dança, criando uma expressão artística única. 

As suas contribuições para a literatura e a arte foram reconhecidas com vários prémios, incluindo a XIV Distinção Poetas de Outros Mundos. 

Atualmente, reside em Madrid, Espanha, onde continua os seus projetos artísticos.


“A Mulher Semente” 

Dizem que à noite sai para rondar os campos. 

Das suas marcas brotam rios de água doce 

e na sua cintura há um golpe de tambor endiabrado. 

Tem pés valentes e olhar esquivo, e a pele coberta de areia molhada. Nua, sobe ao alto da colina, cantando a canção que lhe sussurra o vento, e quando a lua estende sua longa saia branca, 

acaricia seu ventre fecundo até que o sol a esconde de volta 

nas profundezas da terra. 

E como é habitual, Pallares explorou a força da oralidade e da ancestralidade afro na sua escrita, reforçando que a literatura é um tambor que toca através do tempo, resgatando memórias e dando forma a novas narrativas. "A palavra não vive isolada, dança ao ritmo da vida, do corpo e do espírito", afirmou. 

Outro dos momentos marcantes foi a leitura de "Carne no Assador", um poema que fala do desejo, da intensidade e da dimensão visceral da existência. 


“Carne no Assador” 

Vermelha é a carne no assador. 

Arde o silêncio.

Queimam-se os nervos no seu molho picante 

e o homem é a faca que atravessa o desejo. 

Vermelho é o instinto e a língua. 

Vermelha é a carne nos teus dentes. 

Mastiga,mastiga-a,mastiga-te, que és carne viva. 

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