To Be Honest, um movimento para transformar a indústria musical em Portugal

24 de Janeiro de 2025
To Be Honest

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A indústria musical portuguesa ganhou uma nova plataforma de transformação com a chegada da To Be Honest (tbh), uma marca criada para repensar a relação entre os criadores musicais e o setor cultural em Portugal. Fundada por Tomás Furtado Martins, a tbh é mais do que uma empresa de music publishing e gestão de direitos musicais; trata-se de um projeto que pretende transformar a forma como os artistas lidam com a sua arte e com os aspetos legais e comerciais da sua produção.


Tomás, que construiu uma carreira gerindo artistas como Slow J, Papillon e Charlie Beats, reconhece que os desafios enfrentados pelos criadores vão além da criatividade. “O que percebi ao longo da minha carreira é que os artistas se sentem, muitas vezes, perdidos numa teia de termos legais e processos burocráticos. Isto pode ser desmotivador e, pior, muito prejudicial para o seu processo criativo e para as suas carreiras, a curto e a longo prazo. A To Be Honest veio para mudar isso. Queremos simplificar. Queremos clarificar. Queremos criar confiança”, afirma.


O que diferencia a To Be Honest de outras empresas de gestão de direitos musicais é a sua abordagem estruturada e humanizada. O primeiro passo, explica Tomás, é a organização administrativa dos catálogos dos artistas: “Quando começamos a trabalhar com um artista, a primeira coisa que fazemos é ‘arrumar a casa’. Isso significa que toda a música que já foi lançada é catalogada e passada a pente fino. Garantimos que está tudo devidamente declarado nas entidades de gestão, que todos os colaboradores são considerados e que a informação relativa às obras e gravações está organizada.”



Este processo é crucial para evitar problemas futuros, especialmente em contextos como a sincronização de música com produções audiovisuais. “Para uma música ser usada num filme ou série, todos os autores têm que autorizar o uso da obra e os master owners têm que aprovar a gravação. Se houver um autor com 1% de autoria que não concordar, todo o projeto cai. Queremos evitar esse tipo de problemas, facilitando os processos para todos os envolvidos”, esclarece.


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Depois da organização administrativa, a tbh foca-se na promoção das obras dos artistas junto de marcas, produtoras e outros agentes criativos, mas sem perder de vista o respeito pela integridade criativa. “O nosso trabalho não é apenas encontrar oportunidades comerciais, mas também criar condições para que os artistas possam explorar o seu potencial criativo sem preocupações adicionais. Queremos que eles se concentrem naquilo que fazem melhor: criar música.”


Além disso, a tbh planeia organizar writing camps e promover colaborações entre artistas de diferentes géneros e origens. “A criatividade não acontece no vazio. É nos encontros, nos diálogos e nas trocas que surgem as melhores ideias. Queremos criar ambientes propícios a isso, garantindo que todos os direitos são respeitados e que ninguém se sente explorado.”


Tomás destaca ainda o impacto que a sincronização bem-sucedida pode ter na carreira de um artista. “Um exemplo claro é o da música ‘Running Up That Hill’ da Kate Bush, que voltou aos tops globais em 2022, décadas após o seu lançamento, graças à série Stranger Things. Esse tipo de associação pode dar uma nova vida às obras dos artistas, ligando-as a novos públicos.”


A missão: unir arte e justiça


A fundação da To Be Honest é fruto de uma visão que Tomás começou a desenvolver há anos, mas que ganhou força durante a pandemia. “Sempre me angustiou o quão codificada a lei está. Quando estava na faculdade de Direito, tinha a ideia de criar um projeto que ajudasse a traduzir a lei para todos. Essa preocupação acompanhou-me ao longo da vida, e à medida que fui lidando com artistas, percebi que a falta de conhecimento sobre direitos de autor, propriedade intelectual e contratos era um problema transversal.”


Foi a partir desta perceção que surgiu o canal ocriador.pt, um espaço onde Tomás começou a partilhar informações acessíveis para artistas. “Os feedbacks mostraram-me que as dificuldades dos criadores são comuns: falta de organização de catálogos, pouca compreensão dos seus direitos e oportunidades perdidas. Isso abriu-me os olhos para a necessidade de um projeto que fosse além de ajudar os meus amigos mais próximos; queria criar algo que impactasse o setor como um todo.”


Essa visão levou ao nascimento da tbh, com uma missão clara de aproximar a arte da justiça. “A To Be Honest é uma tentativa de fundir estes dois universos num novo ponto de equilíbrio. Se, por um lado, os artistas precisam de estar melhor protegidos, por outro lado, as entidades que os representam e as empresas que utilizam música nos seus negócios devem tratá-los com respeito e transparência. Este é o esforço que queremos liderar.”


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Tomás reconhece que a implementação da tbh não está isenta de desafios. Um dos principais é sensibilizar artistas e entidades para a importância da gestão de direitos. “Unir os artistas à volta de uma ideia é difícil, especialmente porque estamos a atuar numa área subdesenvolvida e incompreendida. Mas sinto que a minha motivação e ética têm ajudado a construir confiança. Eles sabem porque é que estou a fazer isto, conhecem o meu propósito e a minha visão para o futuro.”


Outro desafio é a falta de infraestrutura no setor. “Em Portugal, há uma ausência de profissões especializadas como music publishers e supervisores musicais. Isso perpetua uma precariedade que queremos ajudar a resolver. Enquanto não conseguimos expandir a nossa estrutura, tudo depende muito de mim e de serviços externos, mas temos tido o apoio de uma equipa incrível e de amigos e família que me ajudam a ultrapassar qualquer obstáculo.”

Para os próximos anos, Tomás traça um plano ambicioso, mas fundamentado. “Queremos expandir o nosso catálogo de forma sustentável, contribuir para a internacionalização da música portuguesa e pressionar as entidades de gestão coletiva a adaptarem-se à era digital. Tudo isto enquanto garantimos condições dignas de trabalho e formamos profissionais movidos por propósito.”


A tbh não pretende ser apenas uma empresa de music publishing. Com uma visão integrada que une estratégia, criatividade e justiça, Tomás espera que a marca inspire mudanças estruturais na indústria musical portuguesa e abra caminho para uma nova geração de artistas e profissionais que vejam a música não apenas como um produto, mas como uma forma de expressão com o poder de transformar vidas. “O que eles fazem com a música, eu quero fazer nesta área: inovar, transformar mentalidades e quebrar barreiras”, conclui.

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