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Vânia Gala é coreógrafa, investigadora e curadora, com interesses específicos em não performance, peças negras e pensamento coreográfico. É também curadora do projeto Greenhouse, que representou o pavilhão de Portugal na 60ª Bienal Internacional de Arte de Veneza. Pela primeira vez, três mulheres negras representaram Portugal no evento. Como coreógrafa, em 2019 foi galardoada com o prémio de Melhor Coreografia pelo Guia dos Teatros em Portugal, e está envolvida no grupo TAPRA e na Associação de Investigadores de Teatro e Performance.
Nesta entrevista, Vânia falou-nos sobre a sua trajetória no mundo da performance, tanto a nível nacional como internacional. Explicou como o seu trabalho incorpora a cultura africana e ideias filosóficas caribenhas, e brindou-nos com perspectivas delicadas e complexas sobre a expansão da arte e cultura africana na diáspora.
O trabalho investigativo de Vânia contempla vários artistas negros contemporâneos e aborda também o conceito de não performance, o direito de não ser compreendido e o conceito de opacidade, que está ligado ao ativismo da comunidade negra em Portugal.
Vânia explica que o conceito fundamental da sua pesquisa é o Jardim Crioulo, um projeto de coreografias alternativas que evoca a obra do poeta caribenho Édouard Glissant. Baseia-se na ideia de um jardim criado por africanos em plantações, onde cultivavam plantas com técnicas invertidas. O Jardim Crioulo traz ideias de resistência, fortificação e preservação das histórias afro-diaspóricas, sendo também um testemunho do poder da arte e da interligação de vários aspetos da vida.
Na 60ª Bienal Internacional de Arte, a curadora e investigadora apresenta, dentro do projeto Greenhouse, a peça coreográfica "O Passa Folhas", que incorpora o Jardim Crioulo. Faz referência à prática comum africana de passar folhas pelo corpo como forma de purificação, combinando elementos de resistência anticolonial e representação cultural. Frequentemente, Vânia discute e questiona os conceitos de geografia e fronteiras, reiterando que a relação entre África e a diáspora ultrapassa barreiras colonialmente impostas. Isto contribui positivamente para o enriquecimento das culturas afro-diaspóricas e gera questionamentos sobre origem e originalidade. "O Passa Folhas" também explora a materialidade do som através do uso da voz e de textos de Amílcar Cabral, abrindo processos de amplificação ou apagamento, e explorando como os seus textos inspiram os movimentos dos corpos.
A coreógrafa explica que, no jardim, as raízes subterrâneas interligam-se, misturam-se e ajudam-se; por isso, a sua peça coreográfica emula essa ideia, nos seus múltiplos apelos a uma rede de práticas e saberes distintos. Assim, "O Passa Folhas" abre a possibilidade de “diferença sem separabilidade”, ou seja, a possibilidade de coexistir sem se anular.
Durante a entrevista, Vânia enfatiza a dança como uma técnica económica que representa a modernidade e o futuro. Trazendo exemplos como o circo da capoeira, prática afro-brasileira que faz parte do Património Mundial da Humanidade, e o Kuduro, dança e música da cultura angolana com a qual trabalha há mais de 10 anos, Vânia argumenta que as formas de dança tradicional africana são um símbolo de libertação e ligação à terra.
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