Depois da desilusão e do luto, 2025 marca o renascimento musical de Márcia

19 de Janeiro de 2025
marcia entrevista

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Depois de uma pausa de dez anos, a cantora Márcia regressa aos palcos. Conhecida por temas como “Je t’aime encore” e “Única”, ela traz consigo não apenas a vontade de relembrar os seus sucessos, mas também de apresentar uma nova faceta. Durante este tempo afastada da música, Márcia dedicou-se a outras áreas, como o Design, e criou uma linha de skincare onde esteve envolvida em todos os detalhes, desde a formulação dos produtos até à construção da identidade visual da marca.


Márcia começou a gravar música ainda na adolescência, entrando em estúdios pela primeira vez aos 16 anos. "A música sempre me guiou; a fama nem tanto," afirmou. Para ela, fazer música sempre foi um processo terapêutico, uma forma de traduzir emoções e histórias em frequências que podem ser partilhadas com o mundo. No entanto, os primeiros anos da sua carreira não foram fáceis. Márcia enfrentou dificuldades com a sua antiga editora, mencionando que, apesar do sucesso do primeiro álbum, Márcia (2006), não recebeu compensações financeiras nem tinha conhecimento sobre direitos autorais ou royalties. "Foi um processo de aprendizagem, mas também de desilusão," admitiu.

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MREC RAHIZ

“A música era o meu primeiro amor, mas houve uma altura em que perdi a vontade de cantar”

Márcia

A relação com a música nem sempre foi linear. Durante a sua pausa, Márcia explorou outras identidades: designer, mãe, mulher. "Houve muito desenvolvimento e evolução pessoal que agora estou contente de partilhar com o mundo," explicou. No entanto, a música nunca deixou de ser uma parte essencial da sua vida, mesmo nos momentos em que parecia mais distante. "A música era o meu primeiro amor, mas houve uma altura em que perdi a vontade de cantar," contou. Foi um processo longo até que conseguisse reencontrar o prazer de fazer música, algo que descreve como um regresso gradual e necessário.

Durante a entrevista, Márcia destacou as dificuldades de ser uma artista independente no início da sua carreira. "Na minha época, eu não tinha manager, era eu que fazia tudo," lembrou. Isso resultou em frustrações e até mesmo num período em que ela deixou de cantar completamente. "Passei anos sem sequer cantar para mim mesma; foi como um luto," partilhou. No entanto, foi ao explorar outras facetas da sua vida que percebeu a importância que a música tinha para si. "O meu marido talvez sempre soube que o que me faltava era a música, mas eu estava em negação," confessou.

Este regresso marca também uma mudança na forma como Márcia se posiciona enquanto artista. Hoje, com mais experiência e autonomia, ela sente-se mais preparada para gerir a sua carreira de forma independente. "Agora sou dona do meu nariz, estou a gerir tudo," afirmou. Parte deste regresso inclui uma reconexão com os fãs e uma reintrodução ao mercado, aproveitando as redes sociais para comunicar diretamente com o público. "Com as redes sociais, é mais fácil mostrar quem sou, mas também é um desafio," reconheceu.

O primeiro passo neste regresso foi dado com o lançamento do single “Lei it go”, em colaboração com Kaysha, um nome consagrado do Zouk e da música lusófona. A parceria foi descrita por Márcia como natural e cheia de respeito mútuo. "Ele deu-me carta branca e tornou tudo mais fácil," afirmou. Este single reflete tanto o seu percurso como a vontade de explorar novos géneros e influências, incluindo elementos que marcaram a sua infância, como os estilos cabo-verdianos, R&B e neo soul.

Outro marco recente foi a participação no evento Old School, em Lisboa, que aconteceu no dia 1 de janeiro. Márcia foi a artista convidada para um live act que reuniu uma plateia cheia. Durante o concerto, os clássicos do seu repertório foram cantados em coro pelo público, criando um momento de partilha que, segundo a própria, foi essencial para reforçar a sua decisão de voltar. Este foi um sinal claro de que as suas músicas ainda ocupam um lugar especial na memória e no coração das pessoas.

marcia entrevista

📸 @noviclick

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📸 @noviclick

Apesar destes momentos de celebração, Márcia sabe que o percurso não será simples. A música, como forma de expressão e negócio, não é mais a mesma de quando ela lançou os seus primeiros trabalhos. "Hoje, com tanto ruído e movimento, é mais difícil destacar-se," comentou. Ainda assim, está determinada a equilibrar os sucessos antigos com novidades que reflitam quem ela é atualmente.

Durante a pausa, Márcia não abandonou a criatividade. O Design foi uma forma de manter a mente ativa e de explorar outras vertentes artísticas. A linha de skincare que desenvolveu é um exemplo claro disso. Ao assumir todas as etapas do projeto, ela mostrou uma preocupação em criar algo que fosse autêntico e representasse os seus valores. Este lado empreendedor é também uma extensão da sua capacidade de contar histórias, ainda que por outros meios.

Para os próximos meses, estão planeados vários concertos em nome próprio. Estes eventos serão uma oportunidade de voltar a estabelecer o vínculo com os fãs e de partilhar o que tem criado. "Há uma geração que cresceu com a minha música e nunca me viu no palco", disse Márcia. Além disso, a artista planeia lançar novas músicas e colaborar com diferentes criadores, como Andro Del Pozo aka El Condutor, antigo membro dos Buraka Som Sistema, que está a ajudá-la a traduzir as suas experiências numa identidade musical mais ampla e global.

A cantora refletiu também sobre o impacto das suas vivências globais na sua música. Ao crescer na Alemanha, com raízes nos PALOP e agora residente nos Estados Unidos, Márcia sente que a sua identidade musical reflete essas interseções. "O meu objetivo é traduzir todas estas experiências num som que faça sentido e que mostre quem sou," afirmou. Colaborações com nomes como Kaysha, Malcom Beats e outros beatmakers fazem parte deste processo de reinvenção artística.

Márcia não tem a pretensão de recuperar o tempo perdido, mas sim de continuar a construir a sua história. Este regresso é um convite para quem sempre a acompanhou e para quem está disposto a conhecer o que ela tem a oferecer agora. Não há garantias de como o público vai reagir, mas há uma certeza: a dedicação à música e às histórias que quer contar continua intacta.


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