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Se Tina fosse branca, certamente, não seria taxada de “grossa”

12 de Fevereiro de 2023
Se Tina fosse branca, certamente, não seria taxada de “grossa”

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Há pouco mais de 20 anos que o Brasil se deixa absorver pela vida roteirizada da vintena de brothers (nome dado aos participantes) que, a cada edição, entra na casa mais vigiada do país de Vera Cruz.

A atenção que o programa televisivo recebe não é apenas um movimento social nacional, como é também internacional, considerando a sua popularização nos PALOP e através das diferentes diásporas (brasileira e dos PALOP).

Não é do programa em si que vos quero falar, mas de Tina Calamba, agora ex-participante do Big Brother Brasil 2023, expulsa pela sua personalidade direta e assertiva.

Para alguns dos seus companheiros de casa, público brasileiro e redes sociais, Tina é tida como “grossa”, “arrogante” e “raivosa”. Essa narrativa criada à volta da personalidade da concorrente de origem angolana acabou por evidenciar-se numa rejeição de 54% do público que vota no “paredão” .

Tina viu-se assim fora da casa, na terceira semana do programa. Durante a semana de votação, foram vários os debates nas redes sociais que remetiam para a questão de que se Tina fosse branca ela não seria vista como grossa mas como uma mulher de carácter forte, direta e assertiva. O busílis da questão é que nessa perspetiva, por norma, cabem apenas mulheres brancas.
É matemática social.

Durante um live a comentadora do Big Brother Brasil, Aline Ramos, chegou a dizer que para Tina ser bem vista faltaram-lhe dois ingredientes: “ser branca e brasileira”.

Isto porque, ainda nas suas palavras, “as pessoas no Brasil se espantam quando alguém diz o que pensa e o que sente de verdade. Parece que ter educação é mentir sobre os próprios sentimentos e ela não faz isso. Por isso ela passou a ser interpretada como uma pessoa grossa”.

A fragilidade branca reflete-se na forma como classifica ou desclassifica o que os outros são ou deveriam ser, dentro das suas próprias narrativas umbiguistas.

Uns dizem que “os tempos estão evoluídos”, mas que evolução é essa em que a mulher preta não pode ser confiante nas suas escolhas, não pode ser dona de uma personalidade forte, dizer o que pensa – na base do respeito – sem que lhe seja colada uma etiqueta de angry black woman (mulher negra zangada)? Por que é ela constantemente associada ao estereótipo da mulher preta agressiva e arrogante?

Além dos motivos da expulsão, o que surpreendeu também os internautas foi o facto de Tina ter saído com mais rejeição de que o ex-colega Gabriel Fop, o segundo eliminado do BBB23 e que ao longo do jogo demonstrou condutas tóxicas, abusivas, gordofóbicas, machistas e racistas.

Apesar da rejeição do público brasileiro, a participante natural do Huambo também recebeu apoio e carinho dos internautas angolanos que, inclusive, saíram em sua defesa na batalha campal que se tornam as caixas de comentários das redes sociais. Muitos explicam que Tina não é agressiva ou grossa no seu jeito de ser e falar, ela é simplesmente angolana e este é o jeito dos angolanos ou dos africanos de ser que, em termos gerais, são pessoas frontais e que não camuflam o que sentem ou as suas opiniões.

A saída de Tina da casa do Big Brother não está em questão. Afinal de contas, é um jogo a contra-relógio. É a justificação para essa saída que não deve ser levada de ânimo leve e deve ser considerada pelas suas camadas de preconceito, esteriotipização e inviabilização da mulher negra em todos os espectros sociais.

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