Casa cheia para encontro de poesia africana em Lisboa

Na última quarta-feira de cada mês, Lisboa acolhe o projeto Poéticas Afro-Atlânticas, um encontro que dá voz à poesia africana e de outras geografias ligadas pelo Atlântico. O evento decorre na livraria Snob, em Campo de Ourique, e reúne poetas, leitores e curiosos.

A iniciativa foi proposta há três anos pelo escritor angolano João Melo, em colaboração com os poetas Zeto Gonçalves (Angola), Luís Castro Mendes (Portugal), Ronaldo Cagiano (Brasil) e Lauren Mendinueta (Colômbia). O objetivo passa por conectar literaturas de países com um passado histórico comum e ampliar o acesso à poesia africana em língua portuguesa.

A ideia é simples: microfone aberto para quem quiser recitar poemas e textos autorais. Conhecida pela aposta em edições independentes e fora do nicho convencional, a Livraria Snob torna-se o espaço ideal para o evento.

Para João Melo, um dos organizadores da tertúlia, é fundamental que se fuja a “esta lógica de acantonar a nossa poesia apenas a nós próprios”. Defende que a literatura africana não deve ficar confinada a círculos restrios e, por isso mesmo, “nada melhor do que esse grande oceano, que nos uniu a todos: africanos, europeus e americanos, ao longo da história”. João Melo é reconhecido como um dos grandes escritores da sua geração e tornou-se um nome incontornável da poesia angolana no período pós-independência. A sua obra “Exercícios e Linguagens”, lançada pela Editorial Caminho, está entre os 11 finalistas candidatos ao Prémio Literário Casino da Póvoa de Varzim, do festival Correntes d’Escritas, em Portugal. 

A edição mais recente do evento, na qual a BANTUMEN esteve presente, contou com a participação de Álvaro Fausto Taruma, de Moçambique, e José Luís Mendonça, de Angola. A estes, juntaram-se outros poetas dos três continentes, bem como professores e críticos literários, para se discutir o rigor estético e diálogo cultural entre gerações, o pós-independência, a crise, e o estado social das nações.