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Mella Supply: a nova ferramenta de gestão para afroempreendedores no setor de beleza e bem-estar

24 de Novembro de 2023
Mella Supply: a nova ferramenta de gestão para afroempreendedores no setor de beleza e bem-estar

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A indústria de cosméticos, cuidados pessoais e bem-estar desempenha um papel essencial na rotina de milhões de consumidores. O conceito de wellbeing ganhou força após a pandemia e estima-se que, a nível europeu, a indústria de cosméticos movimente aproximadamente cerca de 60 mil milhões de euros por ano. O que antes era um lobby dominado por grandes marcas, vê-se agora surpreendido por novos projetos que trazem à tona a necessidade de repensar o bem-estar e alargar o debate às esferas física, mental e emocional.

A equação é, aparentemente, perfeita e todos saem a ganhar, mas há quem fique de fora não pela falta de capacidade, mas sim pela falta de recursos e estrutura para fazer o negócio avançar. Os BIPOC (black, indigenous and people of color) são disso exemplo e a Mella Supply entra como o denominador comum que falta na equação.

Ana Martins criou a Mella Supply depois de uma sucessão de perdas. Primeiro perdeu o pai, depois perdeu para o suicídio o amigo e chefe de cozinha do restaurante que gere em conjunto com a mãe, por fim, perdeu-se a si mesma. A necessidade de se manter forte no meio do caos levou-a a lidar com problemas como ansiedade, perda de peso e queda de cabelo. Quando finalmente começou a recuperar, optou por privilegiar não só a sua saúde mental, como também reforçar o seu compromisso com o autocuidado e foi aí que encontrou o mote que a levaria à criação da Mella.

Queria produtos naturais, adequados à sua pele e cabelo, criados de preferência por afroempreendedores e cujos custos de aquisição/envio fossem acessíveis. A dificuldade? Apesar da qualidade dos produtos, os afroempreendedores debruçavam-se com a dificuldade de alavancar os seus negócios sozinhos: ao mesmo tempo que tinham que garantir a qualidade do produto, eram também responsáveis por garantir a eficiência da logística, o crescimento das marcas e todas as estratégias a ele associadas.

A Missão da Mella Supply é ajudar a alavancar negócios da comunidade BIPOC na área de lifestyle, beleza e bem-estar, através de uma gestão de negócio mais eficiente  e da conquista de um maior espaço no mercado. A nossa missão é conseguida através de modelo de negócio digital e físico”, esclarece.

No campo digital, a solução passa pela Mella 360, uma plataforma onde empreendedores “podem gerir de forma eficiente e num único espaço” tudo aquilo que está relacionado com e-commerce: gerir o stock da loja, emitir faturas e fazer o tracking de encomendas. À parte destas funcionalidades, Ana pretende abrir um Mella Store no decorrer do próximo ano. O objetivo desta vertente do negócio é oferecer “um novo canal de vendas para estes empreendedores, bem como melhorar a oferta de produtos e experiência de cliente para afrodescendentes”. O último passo da estratégia de crescimento da Mella Supply passa por abrir um espaço físico de coworking – Mella Spaces – cujo objetivo é dar aos empreendedores a possibilidade de terem um espaço para gerir o negócio e estreitar os laços com a comunidade.

Ana vê na comunidade um dos valores centrais do seu projeto. E, apesar dos desafios que se colocam aos afroempreendedores, admite que o espaço é pequeno se olharmos para a quantidade de negócios existentes. A solução passa por criar estratégias e ferramentas que permitam tornar visíveis todos estes negócios dentro e fora das zonas periféricas.

“Acreditamos que o auto cuidado vai além de práticas superficiais. A nossa estratégia traduz-se em simplesmente OCUPAR ESPAÇOS, digitais e físicos. Através da nossa plataforma queremos que afroempreendedores aprendam e consigam crescer os seus negócios de uma forma eficiente e sustentável e normalizar a presença dessas marcas tanto no meio digital como em retalho, por exemplo, estar presente não só em lojas de periferia, mas trazê-las para o centro. Esta é a nossa forma de auto cuidado para com as marcas e afroempreendedores”.

Criar estes espaços é também reverter a experiência de cliente “pobre e cheia de pontos de fricção” que a maioria dos consumidores negros tem quando se fala do processo de aquisição de produtos através dos grandes players do mercado. Ana Martins admite que apesar de temas como diversidade e inclusão estarem na ordem do dia, eles não se refletem em termos práticos, pelo menos em Portugal. “Nos EUA ou UK já existe um maior comprometimento em dar shelf space aka espaço de prateleira a marcas BIPOC”. Para a empreendedora, é necessário que se passe das palavras à ação, não só com recursos, mas também através de investimento, permitindo que marcas BIPOC reforcem a sua competitividade junto das demais.

Tem de haver iniciativa em fazer com que as marcas BIPOC comecem e integrem mais espaços físicos de qualidade e digitais e, o mais importante, apoiá-las com recursos e investimento. Nomeadamente, torná-las certificadas, aptas e premium para competir neste sector que vale 500 biliões, mas onde empreendedores BIPOC têm ainda uma grande batalha para serem reconhecidas e representadas.”

A Mella Supply foi uma das 15 startups escolhidas para representar Portugal na última edição da Web Summit, numa iniciativa conjunta entre a Startup Portugal e a Djassi África, empresa de investimento criada por Fernando e Rudolph Cabral, dois irmãos guineenses com vasta experiência em empreendedorismo e criação de negócios. Para Ana, a conquista representa a verdadeira definição de speak it to existence.

“Eu tinha colocado no meu vision board que iria à Web Summit com MELLA SUPPLY, seja como atendee ou startup. Quando surgiu a oportunidade com a Djassi África, agarrei com unhas e dentes. Quando soube que entrei foi a realização de “se manifestarmos para o universo, há mesmo uma força que nos ouve e conspira a favor. Apenas temos de trabalhar na sua concretização.“

Apesar de o sistema em geral, em Portugal, não favorecer empreendedores negros, sobretudo mulheres, Ana acredita que resiliência e atitude proativa são os elementos necessários para contornar as adversidades. “Não há nada que nós não consigamos alcançar”, afirma, acrescentando que cabe aos afroempreendedores serem agentes ativos na mudança de cenários, histórias e perspectivas que querem ver na sociedade.

Ciente do caminho que há a fazer, mas com a sua proposta de negócio já validada na Web Summit, Ana pretende agora começar o projeto piloto com pequenos grupos para alavancar e afinar a plataforma. “O caminho que segue é muito ambicioso, mas não é de todo impossível.”

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