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MAGA, ou Make America Great Again (Tornar a América Grandiosa Novamente), foi o grande slogan que levou Donald Trump a conseguir um segundo mandato, tornando-se assim o 45.º e 47.º presidente dos Estados Unidos. Mas será este realmente o seu grande plano: tornar a América grandiosa novamente? E para quem?
Vinte minutos após o início da cerimónia de posse foram suficientes para constatar a agressividade que esta nova administração traria. Desde gestos nazistas (Saluto Romano) por parte do empresário e bilionário Elon Musk, que agora serve como "funcionário especial do governo" no Departamento de Eficiência Governamental, até à censura e insatisfação do presidente em relação à oração da bispa episcopal de Washington, Mariann Budde, que apelava à importância de salvaguardar os direitos humanos dos cidadãos amedrontados, especialmente da comunidade LGBTQ+ e dos imigrantes.
As primeiras 24 horas do segundo mandato de Trump foram marcadas por mudanças drásticas. A primeira grande ordem executiva foi a retirada dos Estados Unidos dos Acordos de Paris, com efeito imediato, tal como fez no seu primeiro mandato, em 2017. Durante a administração Biden-Harris, este tratado assegurava o comprometimento dos EUA com os esforços internacionais para a redução da poluição climática em até 66% no prazo de uma década. O papel preponderante dos EUA no tratado incluía também apoio financeiro de milhares de milhões de dólares a diversos países em vias de desenvolvimento, severamente afetados pelas alterações climáticas. Esta decisão foi irónica, já que uma semana após a tomada de posse, a cidade de Los Angeles amanheceu com o céu em chamas, devido a mais um dos seus devastadores incêndios florestais.
A saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi outra das grandes decisões do novo mandato de Trump, que terá impacto não apenas na população americana, mas também na comunidade internacional. A organização, que é responsável por coordenar respostas a ameaças emergentes à saúde global, já enfrenta debilidades financeiras. A retirada dos EUA, o maior contribuinte da OMS, responsável por cerca de 12 a 15% do seu financiamento, agravará ainda mais essa situação. Para o 47.º presidente americano, estes e outros acordos representavam apenas "fardos económicos" e "favores" prestados ao mundo.
Com as novas políticas migratórias, o medo institucional foi reinstituído entre os imigrantes residentes em várias partes do país. Uma das principais promessas eleitorais de Trump foi a "deportação em massa" de imigrantes indocumentados, motivada por discursos nacionalistas em que afirmava que os imigrantes "roubam" oportunidades profissionais dos cidadãos americanos e aumentam a criminalidade. A prática de deportações em massa não é novidade nos EUA, remontando ao governo de Dwight Eisenhower, em 1954. A administração de Barack Obama, entre 2009 e 2015, deportou cerca de três milhões de imigrantes, enquanto a de Joe Biden deportou 1,5 milhão entre 2021 e 2024.
Mas o que diferencia a iniciativa de Trump?
Ao contrário dos seus antecessores, que priorizavam a deportação de imigrantes condenados por crimes graves e de recém-chegados sem antecedentes criminais, Trump rejeita essa abordagem e quer deportar o maior número possível de pessoas. Estima-se que a população de imigrantes indocumentados nos EUA seja de aproximadamente 11,7 milhões, representando cerca de 4% da população total. Em 2022, estes imigrantes pagaram cerca de 96,7 mil milhões de dólares em impostos federais, estaduais e locais, além de representarem 19% da força de trabalho no país.
Este plano de deportação acarreta custos significativos. O processo divide-se em quatro fases: Captura, com um custo estimado de até 7 mil milhões de dólares; Detenção, que inclui a encarceramento de milhões de imigrantes em instalações apropriadas, gerando até 66 mil milhões de dólares em custos; Julgamento, que exige a contratação de pelo menos 10 mil juízes, com um custo estimado em 12,6 mil milhões de dólares; Deportação, avaliada em cerca de 2 mil milhões de dólares.
A primeira fase é atualmente liderada pela ICE (Serviços de Imigração e Alfândega dos EUA), que utiliza táticas de "iscas e denúncia". Sem mandatos legais para capturar os imigrantes, agentes da ICE invadem propriedades em bairros de maioria imigrante, muitas vezes sem se identificarem, para evitar que as pessoas desconfiem. Os detidos aguardam julgamento por tempo indeterminado antes da deportação.
Este processo enfrenta desafios devido à imprecisão da base de dados da ICE. Um exemplo dessa falha ocorreu em Nova Jérsia, a 24 de janeiro, quando agentes detiveram indevidamente imigrantes, um cidadão americano e um veterano militar dos EUA, segundo denúncias do prefeito Ras Baraka. O racismo estrutural desempenha um papel significativo nestas ações, já que muitas vezes a aparência física é usada como critério para identificação.
A discriminação estrutural não afeta apenas as minorias sociais, mas também os direitos de cidadãos americanos. Recentes ordens executivas de Trump suspenderam políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), que ele considera "tolices". Estas medidas representam um retrocesso nos esforços de igualdade social nos EUA, evocando o contexto das leis segregacionistas do presidente Woodrow Wilson, em 1913. A suspensão afeta tanto o acesso equitativo ao mercado de trabalho como a educação, já que várias instituições deixam de incluir questões de DEI nos seus currículos.
O segundo mandato de Donald Trump está a ser guiado por uma agenda nacionalista ainda mais intensa do que no primeiro. O ambiente ditatorial e de insegurança paira sobre os EUA, mas as intenções do governo são claras: (re)construir um país que beneficie uma elite privilegiada e reafirmar a posição dos EUA como a nação mais poderosa no cenário internacional.
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