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Há um lugar em Bissau onde a cidade respira diferente e onde o tempo parece seguir um compasso próprio, marcado pelas gritarias das moedas aos balanços das mãos das pessoas. Esse lugar tem nome e alma: o Mercado de Bandim, lugar cujo governo mostrou, recentemente, intenção de reabilitar. Embora vista pela maioria com bons olhos, a notícia representa também aflição para alguns comerciantes, que temem perder os seus postos, à semelhança do que aconteceu aquando da reabilitação do mercado de Praça - depois do incêndio, há cerca de 19 anos, o mercado foi reconstruído, mas ainda assim houve comerciantes que perderam os seus postos por não conseguirem comportar os preços em função da nova reestruturação.
A BANTUMEN atravessou as vielas do mercado e mergulhou no quotidiano dos comerciantes para ver de que forma a notícia está a ser encarada. A rotina começa cedo: às 06:00 da manhã começam a chegar os primeiros comerciantes para limpar e organizar os seus lugares. À medida que a manhã avança, chegam os primeiros clientes. A maioria deles compra a grosso, mas há uns tantos que adquirem produtos para revender. Com o passar dos anos o Mercado de Bandim tornou-se num misto de cores, aromas e vozes que refletem a cultura e gastronomia guineense. Há mangas, arroz e cajus, mas também se vê a tecelagem dos “panu di pinti”, que continuam a ser um dos maiores símbolos culturais do país. O crioulo impera e o sentido de comunidade vai prevalecendo: é possível observar um trabalho feito em harmonia sem olhar a distinções.
Alfa Umaro é um dos muitos rostos que encontrámos no Mercado de Bandim. Comerciante de roupas há cerca de 30 anos, foi de Conacri para Bissau em busca de uma vida melhor. Não esconde que os primeiros tempos foram difíceis, sobretudo pela barreira linguística, mas acabou por superar as adversidades e consolidar-se como um dos maiores comerciantes do mercado, impulsionando alguns jovens a mergulhar no mundo do empreendedorismo. Conhecedor do mercado e de toda a sua dinâmica, Umaro vê a possibilidade de reabilitação com bons olhos. “Milhares de pessoas dependem desse lugar, melhorá-lo pode ser algo que vai mudar a visão do centro da cidade”, admite.
A conceção do mercado de Bandim remonta à década de 60 e desde o seu início que o espaço tem um papel importante na dinamização da economia local - estima-se que cerca de um terço das pessoas do país vivam na capital, Bissau, local onde o mercado está situado. Direta ou indiretamente, há uma parte significativa da população que depende de Bandim para seu próprio sustento. O mercado, que de poucas intervenções sofreu desde a sua criação, é considerado um dos pilares da economia nacional e melhorar o espaço é uma necessidade apontada por alguns comerciantes.
A reabilitação do Mercado de Bandim é um dos três projetos que foram apresentados no passado dia 11 de fevereiro, ao abrigo das obras de requalificação que a Câmara Municipal de Bissau pretende fazer na cidade. Além de Bandim, estão também previstas intervenções no Novo Shopping de Bissau e nos espaços públicos da capital, com destaque para a Praça Amílcar Cabral e para o Jardim da Assembleia Nacional Popular. “[Os projetos] representam um investimento no futuro da cidade, na qualidade de vida da nossa população e no desenvolvimento do nosso país”, afirmou Rui Duarte de Barros, atual Primeiro Ministro da Guiné-Bissau, aquando do anúncio.
Para Alfa, ainda que a reabilitação seja um passo importante, é igualmente necessário que o Governo e a Câmara Municipal de Bissau unam esforços para garantir que, depois das obras, os comerciantes possam continuar as suas atividades sem constrangimentos e sem medo de perder os seus postos por não conseguirem comportar os preços de aluguer do espaço. “Mesmo construindo tudo de zero, lembrem-se que nós demos vida a isso tudo. Que não façam igual ao mercado central”, apela, acrescentando que ”Bandim não é só mercado”. É resistência, identidade e tradição, e deve ser feito um esforço para preservar essas características mesmo com a modernização.
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