Sandro Feliciano, entre o teatro e música, revelou-se uma voz para a negritude

24 de Janeiro de 2025
Sandro Feliciano entrevista

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Na música de Sandro Feliciano, que também se apresenta como Malammore, a negritude é celebrada, questionada e afirmada. Influenciado pelo fado e pelo hip-hop, o artista usa as suas composições para narrar as complexidades da experiência negra em Portugal, dando voz às memórias e aos desafios que moldaram a sua identidade. Com temas que vão do desamor à crítica social, a sua música é um manifesto que procura humanizar o corpo negro e iluminar a vivência de jovens negros numa sociedade marcada por desigualdades.


Nasceu em Lisboa, mas é na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, que Sandro cresceu e moldou a sua identidade. Filho de pais cabo-verdianos, desde cedo encontrou no teatro a sua paixão. Aos 8 anos, ingressou na PALCO – Escola de Teatro do Grémio, onde permaneceu durante seis anos, explorando textos de autores como Fernando Pessoa, Tchekhov e Goldoni. "Foi ali que descobri o poder das palavras e a força das histórias", relembra.


Durante a sua formação, frequentou diversos workshops que enriqueceram as suas competências artísticas: "Máscara Neutra" com Patrícia Soso, "Movimento Corporal" com Bruno Cochat, "Representação e Expressão" com Pablo Evoé, "Iluminação de Cena" com Daniel Gonçalves, "Escrita Criativa para Teatro" com Lara Barradas e "Representação para Audiovisual" com Marlene Barreto. Sandro também participou em projetos do Teatro Nacional D. Maria II, como a "Oficina de Verão para Jovens" com Catarina Aidos e "KCena" com Sandro William Junqueira, onde apresentou a adaptação de "Animal Farm", de George Orwell.


No Grupo de Teatro do Grémio, destacou-se em produções como "No Mundo do Esquecimento", "A Condessa de Marsay" e "Namae Nashi". A sua trajetória ganhou novo fulgor em 2021, quando ingressou na Escola Profissional de Teatro de Cascais (EPTC). "Foi um marco na minha formação. Ali, pude explorar diferentes autores e géneros, desde Strindberg a Gil Vicente, Bernard-Marie Koltès, Jean Genet e tragédia grega", explica.

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Sandro Feliciano entrevista

Sandro Feliciano, captado pela lente de Wilds Gomes, na "Rua Verde", em Lisboa, 2024 ©BANTUMEN

Sandro Feliciano entrevista

O seu talento não passou despercebido, levando-o a trabalhar com Pedro Penim em 2022 na produção de Casa Portuguesa, do Teatro Nacional D. Maria II, que continua em digressão. No ano seguinte, integrou o elenco de Farsa de Inês Pereira, também dirigida por Penim.


Para além do teatro, Sandro abraçou a escrita e a música como formas de expressão. Aos 14 anos, enquanto estudava teatro em Cascais, começou a escrever poemas, inicialmente com o objetivo de os musicar. Influenciado pelo fado e pelo hip-hop, desenvolveu um estilo único, com composições que abordam temas como desamor, preconceito, política e experiências autobiográficas. "A escrita é um espelho da minha vivência. Cada palavra carrega memórias e a força da minha identidade", partilha.


Em agosto de 2024, pelo nome de Malammore lançou o single "Dia 26", o primeiro passo de um projeto musical. Sandro através da música quer "humanizar o corpo negro". 


Recentemente, apresentou a música "Não Quero que Chores", uma homenagem aos seus pais e onde reflete sobre questões raciais e a experiência da negritude, alinhando-se com a visão de Sandro de "dar ao buraco branco do mundo uma nova negritude e a todo o jovem negro uma nova luz".


A canção celebra a cultura e os valores que lhe foram transmitidos, ao mesmo tempo que reflete sobre os desafios de crescer como jovem negro numa sociedade racista.


 "Esta música marca o momento em que me tornei independente e em que a minha negritude passou a ser o foco da minha existência, para além das minhas capacidades físicas e intelectuais", explica. Para Sandro, "Não Quero que Chores" é mais do que uma canção; é um manifesto de identidade e resistência.


Entre o palco e a música, Sandro Feliciano continua a construir uma narrativa que celebra as suas raízes e desafia os estereótipos, utilizando a arte como um instrumento de afirmação e transformação social.

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