Nex Supremo e o rap crioulo aportuguesado

Num mundo onde o hip-hop se reinventa continuamente, artistas como Nex Supremo surgem não apenas como músicos, mas como verdadeiros narradores das suas realidades socioculturais. A recente conversa entre Nex e o jornalista Eddie Pipocas, disponível em várias plataformas de podcast, oferece uma visão profunda sobre a evolução do rap em Portugal, destacando o papel crucial da pandemia e da independência artística nesse processo.

Durante o confinamento, Nex lançou o projeto "Introduçon Di Lobu", uma obra que, segundo ele, beneficiou de uma atenção redobrada, considerando que tempo foi algo que todos tivemos de sobra durante os vários confinamentos. Esta situação inusitada proporcionou uma janela de oportunidade que o rapper soube aproveitar ao máximo. "A pandemia acabou por me beneficiar um pouco, porque as pessoas estavam em casa sem poder sair, e acabaram por ter mais tempo para ouvir música," explica Nex durante a entrevista.

A independência tem sido uma escolha deliberada para Nex, que prefere controlar a trajetória artística sem a interferência das grandes editoras. Este caminho permite uma genuinidade na música que ressoa com uma base de fãs que valoriza a autenticidade. 

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A entrevista também mergulha nas raízes de Nex, nascido e criado no bairro Fim do Mundo, no Estoril. A sua conexão com o rap começou cedo, influenciado por figuras chave da cena do rap português e pela cultura vivida no bairro, o que explica porque canta em crioulo. "Eu habituei-me a cantar em crioulo porque é a língua que uso diariamente," diz, destacando como a escolha linguística é mais do que uma preferência; é uma afirmação de identidade. Esta decisão, contudo, traz consigo desafios específicos. Apesar da autenticidade que confere à sua música, cantar em crioulo pode limitar o alcance do seu público. Nex está consciente disso e discute como tem considerado integrar mais português nas suas letras para alcançar uma audiência mais ampla, sem, contudo, comprometer a sua genuinidade. Ainda assim, ao ser questionado sobre se sua música se insere no rap crioulo ou no rap português, Nex responde que, apesar de cantar em crioulo, as suas obras pertencem ao rap tuga, pois apresentam uma diferença marcante em relação ao que se faz em Cabo Verde, além de utilizarem um crioulo influenciado pelo português.

Ao contrário de muitos artistas que se focam em singles, Nex tem uma preferência por projetos completos, vendo-os como oportunidades para explorar temas de forma mais profunda e conectada. Desde 2020, ele lançou um projeto por ano, uma cadência notável que reflete compromisso com a consistência e a qualidade.

A discussão entre Eddie e Nex abrange ainda as nuances do mercado musical, a estratégia de lançamentos e a importância de manter uma voz autêntica num mundo que muitas vezes prioriza o comercial.