Resistir é vencer. Revolução dos Cravos e do colonialismo

25 de Abril de 2025
Revolução opinião

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Quando se fala na Revolução dos Cravos no contexto do debate colonial, há dois exercícios-chave, para o entendimento concreto das questões e o desmembrar dos acontecimentos: primeiro, a capacidade de revisitar criticamente a história e os factos históricos, e segundo, uma reflexão mais plural sobre o significado do 25 de Abril, questionando as narrativas de glória e a epopeia lusitana que nos foi imposta. 


Ao fazer-se esta viagem histórica do presente para o passado, o grande marco objetivo com a queda do império e das aspirações coloniais, é que a resistência, deslocada da ideia tradicional de dominação, já representa uma forma de vitória, independente do seu resultado imediato. 


Esta ruptura estrutural, pendurada numa âncora filosófica como ferramenta de lucidez, inaugurou uma nova ordem, que não era apenas pautada pela independência política dos povos, mas também e sobretudo pela disputa de sentidos sobre identidade, sobre liberdade cultural e sobre fundamentalmente a reivindicação do direito a existir.


Deste modo, resistir deixou de ser mera oposição aos factos e passou a ser um ato de dignidade humana e auto-proclamação de existência.


Um grande exemplo disso, foi a emancipação artística em grande escala que se verificou e tomou nota. Imensas músicas de pendor interventivo deram origem a essa grande ressignificação em tempos e espaços diferentes. 


Poesia, dança, choro, canto, e grito popular. 


Essas manifestações artísticas perseguiam o mesmo desígnio histórico contra a aniquilação simbólica dos povos e da sua identidade, que culminou numa afronta à psicologia colonial, para afirmação de uma narrativa própria e o papel da arte como arma de contestação. 


Isto quer dizer, entre outras coisas, que a autodeterminação e a expressão autónoma de nós mesmos, construiu um caminho de tradução emocional e política, voltado para a mobilização, memória e ganho de consciência, através da ruptura com narrativas impostas e através  da unidade com a produção de mundos alternativos e futuros possíveis.


Assim, "Resistir é vencer". E não apenas triunfar sobre o opressor, mas garantir que a história não seja esquecida, que a luta continua, e que as sementes da resistência podem dar frutos além de quem as plantou.


Então, agora voltamos ao início. Ao debate colonial, e a necessidade de uma narrativa crítica, que escapa dos poemas heróicos e resgata as pequenas sanzalas para o centro dos grandes acontecimentos: um brinde à liberdade, e um feliz 25 de Abril. 


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