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Com multi formação profissional, é na arte que Sandra Lima e Silva se encontrou, há mais de três décadas. Ela nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1961, onde vive e trabalha. Em 1987 graduou-se em Odontologia pela PUC/MG. No ano de 1992 formou-se em Arte Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG. Em 2008, especializou-se em Educação para Bem-Dotados e Talentosos pela UFLA/MG. De uma família de classe média, miscigenada, com origem europeia, africana e indígena (comprovada pelo exame de DNA Origens), Sandra conta com orgulho que honra toda sua ancestralidade, sem excluir nenhum ramo dessa árvore genealógica.
Confirmando o que disse o escritor e poeta brasileiro, Ferreira Gullar: “a arte existe porque a vida não basta”, a partir de 2011 passou a se dedicar integralmente à arte, quando ela se deparou com uma condição de saúde que a impediu de seguir atuando como dentista. “Nesse momento, eu já tinha uma carreira em arte com passagem pelos principais espaços de Belo Horizonte, senti a necessidade de expandir minha atuação como artista visual ", contou Sandra. “Entrei em contato com um querido amigo, artista plástico, Roberto Bethônico. Mostrei-lhe minha recente produção, à época, e a resposta foi: - você está pronta, não há o que dizer, coloque sua cara no mundo. E eu literalmente fiz isso”, relembrou a artista.
Foi então que Sandra iniciou uma carreira internacional, que hoje considera bem-sucedida. Foram participações em exposições na Argentina, Bangladesh, Eslováquia, Espanha, China, Coreia do Sul, Filipinas, Índia, Indonésia, Irã, Itália, Japão, Líbano, Lituânia, Macedônia, Malásia, Malta, Myanmar, Nigéria, Nepal, Portugal, Romênia, Turquia, Estados Unidos e Venezuela. Contando com 19 bienais internacionais, obras nos acervos e coleções de museus espalhados pelo mundo. Além de publicações em livros de arte nas Filipinas, Reino Unido, e Portugal.
Segundo ela, suas referências para a arte vêm da sua própria trajetória. “Não há como excluir tudo que vivi, vivenciei, construí e almejo, do que faço em arte. Minha inspiração é a vida em suas mais variadas dimensões. O fato de eu ter uma formação profissional diversificada me permitiu observar as fragilidades, as incertezas, as virtudes, os medos, os conflitos, as diferenças e as semelhanças humanas, e como isso interfere na compreensão global de que somos iguais e habitamos o mesmo planeta”, explicou a artista plástica.
Seja na pintura, gravura ou objetos, Sandra, que se define essencialmente uma colorista, explora a vida, tendo o comportamento humano como mote principal. “Trabalho com linguagens plástica e tecnicamente diferentes, que me permitem criar imagens completamente distintas, mas que têm em comum a simbologia como meio de conexão”, definiu assim seu trabalho durante a entrevista.
Ao ser perguntada sobre o que a sua arte quer dizer, ela responde que, através da sua obra gosta de instigar o espectador a refletir sobre o título da obra, que é indissociável da mesma, e a imagem apresentada. A temática sempre será a vida, as relações humanas, e o forte desejo de que deixemos de ser consumidores contumazes e nos tornemos cidadãos globais. “Minhas obras contam histórias, formulam perguntas, questionamentos, aguçam curiosidades”.
“Por exemplo, minha obra “Celebremos, somos mais uma vez Pangeia! ”, produzida em 2021, é uma alegoria à vida. Estávamos enfrentando a pandemia da Covid-19, e os Jogos Olímpicos haviam sido adiados de 2020 para 2021. O esforço empreendido na cooperação científica entre os povos no desenvolvimento e produção de vacinas, se assemelhava, para mim, ao Espírito Olímpico, onde as diferenças permanecem, mas todos buscam e se concentram no essencial: o ser humano. Diante desse pequeno sopro de esperança de que dias melhores viriam, cabia a todos celebrar a vida e o encontro da humanidade que habita cada um de nós.”
Título: Celebremos, somos mais uma vez, Pangeia!
Técnica: acrílica e látex sobre tela
Dimensões: 80 x 120 cm x 5cm
Ano: 2021
“Outra obra “A Origem”, produzida em 2018, é referenciada na minha experiência de ser uma cidadã brasileira, que em viagem à China é confundida como uma cidadã chinesa. Esse pequeno incidente me fez refletir sobre quais características indígenas trago comigo, e que são invisibilizadas de tal forma na sociedade em que vivo que eu mesma não conseguia enxergá-las. A preponderância do binarismo fenotípico branco e preto, coloca o mestiço no limbo da invisibilidade. Fiz meu DNA Origens, cujo resultado foi 70% europeia, 25% africana e 5% América Central e Escandinávia. Pesquisando as rotas migratórias dos povos originários chineses, há documentação comprobatória da presença deles na América Central. Daí as características que trago em mim reconhecidas por eles.”
Título: A Origem
Técnica: acrílica sobre tela
Dimensões: 80 cm x 100 cm x 5 cm
Ano: 2019
Apesar de todas estas conquistas, seu maior desafio na atualidade, ela declara, é estar no radar do mercado de arte brasileiro. “Os caminhos que a arte tem me aberto são transformadores e ratificam cada vez mais a escolha que fiz. Mas os desafios são permanentes. A carreira de artista plástico no Brasil não é fácil, ainda contamos com um mercado de arte centralizado no eixo Rio-São Paulo. Há escassez de políticas públicas voltadas para as artes visuais, dificuldade de assimilação da produção artística pelo público, e o alto custo da produção, ” definiu Sandra Lima e Silva.
Ao ser solicitada a deixar um recado para os empreendedores negros que estão no início da carreira ou para os talentos negros que ainda não encontraram a coragem para empreender seus talentos, respondeu: “Estamos em um momento importante de visibilidade para os artistas negros. Aproveitem as oportunidades, participem de editais e convocatórias sem medo da rejeição, porque quando nos inscrevemos entramos com 50% de chance de sermos selecionados, e 50% de chance de sermos recusados, então não há nada a perder. E o mais importante, seja qual for a linguagem artística na qual você se expresse, que ela esteja acima de tudo comprometida com a sua verdade interior”, disse Sandra Lima e Silva.
Ela encerra: “a carreira como artista é desafiadora para qualquer um que queira abraçá-la. Não somos considerados como uma classe trabalhadora, lidamos e produzimos o insólito. No entanto, a produção em arte contemporânea exige conhecimento, pesquisa e objetivos delineados. “
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