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MIA 2024

Moçambicana Yara Costa vence Prince Claus Fund 

12 de Abril de 2024
Moçambicana Yara Costa vence Prince Claus Fund 

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A artista multidisciplinar Yara Costa venceu o prémio Prince Claus Fund- 2023, que reconhece anualmente 100 artistas e profissionais culturais inspiradores, cujo trabalho imagina novas realidades e inspira mudanças positivas.

A nomeação representa o reconhecimento das ações da artista que se cruzam entre a arte e o activismo, e que procuram “discutir e desconstruir os estereótipos da sociedade”.

“Acredito que esta nomeação é fruto dos questionamentos e intervenções artísticas que fazemos com o objetivo de gerar mudança social. Na minha opinião, é bastante urgente o facto do mundo estar a precisar deste tipo de arte. Por um lado, esta arte tem uma natureza de não se compadece com o que estamos a ver no mundo. Por outro lado, a mesma arte está disposta a romper com as paradigmas que são nocivos a sociedade”, explicou a artista à BANTUMEN.

Apaixonada por contar histórias sobre as vivências culturais, tal como se apresenta, Yara Costa também é formada em jornalismo e viveu em vários lugares do mundo, como Africa do Sul, Brasil, Cuba, Haiti, Estados Unidos, entre outros países.

Nakhodha e a Sereia, o projeto que ganhou o prémio, tem o objectivo de dialogar com a comunidade local com foco no desenvolvimento dentro da comunidade e no apoio às práticas tradicionais. Trata-se de uma instalação que permite uma experiência imersiva, multisensorial, que alerta para a forma como populações costeiras africanas, que durante largos séculos mantiveram uma relação harmoniosa com o mar, estão a ser afetadas pelas consequências do aquecimento global — um problema para o qual não contribuíram. 

A instalação, na Ilha de Moçambique, junta cânticos e contos de pescadores e mulheres do mar, em aúdio 360 graus, projeções vídeo mapping também em 360 graus, que mostram o conhecimento, a sabedoria e a ciência das populações costeiras, fortemente marcadas pela cultura Suaíli.

A experiência imersiva propōe a experiência do ciclo de iniciação de um capitão do Oceano Índico – o Nakhodha, um guardião da sabedoria do mar, e a sua história com uma uma criatura do mar – a sereia. O visitante dispõe de óculos de realidade virtual, que o lança numa assombrosa viagem, no tempo e no espaço, acompanhando as mudanças climáticas e a vida das populações locais, ao mesmo tempo que seguem a fascinante história de amor entre o Nakhodha (lugar que ocupam) e uma sereia (a força e a sabedoria da natureza).

Baseada na Ilha de Moçambique, Yara Costa preocupa-se em contribuir para que as histórias da comunidade onde reside não se limitem à oralidade e que sejam documentadas e partilhadas com um mundo. 

A Ilha de Moçambique, que foi considerada pela UNESCO Património Mundial da Humanidade, tem sido a fonte dos guiões de Yara que questionam, entre vários aspectos, as realidades de África pós-colonial onde emergem temas como genocídio cultural, património, racismo intelectual e supremacia branca.

Yara é também fundadora da YC Plataforma Criativa, que combina diferentes formas de narração de histórias, arte, multimédia e tecnologias imersivas sobre temas como o património cultural costeiro suaíli, identidade e genocídio cultural e ecologia, ao mesmo tempo que forma jovens em projetos artísticos e culturais.

 O documentário “Entre Eu e Deus” e o despertar do mundo para Yara Costa

Foi com “Entre Eu e Deus” com que ganhei, por um lado, um reconhecimento, uma notoriedade, em Moçambique. Acho que há vários motivos para isso . O meu próprio amadurecimento, já tinha escrito alguns filmes, já tinha participado em alguns mercados de cinema, em alguns festivais. Mas, nesta fase, eu própria já estava madura e mais clara em relação aos temas que me interessavam e a forma de como tratá-los. Por outro lado, é a minha primeira longa metragem.

O filme estreou-se quando começaram a ser veiculadas nos meios de comunicação as primeiras notícias sobre a situação dramática que se vive em Cabo Delegado. A trama despertou a atenção dos moçambicanos e do mundo sobre a guerra que está a acontecer naquele canto do país.

Resiliente, Yara não se define como ativista mas também não se imagina viver sem lutar por uma ou várias causas. Na Ilha de Moçambique, a artista tem feito diversas intervenções e mobilizações sociais  com vista à resiliência local e à auto-afirmação positiva, alertando para a necessidade urgente de se encontrarem soluções para alguns dos desafios mais significativos com que todos nos confrontamos atualmente com base nas novas tecnologias modernas que se misturam com a tecnologia das sociedades tradicionais africanas. Por isso, conclui parafraseando que “fazer cinema em Moçambique é um ato de insanidade necessário”. 

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