Marcas por escrever
Contactos
BantuLoja
Pesquisa
Por
Partilhar
X
No âmbito do projeto Corredor do Lobito, emergem inúmeros questionamentos sobre o futuro do povo angolano. Será mais um projeto que beneficia principalmente os cofres do Estado ou representará uma verdadeira parceria que trará melhorias para as condições do cidadão comum?
Para obter uma perspetiva esclarecida, falámos com Pedro Paposseco, um jovem angolano que reside nos Estados Unidos, onde é estudante de doutoramento em Ciências Políticas e Assistente de Ensino de Pós-Graduação de Governança Federal Americana na Universidade de Oklahoma. A sua experiência permite-lhe analisar a situação sob uma dupla ótica: a científica, pela sua formação em política americana, e a pessoal, pelo seu conhecimento do contexto angolano.
Na entrevista conduzida por Lea Komba, conseguimos obter uma visão holística e realista, distante das especulações das redes sociais. Pedro alerta para uma comunicação pouco transparente sobre as verdadeiras intenções por detrás deste projeto, criticando a mídia por se focar excessivamente na promoção das relações entre os Estados Unidos e Angola, quando na realidade a situação é muito mais complexa e envolve estratégias de domínio territorial da África Austral por parte das duas maiores potências econômicas presentes no continente, a China e os EUA.
Pedro apresentou estatísticas e referências, incluindo dados da Lobito Corridor Investment Promotion Authority (LCIPA), destacando a preocupação de Washington com a dominância chinesa nos minerais da região. Lembrou que a República Democrática do Congo é o maior produtor mundial de cobalto, responsável por cerca de 70% da produção global.
Questionado sobre o impacto social do projeto, Pedro distinguiu entre os benefícios para o Estado angolano — como o aumento da visibilidade internacional e o interesse de diversos investidores — e o impacto nas comunidades rurais, onde a estrutura do projeto será implementada. Alertou para possíveis problemas ambientais, como derramamentos de combustíveis e resíduos perigosos, e para o aumento do contrabando que pode colocar em risco a vida das populações locais.
Além disso, revelou que acordos entre o setor privado e o estatal preveem um prazo de até 30 anos de serviços. A empresa Lobito Atlantic Railway obteve uma concessão de 30 anos para fornecer serviços ferroviários, com um investimento de 455 milhões de dólares em Angola e 100 milhões de dólares na República Democrática do Congo, conectando as regiões de Luacano (Moxico, Angola) a Jimbe (fronteira entre Angola e Zâmbia) num total de 259 quilômetros. Esta concessão poderá ser prorrogada por mais 20 anos, totalizando até 50 anos.
Pedro Paposseco também refletiu sobre o contexto mais amplo: “Num cenário em que a China exporta recursos minerais pelo porto de Dar es Salaam, na Tanzânia, os EUA desenvolvem infraestruturas para utilizar o Porto do Lobito. Isso levanta a questão: será esta a nova corrida pela África e seus recursos?” Concluiu que, apesar de uma aproximação recente, Angola ainda não é vista como um aliado estratégico dos Estados Unidos, e que a relação entre os dois países é mais uma questão de interesses específicos do que uma verdadeira parceria.
Finalmente, alertou para questões de segurança nacional, recomendando que o governo angolano adote medidas inteligentes para proteger a sua soberania, sem descartar a possibilidade de investimento militar americano em Angola.
Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.
Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
Recomendações
Marcas por escrever
Contactos
BantuLoja
© BANTUMEN 2024