Projeto MUDA quer combater o assédio no setor artístico em Portugal

Criado para transformar práticas de trabalho e combater o assédio no setor cultural em Portugal, o projeto MUDA - Assédio nas Artes arrancou em abril de 2025, propondo um conjunto de ações focadas em informar, capacitar e proteger profissionais das artes.

A primeira atividade do projeto é a realização de um estudo científico sobre as diferentes manifestações de assédio laboral, seja sexual ou moral, no âmbito das artes performativas e dos cruzamentos disciplinares em Portugal. Financiado pela Direção-Geral das Artes (DGArtes), o estudo pretende ainda analisar o impacto psicológico e social do assédio sobre quem o vivencia. O inquérito de recolha de dados será lançado em junho deste ano e a publicação final dos resultados está prevista para março de 2026.

O MUDA é coordenado pelas artistas e investigadoras Catarina Vieira, Raquel André e Sara de Castro. A investigação científica está a cargo de uma equipa multidisciplinar composta por Ana Bártolo e Isabel Silva (Psicologia), Dália Costa (Sociologia) e Joana Neto (Direito do Trabalho).

O projeto nasce de um percurso de escuta e reflexão iniciado entre 2018 e 2019, quando Catarina Vieira e Raquel André reuniram um grupo de mulheres profissionais das artes para partilhar experiências no setor cultural, sob uma abordagem feminista interseccional. Desses encontros emergiram relatos que evidenciaram a dimensão do assédio no meio artístico e a necessidade urgente de aprofundar o conhecimento sobre o fenómeno.

Paralelamente, projetos artísticos desenvolvidos por Raquel André, Sara de Castro e Catarina Vieira continuaram a explorar questões de género, desigualdade e violência, envolvendo comunidades diversas em Portugal e no estrangeiro. O tema voltou a ser debatido publicamente em 2022 e 2024, durante conversas organizadas pela PLATEIA e pelo sindicato CENAS-STE, onde participaram agentes culturais, profissionais das artes e especialistas em Direito do Trabalho.

Além do estudo em curso, o MUDA ambiciona desenvolver novas atividades, como a criação de um Manual de Boas Práticas, ações de formação e conversas abertas sobre o assédio nas artes, ainda dependentes de financiamento.

O projeto surge num momento em que o setor cultural português se interroga sobre as suas estruturas de poder e onde cresce a consciência coletiva sobre a necessidade de espaços de trabalho mais seguros, igualitários e livres de violência.