Tabanka Djazz e Memu Sunhu em concerto: "Não apoiar os mais novos é matar a nossa cultura"

23 de Dezembro de 2024

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Na última sexta-feira, o Armazém 18, em Odivelas (Portugal), foi palco de um encontro histórico entre duas gerações de músicos guineenses. A icónica banda Tabanka Djaz, com mais de três décadas de carreira e o coletivo Memu Sunhu, grupo sensação da cena musical guineense partilharam o palco em Encontro de Gerações, espetáculo que celebrou a música e a cultura guineense, reafirmando a importância e união para o fortalecimento da música nacional.

À BANTUMEN, o jovem coletivo revelou que a ideia de dividir o palco com Tabanka Djaz, as suas grandes referências musicais, surgiu de uma inspiração divina. “A ideia partiu de nós, mas considero que foi uma inspiração divina, convidamos os nossos ídolos para dividir o palco. E isso não significa que somos colegas, eles são as nossas referências. Estamos aqui para aprender com eles. Espero que outros artistas da nova geração sigam esse exemplo.”

Para os Memu Sunhu, a experiência de partilhar o palco com Tabanka Djaz é a realização de um sonho. “Antes de começarmos, já curtíamos as suas músicas e nos espelhávamos neles. Agora, poder aprender com a sua experiência é algo muito significativo para nós. Dividir o palco com eles é uma sensação indescritível, mas vamos aproveitar ao máximo para absorver o seu conhecimento”.


A relação entre os dois grupos se intensificou em 2022, após a participação dos Memu Sunhu representando a nova geração, no concerto de celebração dos 30 anos de Tabanka Djaz, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. “Em 2022, quando realizámos o nosso concerto no Coliseu dos Recreios, celebração dos 30 anos dos Tabanka Djaz, convidamos os Memu Sunhu para fazer parte. A experiência foi boa, o público adorou, e criou-se uma boa relação entre nós. O Micas já conhecia Werton na Guiné, e agora os Memu Sunhu estão por cá há algum tempo. Esta iniciativa partiu deles. Em princípio, deveríamos tocar com eles no fim do ano na Guiné-Bissau, mas não foi possível. Então, disseram: 'Que tal fazermos um concerto aqui em Lisboa?' Aceitamos o desafio e estamos hoje aqui”, explicou Juvenal Cabral.


Fazer um trabalho e ter reconhecimento do público já é muita coisa, quanto mais ter reconhecimento de um grupo como os Tabanka Djaz. Antes de começarmos, já curtíamos suas músicas e nos espelhávamos neles. Agora, poder aprender com sua experiência é algo muito significativo para nós. Dividir o palco com eles é uma sensação indescritível, mas vamos aproveitar ao máximo para absorver seu conhecimento”, destacou Werton.


O Encontro de Gerações, teve como principal objetivo celebrar a cultura guineense. Os Tabanka Djaz pretendem deixar o seu legado dentro da cultura da Guiné-Bissau, não apenas com as músicas, mas também passando o testemunho direto para a nova geração. “No passado, tentamos fazer esta ligação com os nossos colegas de geração, mas não correu bem no seu todo. Esperamos que agora com a nova geração seja diferente. Estamos disponíveis para partilhar nossa experiência e ajudar eles a caminhar melhor”, explicou.



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Para os artistas, a junção dos grupos em palco, um com mais de 30 anos de existência e outro com três anos, representa o começo da tão almejada união entre os músicos guineenses, tanto a nova, quanto a velha guarda elevando a Guiné-Bissau e a sua musicalidade a um nível mais alto. “É bom termos consciência de que o mercado tem espaço para todos. Muitas vezes, vejo pessoas receosas, como quem já tem nome no mercado e teme que a nova geração lhe tire o espaço. Isso não existe. Tem espaço para todos. Nós, Tabanka Djaz, estamos próximos dos 40 anos de carreira. Talvez pudéssemos dizer que esses rapazes atualmente estão a tirar o nosso espaço, mas não é assim. Não apoiar os mais novos é matar a nossa cultura. O nosso papel como músicos é divulgar a cultura e sabemos que sozinhos não vamos conseguir fazer isso. Precisamos dos Memu Sunhu, de Justino Delgado, do As One e de todos para realmente levar a música da Guiné-Bissau ao mundo.


Werton concluiu com uma reflexão sobre a importância da identidade musical dos artistas da nova geração,  reforçando a necessidade de trabalhar mais culturalmente nas suas tradições. “Acredito que nós, da nova geração, não estamos a trabalhar culturalmente as nossas tradições e ritmos. Estamos mais focados em tendências, o que não é mau, mas estamos a deixar de lado os ritmos tradicionais da Guiné-Bissau. Nós, Memu Sunhu, estamos a pensar trabalhar num álbum que será 100% de estilos tradicionais, para resgatar essa identidade.”


Para terminar a conversa, Micas Cabral, voz dos Tabanka Djaz reafirmou que o concerto não é apenas uma celebração da música guineense, mas também um passar de testemunho para as próximas gerações. “Este concerto é como um passar de testemunho. Estamos próximos do fim da nossa carreira, e os Memu Sunhu estã apenas a começar. Desejamos a eles muito sucesso e que possam fazer um percurso ainda melhor do que o nosso”. O artista quis ainda deixar uma mensagem aos guineenses, em relação à situação política no país, apelando à paz. “Também aproveitamos para deixar uma mensagem de paz e harmonia para todos os guineenses, algo que tanto precisamos neste momento difícil. Precisamos viver uma paz mais serena, pois, nos últimos anos, temos enfrentado muitos desafios e sobressaltos. É fundamental que busquemos a tranquilidade e o entendimento mútuo entre os guineenses, para que possamos superar as adversidades e construir um futuro melhor para a nossa nação”.

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